Dizem que tudo que é proibido é mais gostoso. No sexo, no velocÃmetro ou na declaração do imposto de renda. Somos aventureiros. Arriscamos. Burlamos. É do ser humano – mas no caso brasileiro, especificamente, vai além. É o jeitinho. Brasileiro, que é brasileiro, já nasce driblando o esquema. E a própria sorte, se não tiver plano de saúde. Aà é vambora e seja o que Deus quiser. Ou o que Ele não enxergar. Passamos mais a perna que dançarino em gafieira. Na hora de lucrar algum, melhor se nem fizer força. O proibido fica ainda mais gostoso. Para quem ganha, lógico. Quem perde? Chora. Ou chama a polÃcia.
Apreensões de drogas, de armas, de máquinas caça-nÃquel. Quer encontrar algo, basta proibir. Gostamos de desafios. E de leis. Quanto mais leis, mais as desafiamos. Há mais de meio século o jogo de azar é proibido no Brasil. E praticado por todos os lados. Alguns justificam, ser brasileiro é uma loteria, então nascemos apostando. E alto: sobreviver é acertar na cabeça. Do outro. Carente de esperanças e frustrado, o sujeito se entrega à sorte, passivo. Perdendo e acreditando.
Lei para frear a corrupção? Vão superfaturar os freios, óbvio.
Há quem, nestes casos, acuse o Estado pela impunidade. Sim, o dinheiro que não é arrecadado na clandestinidade seria dele. Mas é nosso, nós que o entregamos. E o mal é coletivo. Quem gosta de pagar multa pelo erro praticado? Quem gosta de ver filho preso, mesmo sabendo que ele cometeu um crime? O gosto amargo do proibido, também, quem sente somos nós. Na saúde, na segurança, na falta de moradia e por aà vai. Pagamos o prejuÃzo, mas bancamos sua derrota e exigimos seu socorro. E não há quem não sabia que toda ilegalidade é só mais uma indústria de corrupção.
A liberdade é assim, difÃcil. Mas dura que a ditadura. Às vezes antipática e limitada. Mantê-la é apostar forte na consciência, na educação, não só a de escola, mas a principal, de base. Formação. Sem deformação.
Convenhamos, aà já é outra loteria. Que não combina muito com o nosso jeitinho de jogar.