Filme 'Pacarrete' estreia no Canal Brasil

Filme 'Pacarrete' estreia no Canal Brasil

Protagonizado pela atriz Marcélia Cartaxo, longa-metragem foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2019

Adriana Androvandi

Marcélia Cartaxo ganhou o Kikito de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Gramado por sua atuação em 'Pacarrete'

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“Pacarrete”, primeiro longa-metragem do diretor Allan Deberton, estreia nesta quarta-feira no Canal Brasil, às 22h55min. Este título foi o grande vencedor do 47º Festival de Cinema de Gramado (2019), de onde saiu consagrado com oito Kikitos. Também esteve em várias listas de melhores filmes de 2020.

Esta comédia dramática aborda muitas questões a partir da protagonista que dá título ao filme, uma mulher que ama o balé e música clássica e vive na cidade de Russas, no interior do Ceará.  A protagonista é interpretada por Marcélia Cartaxo. Entre os prêmios recebidos, está o troféu de Melhor Atriz em Gramado e o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim. 

O filme aborda muitas questões com delicadeza e bom humor, mas isso não significa que a abordagem não seja profunda. Em cena, terceira idade, solidão e cultura são temáticas que emergem enquanto vamos criando empatia por Pacarrete e os que a cercam, como a sua irmã e a empregada doméstica. As três convivem na mesma casa. Além de um roteiro bem construído, as atuações e a direção estão entre os pontos fortes da produção. A intensidade e a energia de Pacarrete contrastam com a serenidade de sua irmã cadeirante, Chiquinha (Zezita de Matos), e a praticidade da empregada, Maria (Soia Lira), com quem vive a implicar.
O desajuste de Pacarrete com o meio em que vive é o ponto nevrálgico da trama. Conforme o diretor contou em coletiva no Festival de Gramado, a personagem é inspirada em uma mulher real que teve formação clássica, foi bailarina, viveu em uma cidade grande, mas teve de voltar para a cidade natal para cuidar da irmã. Pacarrete tem suas extravagâncias, mas em uma cidade cosmopolita ela provavelmente encontraria sua turma: amantes da arte e do balé. Mas na pequena cidade em que vive, ninguém se interessa por isso. O caso fica claro quando ela procura a prefeitura se oferecendo para fazer uma apresentação de dança na festa de 200 anos do município, mas é rejeitada com a justificativa de que o povo quer ver outra coisa.
Durante as festividades, a casa da protagonista é invadida pelo som da música alta popular que toca com amplificadores, agredindo seus ouvidos. Os frequentadores urinam em frente à sua casa, fazem barulho e deixam lixo pelo chão. Pacarrete se sente sitiada e incompreendida. O único amigo que ela tem é o dono de um bar, vivido pelo ator João Miguel, que exibe mais uma premiada interpretação de sua carreira. Os olhares repletos de doçura que ele dirige à protagonista estão entre as cenas mais enternecedoras da narrativa. Com uma equipe cheia de talentos, destacamos ainda o figurino criado por Chris Garrido: alegre, colorido e elegante.
Considerada a louca da cidade por viver fora dos padrões, nos questionamos se a cidade não era pequena demais para Pacarrete. Frente a um empobrecimento nas letras e acordes da música e dança brasileira para as massas, os amantes de uma estética mais erudita são minoria e podem se sentir “desajustados” em ambientes em que o nível educacional pouco supera o básico.
No microcosmo de Pacarrete, suas atitudes significam resistência, luta pelos sonhos e pela arte que acredita ser a que mais enleva. É melhor ser fiel a si mesmo do que perder a sua identidade em prol de socialização vazia.


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