Bares e baladas de Porto Alegre passam por grande desafio durante pandemia

Bares e baladas de Porto Alegre passam por grande desafio durante pandemia

Espaços procuram se reinventar para diminuir prejuízos

Carlos Correa e Caroline Grüne

Bar Ocidente teve que paralisar atividades por conta da pandemia

publicidade

A frase assusta: “Balada só com vacina”. Dita por Fiapo Barth, proprietário do Bar Ocidente, porém, ela carrega doses graúdas de credibilidade. Para ele, mesmo que abertura seja permitida pelas autoridades e outras casas optem por esse caminho, uma pista lotada no casarão da João Telles é um risco alto demais para ser corrido, depois que a música , cinemas, teatros e outras formas de cultura foram afetados pela pandemia.

A ideia é compartilhada por frequentadores de eventos: se sair de casa em meio a pandemia já gera receio, uma noite em um local fechado está fora das perspectivas possíveis para muita gente. “Meu maior medo seria pegar a doença de algum jovem assintomático e passar para os meus pais”, diz Alice Gomes, de 26 anos.

Se as festas estavam indo bem até o fechamento repentino, tão incerta quanto a data da reabertura das portas é o retorno do público. A impressão é de que, após meses de confinamento, inseguranças, uso de máscaras e problemas financeiros, o lazer na rua está longe de ser uma prioridade.

A maioria dos produtores de eventos aposta em um retorno paulatino, à medida que os clientes voltarem a se sentir confortáveis com as aglomerações. “Aquela necessidade que as pessoas tinham de se reunir vai ser diferente”, diz Fiapo. Ao que tudo indica, serão novos tempos. O que reina agora é a incerteza e a esperança de uma solução científica, onde a vacina é apontada como fator central para o retorno.

O problema é que a espera por uma medicação efetiva deve demorar. E, se para o público isso pode ser angustiante, para quem tem a festa como única fonte de renda, ficar parado sem previsão é praticamente impossível. São produtores de eventos, DJs, equipes de segurança, limpeza e outros serviços terceirizados que dependem da pista de dança mesmo quando a luz acende.

A DJ Mariana Krüger viu seu lucro se reduzir a zero. A fonte de renda têm sido apenas o dinheiro guardado, enquanto o auxílio emergencial segue em análise. Passado algum tempo, "caiu a ficha” e neste ano Mariana já não vê retorno neste mercado. Entre as soluções possíveis, estão encontrar novos métodos de trabalho na área criativa e, caso necessário, recorrer a um empréstimo. Os casos se repetem.

Na Equipa, empresa que presta serviços de bar, atendimento e garçons para baladas em Porto Alegre, como Wood’s e Provocateur, os funcionários foram demitidos - assim, podem pelo menos ter acesso aos benefícios do governo como fundo de garantia, afirma um dos sócios.

Em um meio em que boa parte dos trabalhadores são freelancers, sem trabalho não há renda. Muitos terceirizados de limpeza e segurança, por exemplo, dependem hoje de doações. Quem pode, fomenta campanhas e faz doações, enquanto trabalhadores torcem para que o retorno seja o mais rápido possível.

“Na nossa visão, o importante é voltar” diz Marcos Paulo Magalhães, proprietário de casas de festa como a Provocateur, em Porto Alegre, e Oito Atlântida, no litoral. A ideia é um plano de retomada gradual para o setor, já que, de acordo com ele, neste momento o que o governo do Estado do Rio Grande do Sul está fazendo não é um combate ao vírus - “só estamos deixando todo mundo em casa”.

O empresário também é responsável pelas festas que acontecem simultaneamente com o Festival de Cinema, marcado para o final do mês de agosto, em Gramado. A Mostra e o Festival já foram confirmadas pela Prefeitura da cidade, que apoia a realização dos eventos - mas estes dependem do aval do governador. Magalhães afirma que, caso a realização seja autorizada, fará os eventos.

Risco de contágio

Mas como reduzir o risco de contágio em uma balada? O plano de retomada tem algumas sugestões. Entre as ideias, estão o uso de Equipamentos de Proteção Individual por quem trabalha no local, como barmans e atendentes, redução da lotação máxima dos espaços, distribuição de álcool gel e medição da temperatura do cliente antes de entrar no local.

Caso haja risco de febre, seria solicitado que a pessoa não entre. “As medidas não vão inibir, mas vão monitorar”, acrescenta Magalhães. Já o uso de máscaras, reforçado no dia a dia como ferramenta de proteção, parece uma medida inviável em ambientes onde, um dos principais atrativos é o consumo de bebidas.

Uma parte do público cogita o acessório, mas quem gerencia esses espaços já não vê o método funcionar. Esperar um pouco mais para a reabertura parece mais factível que estimular o uso de máscaras.

Delivery e take away

Se para as baladas, que cobram ingresso, o uso de máscaras já inibe o lucro, a situação fica ainda mais complicada para os bares. Uma boa parte deles, que trabalham também com comidas, têm investido com mais força nas opções de delivery e takeaway - o “pegar para levar”.

Mas as margens de lucro decaíram. Sem os clientes presentes e com porcentagens significativas retiradas pelos serviços de entrega, manter os funcionários e as portas abertas fica mais difícil a cada dia. Leônidas Rübenich, do bar Dirty Old Man, na Cidade Baixa, reforça ainda que o bairro boêmio já estava sofrendo com a queda de público. Portanto, “é raro encontrar alguém que tivesse reservas para essa calamidade”. São dívidas batendo nas portas fechadas pela pandemia. “A situação nos bastidores está bem feia e permanecerá feia por muito tempo até para quem conseguir não falir”, completa.

O primeiro passo para a maioria dos bares é lidar com as perdas. O Pinacoteca, localizado na Rua da República, vendeu todo o seu estoque a preço de custo. Com produtos perecíveis e validades curtas, mitigar as perdas foi a solução viável no curto prazo. Agora, o foco, assim como de outros estabelecimentos, é fortalecer a marca nas redes sociais e investir nas entregas.

Para driblar as altas taxas pelos aplicativos, que beiram os 30%, bares como o London Pub buscam fazer entregas de maneira particular. Mariana Zimmermann, do Pinacoteca, reforça que há um desamparo por parte do governo para auxiliar os estabelecimentos a passarem por esse momento de paralisação, por exemplo, regulando as taxas.

“O setor de entretenimento será o mais afetado da crise, com uma quebradeira generalizada, sobretudo por falta de política públicas para o setor”, afirma. Serviços de alimentação como bares e restaurantes, estão classificados como "alto risco de criticidade de empregos em relação à vulnerabilidade econômica", de acordo com levantamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do governo do estado de São Paulo. O documento estima 3 a 4 meses de paralisia e 6 a 8 meses de recuperação progressiva. No Rio Grande do Sul, ainda não há planos que contemplem essas áreas.

A criatividade está sendo uma forma de buscar alternativas. O Josephynas, bar e café localizado no Bom Fim, lançou uma vaquinha para quitar dívidas atrasadas. Entre as recompensas, têm até a opção de ter uma garrafa de gin ou whisky, com o nome do cliente, disponível quando ele visitar o bar - quando reabrir.

Por enquanto, a vaquinha arrecadou um pouco mais de 30% da meta.  Se alguns bares veem novos métodos como possibilidades, bares tradicionais estão sendo forçados a se adaptar para que o fechar de portas não seja definitivo. No Divina Comédia, na Rua da República, o dono Marcelo Cabral Correa, contabiliza que os dois meses fechados representam R$ 150 mil perdidos.

Desafio de manter equipe

Manter o pessoal é um grande desafio. Proprietários apontam que, nessa área de atuação, o funcionário parado já perde parte de sua renda: o que mais dá dinheiro é a hora trabalhada, adicional noturno e gorjetas. Alguns bares se esforçam para manter os funcionários. “Eu tava num momento bom que não tinha ninguém com a carteira definitiva”, diz Correa. Pelo menos por enquanto, os funcionários foram dispensados.

Se nas baladas é difícil manter o controle do distanciamento social, nos bares com lugares demarcados por meses, a situação é mais passível de controle. Trabalhar com lotação máxima de 30% ou 40% do comum dos estabelecimentos se mostra uma alternativa a ser adotada tão logo seja possível, para as autoridades, reabrir as portas.

Proprietários acreditam que as pessoas vão reduzir os gastos com entretenimento. Aumentar os preços dos produtos, então, está fora de foco neste momento. É praticamente unânime: mesmo com lucro menor, o foco é voltar a receber o público e atendê-lo com toda a atenção possível.


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta sexta-feira, dia 19 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895