Filme aborda o tabu da indústria pornô no Japão

Filme aborda o tabu da indústria pornô no Japão

"The Lowlife", de Takahisa Zeze, explora o lado emocional e humano das atrizes de entretenimento adulto

AFP

Longa foi projetado esta semana no Festival de Cinema de Tóquio

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O diretor de um controverso longa-metragem japonês que retrata a vida de três atrizes de cinema pornô espera que sua obra sirva para combater os preconceitos contra esta indústria. "The Lowlife", de Takahisa Zeze, uma adaptação do romance erótico de Mana Sakura, foi projetado esta semana no Festival de Cinema de Tóquio. "Quando decidimos fazer o filme, não havia uma busca urgente para quebrar tabus. A obra é sobre as pessoas que estão buscando seu lugar no mundo, sua identidade", afirmou o cineasta.

"Quando estávamos fazendo as audições, por exemplo, algumas atrizes recusaram os papéis. Elas não se importavam em tirar a roupa, mas não se sentiam à vontade para interpretar uma estrela pornô", comentou. O trabalho de Zeze explora o lado emocional e o drama humano, de modo que os espectadores que esperam uma lição de moral ficarão desapontados. O filme evita criticar a indústria de entretenimento adulta, eludindo as acusações de que as atrizes são exploradas.

Mesmo quando Miho, uma dona de casa frustrada interpretada por Ayano Moriguchi, estreia com estranhamento no ramo, não há indícios de que estas mulheres sejam presas fáceis para a indústria. "Lá no fundo talvez eu não quis focar no lado mais sombrio desse negócio", disse a autora do livro, Sakura, de 24 anos.  "Obviamente, não estão todas felizes, como na maioria dos empregos, mas também não estão todas infelizes". argumentou. "Sinto que muitas vezes as pessoas querem concluir que todas as atrizes pornô são infelizes. Bem, eu não sou infeliz e queria me concentrar mais no cotidiano, mais na luz do que no escuro", acrescentou.

Efeito de documentário

A abordagem minimalista de Zeze e o uso de câmeras seguradas com as mãos criam uma sensação quase "voyeurística" em um filme carregado em emoções cruas.  "Eu queria criar o efeito de um documentário", disse o diretor, mais conhecido por seu trabalho em "pink eiga", um gênero de pornô suave.  "Antes, a sexualidade era um tabu, mas hoje não é mais assim. Estamos tentando mostrar que o pornô é uma forma comum de desejo sexual. Faz parte do nosso dia a dia", argumentou.

No filme, Ayano (Kokone Sasaki) se joga em uma piscina em uma tentativa de suicídio, após uma discussão violenta com sua mãe, mas sobrevive e, no final, decide continuar com a sua carreira. "A forma como eu vejo essa cena final no telhado é que continuar fazendo pornô é uma escolha dela. Ela chega a um ponto em que consegue ter orgulho e, em vez de se sentir culpada, sente que seu coração encontrou um lar", disse Sasaki.

"Já havia todo tipo de livros reveladores sobre o mundo dos filmes pornô, mas as atrizes pornô também são apenas mulheres normais que levam vidas normais. Todos os anos, milhares de mulheres fazem sua estreia na pornografia", observou Sakura.  "Sua vizinha de porta poderia ser uma atriz pornô, ou as suas amigas poderiam ser. E enquanto você não consegue evitar estereótipos, espero que este filme possa ajudar a mudar um pouco as percepções", finalizou.

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