Estilista Rui Spohr morre aos 89 anos em Porto Alegre
Figura importante na moda do Rio Grande do Sul, ele foi colunista do Correio do Povo
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O estilista e ex-colunista do Correio do Povo Rui Spohr morreu aos 89 anos nesta terça-feira em Porto Alegre. A informação foi confirmada pela esposa Dóris. Ele estava internado desde a última quarta-feira no Hospital Mãe de Deus, debilitado pelo mal de Parkinson e não resistiu a uma brônquio pneumonia. O velório será realizado no Theatro São Pedro, das 12h30min às 17h. A cerimônia de cremação será reservada à família.
É praticamente impossível encontrar em Porto Alegre alguém verdadeiramente interessado em moda que desconheça a trajetória de seu maior estilista. Nascido em Novo Hamburgo em 1929, Rui nem sempre foi Rui. Antes de usar o pseudônimo que o tornou popular entre os gaúchos interessados em moda, o estilista foi batizado com o nome de Flávio Henneman Spohr e estava destinado a ser padre ou militar pela parteira que o trouxe ao mundo.
Filho de uma tradicional família de origem alemã, desde muito cedo decidiu que a moda era o seu universo. Fez um estágio quase que obrigatório na fábrica de calçados do pai e viu que não poderia dedicar-se a uma atividade que envolvesse processos repetitivos, sem criação, sem arte. Nos momentos vagos na fábrica, desenhou seus primeiros vestidos. Em 1948, já assinava uma coluna de moda e a partir daí passou a adotar o pseudônimo Rui.
Aos 22 anos, ainda jovem, decidiu que ia fazer moda e foi para Paris. Ele foi o primeiro brasileiro a se profissionalizar em moda na França. Spohr venceu os protestos da família com determinação e talento para crescer como profissional na Cidade Luz. Em solo francês, o estilista se transformou em homem da moda e testemunhou o surgimento de nomes como Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld.
Influenciado pelo principal polo cultural da moda naquela época, Spohr aprendeu a beber vinho tinto e champanhe, tornou-se fluente em francês, conheceu boa parte da Europa e trabalhou com Jean Barthé, o maior chapeleiro da França.
A volta para casa e o amor
Mas nem tudo foi festa em Paris. Rui Spohr teve que lidar com saudades da família, com as dificuldades de ser um estrangeiro e ainda passou fome, quando uma longa greve dos correios o impediu de receber dinheiro enviado pela família para o seu sustento. Ao final do curso na Chambre Syndicale de la Couture Parisienne, ele decidiu que era hora de voltar para Porto Alegre.
Ao chegar de Paris, Spohr instalou-se no Centro de Porto Alegre para ser chapeleiro. O retorno à Capital antecedeu a segunda grande decisão da sua vida: a de casar. O estilista conheceu Dóris quando chegava ao seu ateliê, depois de um intervalo para o almoço. A moça loira, de olhos claros e vestido rodado já estava a sua espera. Ela precisa de um emprego e Spohr necessitava de uma secretária para receber as clientes, marcar horários e cuidar da burocracia. Casaram-se em cerca de três anos. Do início de 1960 até hoje, foram inseparáveis.
Ao lado de Dóris, Spohr continuou a perseguição a um sonho e viveu os tempos áureos da alta-costura. Nome ligado à história e à cultura do Rio Grande do Sul e da nossa cidade, o estilista notabilizou-se pela ousadia de suas criações e ineditismo na apresentação de desfiles em Porto Alegre. Spohr transformou meninas da sociedade em manequins. Ele e Doris estavam atentos à aparição de jovens de porte, de beleza diferenciada e as convidavam para serem modelos. Assim surgiram Lucia Cury e Lilian Lemmertz, entre outros nomes que brilharam na passarela de Rui Spohr.
Rui Spohr fazendo o que mais gostava / Foto: Facebook / Reprodução / CP