Gaúcha encontra na escrita resgate da autoestima após violência doméstica

Gaúcha encontra na escrita resgate da autoestima após violência doméstica

Susete Pasa lançou neste ano "Abusada", que reúne recordações de sua vida, marcada por um relacionamento abusivo

Agência Brasil

Escritora espera que a obra possa ajudar as mulheres a se tornarem mais fortes e não desistirem de seus sonhos

publicidade

Após romper o ciclo de violência, que, em muitos casos, se instala no próprio lar, vítimas de abuso devem iniciar um processo de resgate da autoestima, de acordo com psicólogos. Transmitir ao filho o ensinamento de que toda mulher deve ser tratada com respeito passou a ser uma das principais missões da empresária Susete Pasa, de 47 anos. Ela é autora do livro "Abusada", que reúne recordações de sua vida, marcada por um relacionamento abusivo. Como muitas vítimas, ela vivia com o agressor. A escritora só conseguiu reunir forças para romper o relacionamento, carregado de violência, após 24 anos de casamento.

Susete fugiu de casa, no município Estância Velha, há três anos. Na ocasião, deixou uma carta ao ex-companheiro que tinha viajado a negócios na companhia de outra mulher. Assim, ela retornou a Arroio do Tigre, sua cidade natal para morar com a mãe. No momento, ela estuda acionar a Justiça para que o marido seja retirado da residência do antigo casal. A empresária afirma que, embora soubesse de casos de traição do ex-companheiro, acreditou, por muito tempo, que não se sustentaria sozinha. Ela achava que devia continuar com o relacionamento para que os negócios do casal não tivessem prejuízo. Entre as agressões relatadas, ela conta que o ex-marido chamava-a de burra na frente de clientes do casal.

"Só fui descobrir que fui vítima de abuso no ano passado. Aqui no interior é a coisa mais normal trair e tratar mal", desabafa, acrescentando que o pai sempre foi ríspido com a mãe e visto como o "chefe da casa". Ao longo do casamento, de acordo com Susete, ele teve depressão por se sentir desprezada e manipulada pelo ex-marido. "Logo no início, percebi que era muito ciumento, mas na época achava até legal, me sentia valorizada pelos ciúmes dele, não imaginei que fosse traço de abusador. Com 22 anos, tive meu filho, o Guilherme. Depois disso, ele (ex-marido) começou a ter atitudes bem grosseiras quanto ao meu corpo, começou a me maltratar e isso foi se intensificando, e fui ficando cada vez mais fechada, triste, meu comportamento foi mudando", conta.

Para ela, sair com os amigos e voltar a socializar tem sido uma tarefa difícil. "O problema é que foi muito tempo [de relacionamento]. Então, nunca estive na noite sozinha, sem uma pessoa, um amparo. Ele era um amuleto na noite também, eu o via como figura protetora. Mesmo me fazendo mal, eu o enxergava como uma figura de proteção. Levei muito tempo para começar a sair, e não digo nem pra conhecer outros homens, mas com as minhas amigas. Levei mais de um ano para jantar fora."

Susete diz que, ao reunir as histórias para o livro, encontrou força e, atualmente, não há mais vergonha em deixar que outras pessoas saibam que ela foi vítima de violência. "O que mais me fez bem em escrever esse livro, além de me curar das culpas que senti quanto ao meu relacionamento, foi não ter mais vergonha nenhuma de dizer que sou uma vítima. No passado, sim, eu tinha. Hoje, não tenho mais. Às vezes, as vítimas podem imaginar que só se matar é que é a saída, mas é possível, sim, sair (do ciclo de violência). Há momentos em que a gente se vê sem saída, só pensa em se matar, que ou fica com a pessoa, ou morre, sente um desespero de não conseguir, e isso não é vergonha. Não é gente que tem que se envergonhar, e sim eles [os agressores] que devem ter vergonha por deixar a gente nesse estado", afirma.

De acordo com a Secretaria de Segurança do Rio Grande do Sul, somente em fevereiro deste ano – dado mais atualizado apresentado pela pasta – foram registrados 2.953 casos de ameaça contra mulheres, 1.777 ocorrências de lesão corporal, 102 estupros e 23 tentativas de feminicídio. Naquele mês, um feminicídio se consumou.

"Abusada":
Sinopse

Que menina não adora ouvir lindas histórias narradas sobre princesas? Eu amava! Cresci sonhando em viver uma linda história de amor, e tudo se encaminhava para que este sonho se tornasse realidade, até que o sonho mudou, e o castelo se transformou em uma casa de vidro... O príncipe dos meus sonhos de infância já não era mais um príncipe... e sim, aquele que me manteve presa em jaulas invisíveis de dependência, de culpa, sentimento de inferioridade, paixão doentia, humilhação e ciúmes. O que começou como a mais sonhada e doce história de amor, tornou-se um pesadelo amargo. 

Porém, não foi de todo o mal, porque daquele início de história de amor, obtive o amor verdadeiro, o amor próprio, e o amor de ser mãe. O príncipe se tornou um rei autoritário e cruel... Após 31 anos de prisão, a liberdade esteve mais perto do que se acreditava capaz. As marcas e cicatrizes invisíveis da prisão abusiva não foram maiores que o desejo de recuperação diante das possibilidades. O amor de uma mãe consegue o impossível, ela se torna sua própria rainha.

Porque toda mulher tem uma guerreira dentro de si, uma vencedora capaz de unir-se a outras e vencerem o abuso através de força mútua, informação e desejo de se libertar. Você não está só. Liberte-se!


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 17 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895