Duas vozes do teatro na literatura

Duas vozes do teatro na literatura

Morgana Kretzmann e Ana Guasque são atrizes e escritoras, ambas são gaúchas, mas vivem na capital paulista. E as duas estão lançando obras literárias que se passam no interior do Rio Grande do Sul,

Vera Pinto

Atrizes e escritoras Ana Guasque,que também é bailarina e Morgana Kretzmann, roteirista

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“Sou uma contadora de histórias, antes de tudo”. Assim se define a atriz, roteirista e escritora gaúcha Morgana Kretzmann, residente em São Paulo e autora de “Ao Pó” (editora Patuá), lançado há quatro meses, com a primeira tiragem esgotada e que ganhará lançamento na próxima Feira do Livro de Porto Alegre. O abuso infantil no âmbito familiar, em Tenente Portela (RS) – cidade natal da autora -  e suas implicações é o foco da obra, que começou em 2014, como roteiro de um filme. Neste meio tempo, ela fez uma faculdade, conversou intensamente com muitas mulheres que passaram por esta situação e após assistir um documentário sobre Larry Nassar, médico da seleção de ginástica feminina dos EUA que abusou das atletas, tinha o material que precisava. 

No Brasil, em média três crianças por hora são molestadas, a maioria com menos de 13 anos, em sua maior parte por um parente ou vizinho, conforme dados de 2018. Tentando mostrar a violência silenciada, em especial no interior, é contada a história de Sofia e sua irmã, abusadas pelo tio e suas consequências devastadoras, como o sentimento de culpa e morte interior. Morgana mostra que cada vítima tem um tempo para expor e denunciar o fato, sendo que algumas nunca fazem isto. “E eu respeito todas elas”, diz. Ela não classifica o romance como  um livro de denúncia, e sim de “trauma, vingança e recomeço”, ao falar do enfrentamento da protagonista no acerto de contas com seu passado. 

A atriz, que trabalhou em cerca de 20 espetáculos, adultos e infantis, entre Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo “3 Dias ou Menos” sobre porte ilegal de armas e “Big Jato!”, em que adaptou a obra de Chico Sá, cursou Gestão Ambiental (IFSC), que a inspirou no infantil “Super Solos”, com ilustração de Fábio Zimbres, que virou uma série, com 13 títulos, feita para sala de aula, cujo processo de publicação parou por conta da pandemia. Seu novo livro “Água Turvo”, se passa numa reserva florestal na fronteira entre Argentina e RS, onde a construção de uma hidrelétrica ameaça a maior queda d’água longitudinal do mundo, o Salto do Yucumã. A iniciativa faz parte de um projeto que trata de questões do interior, com suas regras próprias, de caráter machista, patriarcal e pactos de silêncio. 

Na mesma linha, a bailarina e atriz portoalegrense Ana Guasque, também residente na capital paulista, escreveu “Victória, uma Saga Italiana no Interior do Rio Grande”, disponível na plataforma Eu Faço Cultura e em breve, em e-book. O livro aborda fatos políticos e históricos, de 1883 a 1966, da fundação à emancipação de Chiapetta, cidade criada por uma mulher. A valorização da força feminina e seu poder de mover o mundo pautam a artista desde 2009 e seguirá pelo resto de sua vida. “Todos nós temos histórias de superação que podem nos fortalecer. Quando tive contato com a desta mulher que dá início a uma cidade, tive uma transformação muito profunda, com a certeza de saber de onde vim e para onde quero ir”, destaca, sobre a narrativa que descreve a saga de sua bisavó por parte de pai. 

Alvo de preconceito na infância por ter cabelo crespo, ela escreveu “Laurinha”, acerca de uma menina que sofre bullying por ser obesa e “Pandemia, sobre o que as crianças estão passando em tempos de isolamento, devido à Covid-19. Sua trajetória artística inclui cerca de 25 espetáculos,  como o monólogo “Vamos Falar de Amor, Amor?”, com texto de sua autoria e direção de Grace Gianoukas (“Terça Insana”) e “Mulheres de Shakespeare”, dirigida pelo inglês Luke Dixon, em que divide o palco com Suzy Rego, que pode ser conferida pelo Youtube. Para trazer a arte às pessoas nas mais diversas linguagens e facetas, montou a Ana Guasque Artes & Entretenimentos, voltada a textos, dança, audiovisual.  


 

 

 


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