Drama psicológico conduz "Raia 4"

Drama psicológico conduz "Raia 4"

Cineasta gaúcho Emiliano Cunha apresenta seu primeiro longa na mostra competitiva do Festival de Gramado

Adriana Androvandi

Duas adolescentes nadadoras em cena do filme "Raia 4"

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"Raia 4" foi exibido no Festival de Cinema de Gramado na noite desse sábado, dentro da mostra competitiva nacional. Este é o primeiro longa-metragem do cineasta gaúcho Emiliano Cunha, que já foi premiado no mesmo festival pelo seu curta "Sob Águas Claras e Inocentes" em 2017. A narrativa dramática aborda a adolescência de uma nadadora chamada Amanda (Brídia Moni). Ela treina para competições ao lado de outros jovens em um clube de natação. As mudanças corporais, o interesse por um colega do grupo e a timidez mexem com as emoções da garota, que não costuma demonstrar o que sente. 

Os pais lhe dão atenção, mas não parece ser o suficiente para ela. A partir do ambiente do clube, ela desenvolve uma relação de admiração e ao mesmo tempo competição com uma colega do grupo, Priscila (Kethelen Guadagnini). Este coleguismo carrega certa estranheza. Em certos momentos, trocas de olhares sugerem um caminho, mas a equipe optou por algumas surpresas a medida que o filme vai chegando ao final e que contam com toques de terror.

Um dos destaques da produção foi a escolha do elenco. A equipe conta que estava em dúvida se contratava atores e os treinaria para as cenas de natação ou se procurava nadadores que poderiam atuar. "O corpo de um nadador tem características específicas. Por isso optamos por procurar nadadores e selecionar, por meio de testes, os que queriam e poderiam atuar. A primeira busca contou com 140 adolescentes. Destes ficaram 35 e, posteriormente, 14. 

O próprio diretor foi nadador dos 8 aos 20 anos. Ele ressalta que este não é um filme autobiográfico, mas que muitas situações que aparecem em cena foram vivenciadas por ele. "A natação competitiva é muito diferente da recreativa. A convivência em vestiários e a viagem para longe dos pais foram situações que eu vivi", explicou Cunha, incluindo uma brincadeira com um extintor de incêndio feita pelos jovens em hotel durante uma hospedagem para um campeonato e que foi incluída no filme. Nesses grupos, o treinador substitui, muitas vezes, a figura paterna e acaba sendo alvo de certa devoção.

As sequências nas piscinas são um dos pontos fortes do filme, com uma direção de arte que privilegia as cores azul e vermelho. A atmosfera ganhou uma trilha sonora minimalista, através do trabalho de Felipe Puperi e Rita Zart. "As músicas acompanham Amanda e precisavam de sutileza", contou Rita sobre seu processo criativo. Sobre a protagonista, o montador Vicente Moreno também observou: "Amanda tem um outro ritmo, diferente dos demais", comparando com os outros jovens em cena.

Apesar de ser um filme com uma estética belíssima, a narrativa acompanha os tons frios e o final surpreende. O espectador não deve esperar mensagens edificantes ou de superação, que muitas vezes acompanham filmes que retratam competições esportivas. Mas esta é justamente a proposta do diretor. "Quem já viu meus curtas, sabe que o que me mobiliza é fazer filmes que levam a um lugar não muito confortável", define Cunha. E é isso que o filme realmente entrega.


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