Humor e emoção marcam "Interior", atração deste domingo no Palco Giratório Sesc

Humor e emoção marcam "Interior", atração deste domingo no Palco Giratório Sesc

Espetáculo do Grupo Bagaceira de Teatro destaca a cultura do interior e a figura afetuosa e resistente das avós

Vera Pinto

Atrizes Samya de Lavor e Tatiana Amorim interpretam duas velhinhas que adoram viver e resistem ao tempo

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Em clima intimista e de nostalgia, o  Grupo Bagaceira de Teatro, de Fortaleza, apresenta "Interior", fruto de dois anos de pesquisa em quatro cidades do interior cearense, com direção de Yuri Yamamoto. Pelo Festival Palco Giratório Sesc 2021, o espetáculo tem transmissão gratuita, às 20h deste domingo, pelo Youtube do Sesc Brasil. 

Em Icó, Tauá, Beberibe e Itarema, o grupo fez trocas com vários tipos de grupamentos artísticos, como de teatro, dramistas, reisados e se perguntou como se faz arte onde não são dadas exatamente as melhores condições. Encontrou pessoas que abriram suas casas e falavam sobresuas  vidas, no clima de conversas à beira da calçada. "Encontramos um lado muito humano, receptivo e afetuoso das pessoas do nosso Estado. O espetáculo leva muito isso: é um abraço pra quem estiver assistindo", afirma o ator Rogério Mesquita, um dos fundadores do Bagaceira. Ao longo de dois anos da pesquisa, o coletivo fez quatro residências, inclusive com o parceiro do coletivo, o francês Maurice Durozier, do Theatre Du Soleil, que colaborou na construção, junto com a e diretora paulista Georgette Fadel. A trupe apresentou espetáculos de seu repertório nestas localidades, em que a palavra "resistência" era algo comum, no sentido de resistir a todas as desavenças e dificuldades. A referência das dramistas foi fundamental, neste caso específico, o ritual de passagem das meninas para a adolescência no início do século XX. Segundo Rogério, esta manifestação morreu, mas aquelas meninas, hoje avós, resolveram trazer isto à tona. "Estas octogenários contam e cantam estes dramas. A figura das avós está personificada muito nelas, na questão do afeto e da resistência", diz. 

Rafal Martins assina o texto sobre duas velhinhas que teimam em não morrer e resistem ao tempo. Elas já cruzaram diversas gerações e sabem tudo a respeito da vida. Dão conta de todas as histórias prováveis e improváveis. Na versão presencial, para 60 pessoas, que sentavam próximo da cena, a equipe pedia aos espectadores que escrevessem o nome de suas avós e as atrizes Samya de Lavor e Tatiana Amorim sorteavam, perguntando qual era sua maior lembrança da avó. Na versão para o Instagram, em 2020, as pessoas entrvam na live com as avós ou uma recordação delas. Desta vez não haverá uma interação direta, mas as pessoas serão instadas a rememorarem suas avós, em suas casas.  

"Interior" estreiou em 2013 e já circulou bastante pelo Brasil, do Piaúí ao Rio Grande do Sul, tendo passado por todo o Nordeste, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Uberlândia, São Paulo e Porto Alegre, entre outras capitais. "Ouvimos muitas histórias, muitos sotaques. Dialogamos muito com a plateia, que é convidada a relembrar os avós", aponta Rogério. É um espetáculo que dá esperança, que levanta a bandeira da resistência, de que o antigo não deve ser esquecido. E temos que resistir a qualquer tipo de dificuldade, na figura delicada, frágil e aparentemente fraca da avó. Esta força x delicadeza dá um choque na plateia", acrescenta. 

Grupo Bagaceira de Teatro
 O Bagaceira tem 21 anos e 17 espetáculos, mantendo espetáculos há 8 anos no repertório. Seguindo uma linha autoral, cada montagem se difere em temática e linguagem. Trabalhos  de rua e de palco, adultos e infantis, incluindo de manipulação de bonecos, dão o tom da diversidade e inquietude do grupo, com seu poder criativo. Composto por cinco artistas, cada um assume uma função extra, para que siga vivo. Esteve no RS,  em 2007, de Porto Alegre a Uguguaiana com "O Realejo", apresentado em 15 cidades gaúchas. "Foi interessante porque 'bagaceira' tem um sentido pejorativo no Sul e no Nordeste remete à comédia, então nos bate-papos aqui sempre nos perguntavam a razão do nome do grupo", finaliza Rogério. O coletivo tem um carinho muito grande pelo RS, onde aconteceu sua primeira grande circulação. Com a participação na época no Palco Giratório, conseguiu conquistar espaço que se mantém até hoje, a Casa da Esquina, em Fortaleza. Com a pandemia ficou complicado criar, quando começou a mexer com um audiovisual, fazendo um curta-metragem e adaptando "Interior" e o infantil "O Senhor Ventilador". De dois anos pra cá, questões da precariedade, condições, existência, escassez de políticas públicas culturais vieram à tona. 

 


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