"Desobediência" foge dos clichês e traz esperança para romances LGBTQ+

"Desobediência" foge dos clichês e traz esperança para romances LGBTQ+

Longa protagonizado por Rachel Weisz e Rachel McAdams estreia nesta quinta-feira nos cinemas

Lou Cardoso

Rachel McAdams e Rachel Weisz protagonizam "Desobediência"

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Sexualidade e religião nunca foram temas fáceis para trabalhar juntos no cinema. Mas com muito talento, é possível contar uma história envolvendo os dois assuntos respeitosamente. Graças ao diretor chileno Sebastián Lelio – ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano com "Uma Mulher Fantástica" – o filme "Desobediência" é um exemplo de como é possível fugir dos clichês e transmitir esperança em romances LGBTQ+. Adaptado do livro de Naomi Alderman, a produção estreia nesta quinta-feira nos cinemas.

Após ser expulsa de casa na juventude, a britânica Ronit (Rachel Weisz) é uma fotógrafa bem sucedida em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Inesperadamente, ela recebe a notícia da morte do seu pai, Rav Krushka (Anton Lesser), um rabino altamente respeitado dentro da comunidade judaica ortodoxa. Atordoada, Ronit volta rapidamente para cidade natal e causa desconforto entre familiares e amigos que apostavam que ela nunca retornaria por causa de suas desavenças com o pai. Lá, ela reencontra Esti Kuperman (Rachel McAdams) sua antiga paixão da adolescência que está casada com o próprio primo, Dovid Kuperman (Alessandro Nivola), potencial sucessor do cargo de Rav na sinagoga. O reencontro traz à tona os sentimentos que Esti e Ronit guardavam no passado e que provocaram a trágica separação de ambas. A partir daí, uma série de conflitos emocionais colocam o casal, especialmente Esti, em discussão sobre as escolhas de suas vidas.

O filme é simples, sombrio e não julga as escolhas de cada personagem. A bissexualidade de Ronit existe, mas nem por um segundo é estereotipada. Assim como seu estilo de vida que foge dos costumes tradicionais dos seus conhecidos. A rotina e os ensinamentos dos judeus ortodoxos também estão lá, mas nem por um momento o filme quer atacar este ponto conservador. Entretanto, ele quer trazer o debate sobre o livre arbítrio dentro de uma comunidade limitada à sua própria visão. Ronit escolheu não seguir as tradições da sua família e foi embora. Abrindo mão da comodidade, mas ganhou a liberdade de fazer as suas próprias regras. Já Esti não teve tanta coragem de também fazer a sua própria história e ficou submetida aos que os outros achavam que era melhor para ela. E quis o destino que o casal se reencontrasse para que a vida de cada uma pudesse ter um novo sentido.

Rachel Weisz e Rachel McAdams possuem a delicadeza e a precisão ao viverem estas personagens tão opostas. Weisz é segura no papel e a sua personagem não demonstra nenhum pouco do arrependimento de ter ido embora, mas sofre por não ter se resolvido com o pai. A atriz é sutil, mas ao mesmo tempo consegue transparecer a melancolia da história. Já Adams surpreende pela dramaticidade que sua personagem vive. Aparentemente forçada a casar com o primo, Esti aceitou o seu destino para cumprir o papel que lhe foi determinado segundo manda a religião. Mas com a inspiração da volta do seu primeiro amor, ela vai desabrochando e encontrando o seu próprio caminho. O terceiro destaque do longa fica para Alessandro Nivola que apresenta um ótimo discurso nos seus minutos finais.

Mais do que um romance LGBTQ+

Representatividade já virou uma especialidade de Sebastián Lelio. Se em "Uma Mulher Fantástica", ele soube retratar delicadamente a dor do luto de uma mulher transexual, agora em "Desobediência", o diretor abre o espaço para as dificuldades deste romance lésbico dentro de uma comunidade religiosa. A narrativa é conduzida pelo casal e Lelio sabe equilibrar o ponto de vista de cada uma, além de inserir os famosos burburinhos alheios, e incomodativos, em volta. O diretor foge de armadilhas sobre casais lésbicos, não transforma uma cena de sexo em erotismo barato e dá novos propósitos para cada personagem. Desobediência poderia ser facilmente definido como um romance LGBTQ+, mas ele consegue ir além e ser um grito de esperança e independência feminina.




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