Documentário Meu Chão revela os clubes sociais negros gaúchos

Documentário Meu Chão revela os clubes sociais negros gaúchos

O filme reverbera o mosaico étnico do sul do Brasil, onde o fenômeno dos clubes sociais negros teve maior expressão

Correio do Povo

Com direção de Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, ao abrigo da produtora TranseLab, Meu Chão é uma narrativa documental de 46 minutos.

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O estereótipo do Rio Grande do Sul, como um estado de matriz acentuadamente branca, ganha uma nova interpretação crítica com o lançamento on-line do filme Meu Chão – clubes negros do Rio Grande do Sul. O filme foi lançado ao público no YouTube em 25 de julho, dia da mulher negra latino-americana e caribenha. Em setembro, também poderá ser visto em janela nacional de TV, pelo Canal Futura.

Com direção de Jorge de Jesus e Geslline Giovana Braga, ao abrigo da produtora TranseLab, Meu Chão é uma narrativa documental de 46 minutos, com múltiplas vozes reveladoras da presença e da resistência dos clubes sociais negros gaúchos. 

Realizado entre janeiro e julho de 2021, na safra gaúcha dos editais da Lei Aldir Blanc (Edital SEDAC nº 09/2020 - Produções Culturais e Artísticas), o documentário cumpriu um itinerário por regiões do Estado que tiveram seus horizontes simbólicos fortemente demarcados pelos “clubes negros”, expressão presente na memória e na fala de entrevistados do filme.

Devido à crise da Covid-19, a abordagem estética da produção oscilou entre registros presenciais e on-line nas cidades de Pelotas, Jaguarão, Porto Alegre, Caxias do Sul, Bagé, Uruguaiana e Santa Maria.

Meu Chão reverbera o mosaico étnico do sul do Brasil, onde o fenômeno dos clubes sociais negros teve maior expressão. No Rio Grande do Sul, a existência de 57 clubes negros – alguns centenários – evidencia a capacidade de organização para o auxílio mútuo e convivência entre mulheres e homens negros diante da ausência do Estado, no período entre a abolição e as primeiras décadas do século XX.

No documentário, os saberes popular e acadêmico insinuam a mesma pista: os clubes, o carnaval, a imprensa negra, o futebol, os bailes e, por fim, o surgimento da data do 20 de novembro em Porto Alegre nos anos 1970, como Dia da Consciência Negra, constituem camadas da mesma luta antirracista no Rio Grande do Sul, protagonizada pelas comunidades negras.

A presença destes lugares, “quilombos urbanos” como diz Mãe Nice de Xangô, de Jaguarão, e o jornalista Deivisson Campos, de Porto Alegre, expõem a segregação racial não estipulada em leis, como em outros países, mas aqui vivenciada na prática até a criminalização do racismo pela Constituição de 1988.

Em Meu Chão, os entrevistados remetem às lembranças de quando “os negros não podiam entrar no clube dos brancos”. Nesse contexto, o movimento clubista foi fundamental para forjar questões de cidadania e identidade dos negros, em traços impossíveis de se construir na escola ou em outros espaços de sociabilidade até que as políticas afirmativas se tornassem leis e obrigação do Estado.

Além dos registros das pessoas e dos sítios urbanos dos clubes negros, o documentário traz, como camada estética, intervenções da artista negra Mitti Mendonça sobre fotografias e acervos visuais pesquisados, em técnicas de bordado, costura, corte e colagem de fotos e ilustrações.


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