“Blade Runner: 2049”, sequência do clássico cult de 1982, chegou aos cinemas com a direção de Denis Villeneuve, cineasta bastante elogiado pela sua ficção científica anterior, “A Chegada” (2016). Ridley Scott, que dirigiu o primeiro filme, desta vez assinou a produção executiva.
Apesar dos 30 anos que separam as duas histórias, se pode concluir que a Terra continua um lugar ruim para se viver dentro do universo criado por esta narrativa. Os humanos que puderam fugiram para outros planetas, pré-explorados pelos replicantes, usados como escravos. Por aqui, ficaram andróides e uma escória, com raras exceções.
O espectador é situado nas atualizações já no início da trama: a empresa Tyrell, responsável pela produção dos replicantes, teve seu espólio adquirido por um novo empresário, Wallace (Jared Leto), criador de novos modelos programados para não serem tão “rebeldes” como os anteriores. E é nesta safra que está incluído o protagonista, o policial K (Ryan Gosling). Ele irá investigar um mistério que o fará procurar por Deckard (Harrison Ford). É então que o presente se cruzará com o passado.
As homenagens e a reverência que estão embutidas neste longa-metragem em relação ao primeiro filme são perceptíveis e devem agradar aos nostálgicos. Mas certamente esta sequência não tem o impacto do primeiro filme. Os replicantes de agora não geram a empatia dos anteriores, e o questionamento filosófico não é tão profundo. Mas são muitas as leituras possíveis dentro da proposta deste novo Blade Runner. Entre elas, o pessimismo em relação ao futuro do planeta. A chuva constante, os tons sombrios, a decadência dos ambientes e a falta de dignidade de muitos humanos que estão fora dos esquemas vigentes podem alertar sobre uma falência de recursos naturais. Em uma cena em um mercado, um objeto feito com um pedaço de madeira é considerado uma relíquia e vale uma fortuna. E, em um mundo onde todos os desejos podem ser saciados desde que se pague por eles, com companheiras artificiais por exemplo, salta aos sentidos o antagonismo entre o artificialismo pleno e a solidão extrema.