"Bacurau" faz uso da alegoria para refletir sobre o país

"Bacurau" faz uso da alegoria para refletir sobre o país

Mistura de gêneros é uma marca do filme, que traz referências a produções norte-americanas dos anos 70 e a cinematografia brasileira

Adriana Androvandi

Filme de abertura do festival de Gramado, "Bacurau", fora de competição, foi bem recebido pelo público e crítica

publicidade

O filme de abertura do festival de Gramado, "Bacurau", exibido na sexta-feira à noite, fora de competição, foi bem recebido pelo público e crítica. A produção era aguardada, visto que o filme saiu do Festival de Cannes com o prêmio do Júri. Os filmes anteriores do diretor Kleber Mendonça Filho, como "Som ao Redor" e "Aquarius" ganharam diversos prêmios tanto no Brasil como no exterior. "Bacarau" novamente traz uma história crítica, com muitas camadas de significação. Desta vez em codireção com Juliano Dornelles, a narrativa se passa em uma localidade do sertão pernambucano, daqui a anos futuros.

Bacarau é um pássaro que dá nome à localidade, um distrito da cidade de Serra Verde. O povoado vive à míngua, pois a água foi cortada. Há uma clara discordância entre os moradores do local e o prefeito, que volta e meia chega com mantimentos, mas a generosidade logo se mostra falsa: são alimentos com prazo de validade vencido e doação de livros que contém listas telefônicas no montante, largados de um caminhão na frente da escola sem nenhum cuidado. Esse ambiente nos mostra uma comunidade que se organiza por conta própria, pois não pode contar com o governo constituído.

Esse quadro já carrega em si uma crítica social, mas o pior ainda está por vir. O lugar começa a ser espionado por um objeto, que num primeiro momento deixa o espectador em dúvida se é um disco voador ou um drone. E forasteiros aparecem de forma ameaçadora. Bacurau precisará se defender.

O olhar do filme começa acompanhando o retorno de Teresa (Barbara Colen) a Bacurau para um enterro. Lá ela encontra as pessoas da comunidade, entre elas Domingas (Sonia Braga), a profissional de saúde do local. A mistura de gêneros é uma marca deste filme, que traz referências a produções norte-americanas dos anos 70 e a cinematografia brasileira, como "Brasil Ano 2000", de Walter Lima Jr (1969). "A gente sempre teve vontade de fazer um filme assim, com fantasia e surrealismo", explicou o diretor Dornelles.

Essa distopia traz originalidade e selvageria. Uma das sequências iniciais, certamente é daquelas que deve ficar na memória do cinema brasileiro: enquanto está num caminhão para retornar à cidade natal, Teresa vê caixões vazios ao longo da estrada. Os caixões caíram de um caminhão e acabam sendo atropelados por outro veículo. Este cena já dá uma tônica do que se pode esperar a seguir.

Durante a entrevista coletiva no Festival de Gramado, Kleber Mendonça Filho repetidamente disse que não queria "explicar" o filme, pois prefere que cada espectador faça sua leitura. Mas, bastante questionado, por fim resumiu um dos pontos do trabalho: "o nazifascismo foi enterrado, mas quando a gente vê está brotando de novo, como uma planta", alertou. E a união comunitária é uma das formas de resistir.

Mariele

Uma das personagens do povoado que morre no filme se chama Mariele. Isso levantou a questão do caso real, o assassinato da vereadora Marielle Franco no ano passado. "Os que morreram têm nome. E colocamos o nome da personagem para lembrar", disse Dornelles. Em seguida, Sônia Braga (que assumiu os cabelos brancos) fez questão de ressaltar: "dedico esta personagem a Mariele. E quero saber quem matou Mariele?".

A data de estreia de "Bacurau" no Brasil é 29 de agosto.


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta sexta-feira, dia 19 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895