Dois jovens diretores brasileiros falam em "sair do armário" em "Beira-Mar"

Dois jovens diretores brasileiros falam em "sair do armário" em "Beira-Mar"

Filmado no sul do Brasil, longa estreou na Mostra Fórum do Festival de Berlim

AFP

Diretores idealizaram um filme no qual os adolescentes se sentem seguros de assumir sua sexualidade

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Os diretores brasileiros Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, que receberam muitos aplausos na Berlinale com seu primeiro longa-metragem, "Beira-Mar", contam a aventura de filmar o momento em que "um gay sai do armário" vivido por dois adolescentes, o que, segundo eles, é um pouco de sua própria história.

Marcio, que tem 30 anos, e Filipe, de 26, contaram os detalhes das filmagens há três anos no sul do Brasil. O filme estreou na Mostra Fórum do Festival de Berlim, dedicada à descoberta de novos talentos.

Como nasceu a ideia do filme?
Marcio: Para nós, "Beira-Mar" é um filme sobre o caminho para a vida adulta e a necessidade de tomar distância dos laços com os pais para começar a ter suas próprias decisões. Nos conhecemos como pouco mais de 20 anos no curso de cinema da PUC de Porto Alegre. Compartilhávamos as mesmas recordações, os mesmos desejos, e decidimos pegar as minhas memórias e as do Filipe e construir os dois personagens. O desafio do projeto foi confrontar estas recordações. Armamos a trama a partir de uma mescla das duas experiências.

Como filmar a evolução psicológica do "coming out" ("sair do armário" ou o ato de assumir que é gay)?
Marcio: O "sair do armário" é algo complexo e era importante mostrá-lo em um filme. Queríamos um filme no qual os adolescentes se sentem seguros de assumir sua sexualidade cercados de amigos que os apoiam, sem drama. Usamos o mar como metáfora. Estes dois garotos estão em uma casa de vidro cheia de janelas. Estão diante do mar, mas o evitam durante quase todo o filme, apesar do mar os chamar. Na casa estão expostos e começam a se conhecer melhor. Como todo mundo, sabem que mais cedo ou mais tarde deverão abandonar o conforto da casa e enfrentar a vida que têm pela frente".
Filipe: Sim, como o nascimento de uma nova vida...
Marcio: ...e a uma nova etapa. Uma etapa que pode ser mais fria e dolorosa, mas que é mais fácil de enfrentar quando você tem alguém ao seu lado. "Beira-Mar" é também um filme sobre a amizade...
Filipe: ...sobre a amizade e como ajuda a aceitar este 'coming out'. O fato de que o personagem diga 'tenho um namorado' e que o outro responda 'tudo bem, não tenho problema com isto'".  
Marcio: Desejávamos personagens os mais jovens possíveis. Éramos suficientemente maduros para fazer nosso primeiro longa-metragem, mas continuávamos com uma idade bastante próxima dos personagens. Queríamos fazer um filme que falasse o mais diretamente possível aos jovens. Se tivéssemos feito este filme dentro de cinco ou 10 anos, provavelmente teríamos um olhar distinto, talvez mais idealista ou melancólico, e não queríamos isto. Tudo o que está no filme é muito honesto sobre a forma como éramos com 18 anos.

Muitos filmes mostram os adolescentes de uma maneira idealizada. Quais os critérios utilizados para a escolha do elenco? 
Marcio: Nós fomos atores antes de virarmos diretores, por esta razão a atuação era o mais importante do filme. Mateus Almada (Martin) havia atuado em dois curtas, mas não tinha treinamento profissional, enquanto Maurício José Barcellos (Tomaz) nunca havia atuado. Nós o encontramos através do Facebook. Ensaiamos durante sete meses porque desejávamos que sentissem confiança. Sua intimidade no filme vai sendo construída pela forma como se olham, é um clima que cada um de nós quatro construiu, com confiança e interesse pelo outro e que produziu uma sintonia.

Como é dirigir a dois?

Marcio: Começamos a trabalhar juntos no curso de cinema. Para nós este é um processo que acontece naturalmente. Compartilhamos interesses comuns em termos de cinema. Trabalhamos muito juntos, desenvolvendo o roteiro. Tínhamos ideias muito, muito claras sobre o filme que queríamos fazer e como fazê-lo. Com certeza, no set sempre acontecem imprevistos e decisões do momento. Se surgiam divergências, conversávamos para chegar a uma decisão racional.
Filipe: Para nós foi muito importante preparar muito a realização porque isto abre a porta para a possibilidade de improviso na hora de rodar. - Marcio: Criamos juntos. Não temos divisões do tipo 'Filipe fica responsável pela câmera e eu pelos atores'. Nós fazemos tudo juntos, estamos em boa sintonia, e sim, somos casal".

O que virá depois de "Beira-Mar"?
Marcio: Continuaremos com o "Close", o festival sobre cinema LGBT que organizamos anualmente há cinco anos em Porto Alegre, além de outro festival, Diálogo de Cinema. E estamos preparando nosso segundo longa-metragem, "Garoto Neon". Já temos o argumento e nossa ideia é começar a rodar no ano que vem em Porto Alegre. É uma história de amor na indústria pornográfica da internet, entre dois atores eróticos de webcam. Mostra como as pessoas se relacionam de forma diferente quando estão online ou offline, como você se mostra na internet e como é na vida cotidiana.
Filipe: Fala muito de amor e sexualidade.
Marcio: Sim, os personagens estão na faixa dos 20 anos, um pouco mais maduros que os de "Beira-Mar", mas é uma história de jovens e a sexualidade está muito presente.

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