"O Complexo" traz debate sobre racismo e justiça em Porto Alegre

"O Complexo" traz debate sobre racismo e justiça em Porto Alegre

Produção da série encerrou as filmagens na capital gaúcha nessa semana 

Lou Cardoso

Papel de Isabél Zuaa tem a missão de defender Raul, personagem de Amaurih Oliveira

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Com a proposta de dar um novo ar sobre as séries policiais, "O Complexo" foi filmada em Porto Alegre e na região Metropolitana trazendo uma história típica americana, mas com a estética puramente brasileira. A produção da série, que tem previsão de estreia para março de 2020 no canal CineBrasilTV, teve suas filmagens encerradas nessa semana na capital gaúcha, além de terem passado por locações em Canoas e Viamão. 

Drama policial e de tribunal, o programa tem como pano de fundo a abordagem de temas como o conceito de justiça, segurança pública, racismo estrutural e a sua expressão na esfera judicial. A história foi idealizada pelo trio Gabriel Faccini, Tiago Rezende e Tomás Fleck, que contaram com a colaboração de Ana Saki, Luiz Santana e Mariani Ferreira no roteiro. 

Segundo Gabriel Faccine, um dos diretores, a equipe quis apostar em um produto mais sério, diferente do que já haviam produzido como na comédia "Necrópolis", produção disponível na Netflix.

"Surgiu a vontade de se apropriar de elementos narrativos que são típicos destas produções norte-americanas e trazer para uma realidade brasileira. Essa noção de complexo habitacional, fruto de um relacionamento com corrupção de processos burocráticos e envolvimento da polícia com crime organizado, eram coisas muito presentes para a gente trabalhar", afirmou. 

"Nossa referência é muito a estética da favela carioca e a gente também queria este olhar do Rio Grande do Sul. Nossas periferias e policiais são diferentes. Aqui no Sul, temos esta imigração tardia de alemães e italianos, que faz com que as nossas periferias sejam bem misturadas. E aqui é frio, é uma estética diferente. Foi um desafio dar uma identidade nova para série", completou. 

"Até onde vai a liberdade?"

“O Complexo” é um drama policial e de tribunal que acompanha a jornada de Raul (Amaurih Oliveira), um policial negro infiltrado dentro de uma comunidade periférica com a missão de coletar informações para derrubar uma organização criminosa. Nesta nova rotina, ele conhece Átila (Philippe Coutinho), um jovem que trabalha para Ganso (Tadeu Liesenfeld), um dos líderes do tráfico da comunidade. 

Entre os "complexos" internos que os personagens se deparam ao longo do desenvolvimento, Átila é um adolescente que se envolve com o tráfico na tentativa de buscar uma forma de sobrevivência. Contudo, conforme o próprio ator Philippe Coutinho destaca, o personagem representa muitos meninos negros que não possuem outra alternativa, a não ser se envolver com o crime organizado. 

"Eu me reconheço muito nele por causa da ingenuidade. Átila significa a vida de muitos jovens negros no Brasil que não têm escolha. Esses corpos que não têm a possibilidade de liberdade, eles são conduzidos a serem instaurados dentro de um sistema violento. Eu acho que a síntese dele é a impossibilidade de ter um futuro, de poder construir um caminho que não aquele que já está pré-moldado", ressaltou. 

Para Coutinho, o papel é carregado de questionamentos: "Ele é um adolescente em desenvolvimento. Ele traz esse ponto de vista sobre até que ponto as pessoas realmente tem liberdade? Até que ponto a gente pode escolher as nossas escolhas, de fato, sem com que tenha que tenha desvios? O Átila é esse ponto interrogativo." 

Representatividade negra 

No final desta jornada infiltrada, Raul ainda enfrenta um julgamento dos crimes que cometeu durante a infiltração, trazendo diversas reflexões na voz de sua advogada de defesa, Dejanira, papel da atriz portuguesa Isabél Zuaa. Para a interpréte, uma das suas referências foi o papel de Viola Davis na série "How To Get A Away With A Murder. 

"O fato dela ter força e conseguir, dentro da sua eloquência, combater algumas injustiças do sistema, foi a coisa que mais me me atraiu nesse personagem", relatou. "O desafio foi entender a coerência e lógica da pensamento do personagem e defendê-lo até o fim", completou. 

Mesmo que seja como forma de entretenimento, Isabél enxerga que os debates que a série traz sobre racismo e outras vertentes, dialogam perfeitamente com o momento do País. "Como diz a Nina Simone: 'nós enquanto artistas temos que refletir o nosso próprio tempo'. E esses temas vigentes estão em pauta em cima da mesa. São temas que a série tem de forma diluída, adaptada e direcionada. São temas focais e estamos falando agora. É importante. Espero que sejam bem aceitos pelo público", disse. 

Além de que a passagem de Isabél por Porto Alegre e pelo "O Complexo" lhe trouxeram lições valiosas:  "É muito intuitivo os esforços e os desafios da personagem Dejanira dentro de um sistema burocrático. Eu vou levar muita resiliência e humanidade desta personagem".


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