Crítico de teatro Sábato Magaldi morre aos 89 anos

Crítico de teatro Sábato Magaldi morre aos 89 anos

Autor foi peça chave na leitura de Nelson Rodrigues

AE

Autor foi peça chave na leitura de Nelson Rodrigues

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Um dos maiores críticos de teatro brasileiro, Sábato Magaldi morreu nessa quinta-feira, por volta das 23h, aos 89 anos, em São Paulo. De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, o escritor estava internado desde sábado no hospital paulista Samaritano, diagnosticado com choque séptico e comprometimento pulmonar.

Magaldi era membro da Academia Brasileira de Letras, ensaísta, crítico e autor livros que já se tornaram referência na área teatral. Nascido em 9 de maio de 1927, mineiro de Belo Horizonte, o autor tornou-se bacharel em Direito. O velório será realizado nesta sexta-feira, das 12h às 15h, no Crematório Embu das Artes, em São Paulo.

Peça chave na leitura de Nelson Rodrigues


Os estudos de Sábato Magaldi sobre a obra de Nelson Rodrigues são incontornáveis para quem tem - e também para quem não tem - planos de encenar peças do autor. É possível arriscar que todas as recentes montagens dos textos de Rodrigues foram guiadas pela divisão formal, em categorias, estabelecida por Magaldi, autor de um ensaio seminal sobre a presença do mito na dramaturgia do autor pernambucano (carioca por adoção).

Em seu livro Teatro da Obsessão, Magaldi chama a atenção, por exemplo, para a antológica montagem de Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno (1981) por Antunes Filho e o Grupo Macunaíma, feita sob o impacto da leitura do historiador e mitólogo romeno Mircea Eliade: a emergência de uma nova vida após o caos, o aniquilamento, a destruição do núcleo familiar. Nunca antes, na história do teatro brasileiro, Nelson Rodrigues fora visto dessa maneira, sendo quase sempre reduzido a um dramaturgo vulgar, sem vínculos com a tradição teatral erudita.

Pois é justamente a análise de Os Sete Gatinhos em Teatro da Obsessão que estabelece uma conexão inaudita entre Nelson Rodrigues e Édipo Rei de Sófocles, ao destacar o sacrifício do patriarca - ritualístico, em sua essência - para que a unidade familiar seja preservada. Classificada entre as "tragédias cariocas" do autor por Magaldi, Os Sete Gatinhos era tratada antes de Magaldi como um manual de perversões sexuais. Eram, enfim, desprezados a dimensão psicológica e o conteúdo mítico da peça.

Magaldi dividia o teatro de Nelson Rodrigues em três categorias: peças míticas, psicológicas e tragédias cariocas. Ao prefaciar o Teatro Completo de Nelson Rodrigues, o crítico explica que adotou o critério cronológico para facilitar ao leitor a tarefa de entender os procedimentos dramáticos do autor, mostrando como a irrupção no território mítico com Álbum de Família (1945) levou Rodrigues a evocar a tragédia grega e mergulhar no inconsciente primitivo.

Dois anos antes de Álbum de Família, a estreia da polêmica Vestido de Noiva (1943), sob a direção de Ziembinski, definiria o marco zero das "peças psicológicas" do autor, segundo a divisão formal de Magaldi. Nela, a fronteira entre a memória e alucinação é tênue, como observa o crítico, o que deu ao dramaturgo a oportunidade de mostrar seu desprezo - ele que era jornalista - pela realidade.

Ao agrupar as tragédias cariocas, talvez o núcleo com as peças mais populares de Rodrigues (A Falecida, Boca de Ouro, O Beijo no Asfalto, Toda Nudez Será Castigada, entre outras), Magaldi escreveu o ensaio definitivo sobre ele, equiparando-o em ao teatro de Shakespeare.

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