Mateus Solano fala sobre reinvenção do clássico Irma Vap e o "teatro desnudado"

Mateus Solano fala sobre reinvenção do clássico Irma Vap e o "teatro desnudado"

Ator fala da nova montagem de "O Mistério de Irma Vap" em cartaz neste final de semana em Porto Alegre

Samantha Klein

Luis Miranda e Mateus Solano remontam grande sucesso do teatro brasileiro

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O ator Mateus Solano, que representa os papéis de Lady Enid, Nicodemus Underwood e ele mesmo na versão de O Mistério de Irma Vap do diretor Jorge Farjalla, preocupa-se em instigar o espectador que, eventualmente, já assistiu a clássica montagem dirigida por Marília Pêra ou ainda, viu o filme homônimo. “É algo completamente diferente”, ressalta. E para além das inovações no palco, Solano também tem preocupação especial em relação aos caminhos do próprio teatro como expressão artística sustentável diante da hiperconectividade e dos serviços de streaming

Sobre a montagem de Irma Vap, que já passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Uberlândia antes de chegar à Capital gaúcha, ele ressalta que o cenário é diferente - a dramatização não acontece numa mansão em algum perdido da Inglaterra, mas em um trem fantasma - e considera que o formato é o de “teatro desnudado” aos olhos da plateia. “A ágil troca de roupas da peça estrelada por Nanini e Ney Latorraca era sensacional e aguçava a curiosidade do público, agora mostramos como tudo acontece e o efeito cênico do apoio dos contrarregras, que são também atores que dançam e atuam como fantasminhas, é sensacional”.

Reconstruir a magia e o fascínio desse besteirol escrito pelo estadunidense Charles Ludlam exigiu preparo de quase quatro meses da equipe em cena. “Gostando ou não do que verão no palco, as pessoas terão a certeza de que foi um espetáculo muito bem feito. E, claro, já recebemos aplausos e vaias ao longo das apresentações”. 

A pitada de humor político, destaca Solano, não poderia faltar. “Obviamente estamos vivendo um momento de polarização, de governo que não privilegia a cultura nem meio ambiente, questões que na minha visão são importantes, mas isso não é novidade e nem é exclusividade desse governo. O teatro está aí para debater, expor qualquer governo que esteja em voga, está aí para fazer crítica construtiva. Se agora falamos do Bolsonaro, anos atrás falávamos do Mensalão e do Lula. Fazer teatro é resistência”.

Ao mesmo tempo em que reconhece a responsabilidade de participar da montagem proposta por Farjalla, o ator pensa no teatro como arte em transformação. Ao ser questionado se gostaria de repetir ou superar a façanha de Nanini e Latorraca, que bateram recorde como espetáculo que pelo maior tempo - 11 anos - esteve em cartaz com os mesmos atores, foi enfático ao dizer: “Espero que não!”. 

“Não sou ser humano para ficar 11 anos fazendo a mesma coisa. Estou em constante movimento, sempre querendo me desafiar com novos projetos. Além disso, é uma peça muito exaustiva. Portanto, se não houver prazer para fazer, dificilmente me vejo fazendo-a”, reflete. Ao mesmo tempo, diz Solano, os tempos para a cultura e o comportamento são outros e “não se consegue imaginar que uma peça conseguiria ficar tanto tempo em cartaz”.

O ator destaca que os serviços de streaming modificaram a forma como os mais diferentes públicos lidam com as manifestações artísticas. A televisão e o cinema, talvez, tenham sido os primeiros impactados, mas o teatro já convive com os reflexos. O artista lembra que ficou em cartaz durante quatro anos com a peça "Selfie", que também passou por Porto Alegre, espetáculo que justamente tratava do momento em que as pessoas estão hiperconectadas e perdem sua memória para o smartphone. No caso, dois anos de apresentação foram de extremo sucesso. Ao mesmo tempo, ele reconhece que clássicos como O Fantasma da Ópera e Alma Imoral, por exemplo, continuam enchendo teatros. É uma questão de adaptação aos tempos, sublinha Solano.

Mais conhecido pela atuação em novelas, ele destaca um dos mais reconhecidos atores da teledramaturgia brasileira, Antônio Fagundes, quando se trata de renovação do teatro. “É um cara que precisa ser observado porque ele é muito antenado e sempre construiu a sua própria carreira. Agora, ele vende ingresso para todo o processo das peças. Desde o primeiro ensaio, quando está lendo o texto, há público assistindo, assim ele acaba capitalizando todo o processo. É genial, é uma reinvenção do teatro e é também uma forma de dialogar com esse tempo que vivemos onde que as pessoas vivem conectadas e gostam de ver os bastidores de tudo”.  

Ao espectador da curtíssima temporada deste sábado e domingo, Irma Vap tem mais uma pitada de conexão com os dias de hoje. Com o revival oitentista, que tem perdurado com séries como Stranger Things e The Americans, relançamento de games e tendências na moda, os atores assistiram não somente ao clássico Rebecca, de Alfred Hitchcock, mas clássicos do terror filmados nos anos 1980. "Menos sangue, por favor", finaliza. 

Serviço 

O espetáculo ocorre nos dias 31 de agosto, às 21h, e 1 de setembro, às 19h, no Teatro do SESI (avenida Assis Brasil, 8787). 

Ingressos 

Os ingressos estão disponíveis nas lojas Multisom (rua dos Andradas, Bourbon Shopping Ipiranga, Praia de Belas Shopping, Shopping Iguatemi e BarraShopping Sul) e no site Blue Ticket. Os valores são R$ 150 (Plateia baixa), R$ 130 (Plateia alta) e R$ 100 (Mezanino).


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