Em ano de crise, escolas criam alternativas para manter o brilho no Porto Seco

Em ano de crise, escolas criam alternativas para manter o brilho no Porto Seco

“A verdade é que a dificuldade nos encheu de ânimo”, diz presidente da Tinga

Júlia Endress

Penas, plumas e alguns tecidos das fantasias tiveram que ser substituídos em 2016

publicidade

Se o ritmo e a disposição influenciam a evolução de uma escola de samba, o trabalho de um ano inteiro também está estampado em cada detalhe assistido por milhares na avenida. No entanto, em um período marcado pela crise econômica, o desafio dos barracões no decorrer do último ano foi irreversível: era preciso dar conta de tudo, do enredo até a maior alegoria, com recursos mais escassos.

Para 2016, portanto, as agremiações de Porto Alegre precisaram repensar alguns conceitos e apostar em alternativas mais viáveis para manter o brilho no Porto Seco. A adaptação passa, principalmente, pela reciclagem de fantasias – medida já recorrente entre entidades do país inteiro – e na busca de materiais mais baratos, conforme relatam representantes da Estado Maior da Restinga, Bambas da Orgia e Imperadores do Samba – três últimas vencedoras do carnaval da Capital.

“Não dá para esconder, o recurso é muito pequeno para o tamanho do carnaval que fazemos. E tem toda uma crise mundial que afetou diversos produtos que utilizamos”, comenta Érico Leoti, diretor da Imperadores. O fato fez com que a atual bicampeã do carnaval porto-alegrense focasse basicamente na reutilização e na reciclagem para compor as 22 alas que vão para a avenida este ano.

Quem também investiu mais no reaproveitamento foi a Bambas da Orgia. Segundo o presidente Cleomar Rosa, a providência foi tomada considerando que o preço dos produtos essenciais para montar o desfile, desde a madeira, o ferro e a cola até tecidos e pedras que enfeitam as roupas de cada integrante, aumentaram muito em 2015 (chegando a triplicar, em alguns casos).

Em função disso, Robson Dias, o Preto, presidente da Estado Maior da Restinga, reforça a ideia de que a tão falada crise atingiu o carnaval em diversas esferas, sendo responsável, inclusive, por diminuir o número de apoios e patrocínios que as entidades geralmente recebem. Mas ele faz questão de amenizar a situação, ressaltando que há inúmeras alternativas criativas que possibilitam manter o padrão dos desfiles.

Partindo do zero

Diferentemente das duas adversárias, a Tinga não conseguiu reutilizar muitos materiais e teve que partir do zero para estruturar seu carnaval. “A questão é o enredo. Tem os que propiciam reaproveitar, mas tem outros que não. No nosso caso, não teve como fazer isso porque o enredo do ano passado era muito diferente do deste ano, com elementos completamente distintos”, afirma o presidente da escola que este ano invade a avenida homenageando a cultura negra.

Sem perder a motivação para buscar mais um título, a agremiação buscou materiais com preços que cabiam melhor dentro de seu orçamento. O mesmo aconteceu com a Imperadores, que trocou alguns tecidos mais caros por outros como TNT para alguns adereços. “Por mais que a qualidade visual possa ser prejudicada em alguns momentos, continua sendo um desfile impactante”, garante Leoti, prometendo surpreender a torcida.

Outra saída, encontrada pela Bambas da Orgia, foi substituir as onerosas penas e plumas naturais pelas artificiais. O presidente destaca o papel do carnavalesco – neste caso, um profissional do Rio de Janeiro contratado pela escola - que se tornou ainda mais importante neste ano de dificuldades financeiras. “Ele focou em alternativas mesmo. E ele tem uma capacidade incrível de transformar”, comemora Rosa.

“Por tudo isso, hoje o carnaval tem que se adaptar, principalmente ao reciclado”, continua, fazendo só uma ressalva: “é preciso trabalhar com empenho para que tudo fique bonito, diferente e parecendo novo, porque isso é o mínimo que as pessoas esperam ver na avenida”, acredita.

Enquanto faz uma balança entre os problemas enfrentados e a felicidade de estar prestes a entrar mais uma vez na avenida, Preto pondera e finaliza mostrando que o carnaval sobrevive e se mantém, mesmo com todas as adversidades, com a força das escolas; “a verdade é que a crise nos encheu de ânimo”.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta terça-feira, dia 23 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895