Cannes serve palco para protesto por aborto legal na Argentina
Ativistas aproveitaram exibição do documentário "Que sea ley", de Juan Solanas, para realizar protesto
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Um grupo de ativistas a favor do aborto legal na Argentina realizou neste sábado um protesto no tapete vermelho do Festival de Cannes, aproveitando a exibição do documentário "Que sea ley" (Que Seja Lei, em tradução livre), de Juan Solanas. Agitando lenços verdes, marca característica do movimento, a equipe do filme e dezenas de ativistas argentinas pediam pelo direito a um "aborto legal seguro e gratuito" no país, onde esta prática só é permitida em casos específicos.
Antes da exibição do documentário de Solanas, que apresenta vários depoimentos de mulheres a favor do aborto, as manifestantes exibiam um cartaz em memória de Ana María Acevedo, falecida há 12 anos e um caso emblemático da campanha. .
O cineasta Pedro Almodóvar e a atriz Penélope Cruz mostraram apoio à causa exibindo um lenço verde poucas horas antes do protesto. Na sala de projeção onde o filme foi exibido, foram colocados lenços verdes em todos os assentos, conforme constatou uma jornalista da AFP. Em 2017 e 2018, Buenos Aires foi palco de grandes manifestações a favor da legalização do aborto. O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados, mas não passou pelo Senado.
Ana María Acevedo, um caso, um símbolo da campanha
Em setembro de 2006, a jovem mãe de três crianças foi diagnosticada com câncer de mandíbula e, um mês depois, descobriu que estava grávida. Ana María, com 3 a 4 semanas de gravidez, foi informada de que não poderia fazer radioterapia pois poderia prejudicar o feto. Ela e sua mãe entraram então com um pedido para que sua gravidez fosse interrompida primeiro ao hospital, que alegou a necessidade da ordem de um juíz para que o aborto pudesse ser feito. Um pedido foi feito novamente, agora para a justiça, mas também sem sucesso.
Em abril de 2007, com 22 semanas de gestação, a jovem decidiu pela cesária e, conforme o Dr. Emilio Schinner explicou no arquivo da clínica, o procedimento seria feito pois a paciente estava "pre-morten", ou seja, com a respiração fraca e falha nos órgãos. O bebê morreu 24 horas depois. Em menos de um mês, Ana María também veio a óbito.
Após sua morte, a mãe e o pai da jovem decidiram pedir aos procuradores das Mulheres Multisetoriais para representá-los no caso que já havia sido denunciado criminalmente. O Tribunal, pela primeira vez no país, decidiu condenar os médicos envolvidos pelos crimes de danos culposos e violação dos deveres de um funcionário público, estabelecendo que não praticar um aborto legal pode constituir um crime.