Morrostock é respiro em meio ao caos

Morrostock é respiro em meio ao caos

Festival em Santa Maria promove imersão na música e na natureza

Caroline Grüne

Jaloo fez show enérgico e se jogou no público do Morrostock

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Antes mesmo de chegar ao Balneário Ouro Verde os sinais de celulares se perdem. A desconexão é o começo de uma experiência imersiva numa nova atmosfera – com artistas que vão do rock ao psicodélico e um vasto espaço verde cercado por um lago, a utopia se torna realidade por alguns dias. Para os headliners do Nação Zumbi, essa é a vida real: “Lá fora ninguém aplaude mais. É o celular em uma mão e a cerveja na outra. Aqui a vida é agora”, disse o vocalista da banda, Jorge dü Peixe. 

Além do consagrado Nação Zumbi, o Morrostock reuniu mais de 40 bandas e artistas de diferentes gerações, ritmos e regiões. Dos locais Bloco da Laje e Supervão, algumas bandas indicadas por editais e selecionadas pelo público, a artistas conhecidos nacionalmente como Céu, Mulamba, MC Tha e Jaloo. Nesta edição o evento foi prolongado e aproveitou o feriado para durar um dia a mais. De quinta a domingo, entre público, artistas e convidados, duas mil pessoas passaram pelo festival. A grande maioria, fazendo das inúmeras barracas e lonas espalhadas pelo camping seu lar temporário.

No primeiro dia, a atração principal foi a paulista Céu. Com 15 anos de carreira, a cantora viajou para Santa Maria com seu novo trabalho, o disco APKÁ. A palavra, sem significado específico, foi proferida pelo seu filho recém nascido em um momento de euforia. Para Céu, “fazer música e fazer filho são parte de um mesmo movimento de criação e cuidado”. No álbum e na apresentação, a artista trouxe reflexões sobre as relações na era da tecnologia com batidas eletrônicas suaves e luzes azuis intercaladas. No setlist, foi das antigas “Varanda Suspensa” e “Malemolência” até a atual música de trabalho “Coreto”.

Na sexta-feira, Mc Tha abriu a noite com seu Rito de Passá. A artista, nascida na Zona Leste de São Paulo, mistura o funk com a espiritualidade da umbanda em uma performance energética. Reinventando a carreira, Tha compensa a técnica com talento - apesar de não ser impecável, prende o público com uma belíssima voz, uma presença quase mágica, beats consistentes do funk paulista e letras intensas. “Minha música mostra a mulher que eu sou: simples, que fala do dia a dia, da minha liberdade sexual e da minha espiritualidade”, fala Mc Tha. Para ela a música é autoconhecimento – dessa forma parte do funk, seu berço, e representa o ritmo em uma nova face. “Enquanto alguns artistas cantam de maneira explícita, eu canto ‘em clima quente, a noite inteira, frente e verso’. É o meu jeito de me expressar.”

Jaloo chegou ao palco logo depois. O artista transforma a tristeza em música para dançar. As letras fortes reverenciam a história da música brasileira e contrastam com beats da música eletrônica: a mistura fez um dos melhores shows do festival. Antes de entrar no palco, ele disse que se apresentar é a parte preferida e o relato se mostrou durante a performance. “É maravilhoso vir do Norte, atravessar o país e chegar aqui. Interagir com um novo sotaque e com pessoas que se emocionam e se conectam.” Emocionado e entregue, Jaloo se jogou no público e envolveu todos na sua música. 

Nação Zumbi, uma das bandas mais experientes a se apresentar no Morrostock, trouxe as guitarras do rock com instrumentos de percussão – um pouco abafados nas caixas de som. A banda exaltou a resistência que é um festival estar de pé atualmente e vê nesses momentos desconexão um encontro real com a música de maneira atemporal: sem stories, mas com proximidade com a música.


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