"Não entendo por que o mundo da moda é tão blasé", diz fundador da Dolce & Gabbana

"Não entendo por que o mundo da moda é tão blasé", diz fundador da Dolce & Gabbana

Em entrevista, Domenico Dolce e Stefano Gabbana opinam sobre o mercado de alta-costura

AE

Domenico Dolce e Stefano Gabbana comandam a grife de luxo

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"Não entendo por que o mundo da moda é tão blasé e acha cool fazer pose de 'eu não ligo', acha bonito não demonstrar entusiasmo, alegria ou amor", diz Domenico Dolce. "A vida não é nada sem emoção." Estamos no Bar Martini, em uma de suas lojas, no coração do comércio de luxo de Milão. O desfile de moda masculina da Dolce & Gabbana havia acabado de ocorrer e Dolce parecia emotivo. Sua sociedade com Stefano Gabbana tem mais de 30 anos e os dois vivem hoje uma fase dourada.

Desde que decidiram dar uma guinada no conceito das coleções, há quatro anos, e acabaram com a segunda marca D&G (que era mais acessível) para investir no universo dos muito, muito ricos, a grife se renovou. Além da linha de prêt-à-porter, eles agora oferecem roupas luxuosas feitas sob medida e apresentadas com toda a pompa - um vestido desses custa em torno de 100 mil euros.

Dolce e Gabbana se conheceram em Milão, quando trabalhavam na grife Giorgio Correggiari e, em 1985, lançaram a marca própria. Foram casados por 20 anos até 2003, quando decidiram terminar a relação e manter a sociedade. 

Há algumas temporadas, os estilistas ressaltam destinos paradisíacos e históricos da Itália e referências que vão do limão siciliano à Torre de Pisa. É uma moda opulenta, maximalista, decorada e festiva. "Itália é amor, é sangue na veia", diz Dolce.

No final de janeiro, as últimas coleções de alta moda foram apresentadas em um evento que durou três dias e trouxe vestidos inspirados nas óperas do compositor Giacomo Puccini. A passarela foi armada no palco do Teatro La Scala. "Somos italianos, amamos um drama", diz Gabbana. 

A última coleção de alta moda está ligada ao Teatro alla Scala. O que ele significa para vocês?
Dolce: Foi uma decisão arriscada. O Scala é um teatro muito prestigiado, palco de obras incríveis de Puccini, Toscanini, de artistas como Maria Callas e Pavarotti, pelo qual nós temos muito respeito. Quando imaginamos falar de Puccini, um ícone da cultura italiana, pensamos em apresentar a coleção no teatro. Sabia que seria realmente tocante.

Gabbana: Queríamos criar uma experiência nova para nós e para o público. Por isso, trouxemos a passarela para o palco. Da próxima vez, faremos no telhado. (risos) Em Paris, a alta-costura vem sendo colocada em xeque. Faz sentido apresentar coleções tão exclusivas nos dias de hoje?

Dolce: Aos poucos, nós vamos formando um grupo, como um clube privado. Quando vamos a um costureiro, não é apenas o bordado ou a modelagem que está em questão. A relação do costureiro com o cliente é uma relação íntima, de confiança. Isso é alta moda.

A moda como conhecemos hoje está no caminho certo?
Dolce: Na moda, você busca referências no passado para enxergar melhor o que vem pela frente. Se consegue fazer isso, aí sim, você é moderno e está na vanguarda. Algumas vezes, você pensa que a cultura e a tradição clássica não são atuais. Mas o que é moderno hoje? Para mim, moderno é viver intensamente o momento e criar coisas a partir do que se vive, de acordo com o seu contexto. A moda sobrevive assim. 

Qual é o futuro da moda em relação à forma de comunicar novas coleções ao público?
Gabbana: O mundo da moda mudou. A alta-costura não é mais só sobre estética. É sobre a experiência oferecida.

Dolce: Sempre fazemos os desfiles convidando as clientes e a imprensa para algum destino e oferecendo festas. Os clientes querem comprar um lifestyle. Esse é poder de Itália. Nosso estilo de vida é muito atraente.

O escapismo é uma tendência?
Gabbana: Nós precisamos sonhar e oferecer sonhos para a audiência. A fantasia é importante. Nessa coleção, misturamos a severidade e o rigor, que vêm da alfaiataria milanesa, com vestidos pretos incríveis, muito simples, com o visual das heroínas de óperas, aquelas mulheres intensas como a Madame Butterfly, a Tosca. Essa mistura cria um equilíbrio entre o sonho e a realidade.

Uma conhecida cliente brasileira da Dolce& Gabbana disse certa vez que vocês sabem vestir a mulher latina. Qual é o segredo?
Dolce: Corte as roupas no lugar certo. Modelar é uma arte de precisão, de encontrar o melhor balanço do tecido no corpo e é preciso estudar como funcionarão as proporções da roupa. Às vezes, você pensa na roupa no manequim e não dá certo. O vestido na manequim está morto. Ele ganha vida quando ganha um corpo. E você precisa tocá-lo do jeito certo, conversar com ele. Um vestido precisa de amor. 

Gabbana: Eu também! (risos)

Qual é o gosto da brasileira?
A brasileira ama estampa, estampa, estampa! De preferência com modelagem justa e salto alto. Nós sabemos exatamente o que nossas clientes usam porque vamos sempre aos shoppings. Para criar o prêt-à-porter, andamos pelo mundo vendo o que as mulheres estão usando e aprendemos muito com isso.

O Oriente Médio é um mercado importante e vocês acabam de lançar uma linha para muçulmanas. Como surgiu a ideia?
Dolce: Quando fomos a Dubai, vimos as roupas que elas estavam usando e pensamos: por que não fazermos alguma coisa especial para elas?

Gabbana: A chamada "roupa globalizada" não funciona. Na Rússia, vendemos casacos de pele porque eles têm frio e para eles é aceitável. Em outros países, é diferente. Nós buscamos entender as diferentes demandas e atendê-las. 

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