Peça "História do Futuro" aborda dura realidade da constituição do Brasil

Peça "História do Futuro" aborda dura realidade da constituição do Brasil

Atração começa em Porto Alegre nesta quinta-feira e vai até o domingo

Vera Pinto

Caco Coelho adaptou texto do século XVII

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Lima Duarte havia acabado de fazer o filme português “Palavra e Utopia” (2000), em que interpretava o padre Antônio Vieira, quando apresentou “História do Futuro” ao diretor e dramaturgo gaúcho Caco Coelho, que ficou assombrado com sua atualidade. Por tratar-se de uma revelação profunda acerca da complexa e ao mesmo tempo dilacerante onstituição de nossa pátria, resolveu transpor o texto para o palco, sob a direção de Eduardo Severino e supervisão de Vera Holtz. O espetáculo pode ser conferido no Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (Independência, 75), desta quinta-feira até o próximo domingo, sempre a partir das 20h. 

Sozinho em cena, tendo apenas como adereço uma poltrona futurista, mas que remete aos anos 1950, Caco contracena com um vídeo. Nele aparece um profeta, interpretado por Lima Duarte, ator que traduziu exemplarmente a simplicidade e alma do brasileiro, em papéis como Zeca Diabo e Sassá Mutema. Ele dá voz, muitas vezes em latim, a Antônio Vieira (1608-1697), pioneiro na história da literatura, a prever a ideia de um país do futuro. Por meio da leitura das sagradas escrituras, vislumbrou a antecipação desta terra prometida. Além das riquezas naturais, este país situado imediatamente atrás da Etiópia e imensamente rico, só poderia ser o Brasil.

Inicialmente, Vieira fala da sedução da humanidade sobre o prescrutamento do futuro e discorre sobre várias formas imagináveis de desvendá-lo. A seguir, incursiona na ideia de uma pátria abundante, mas habitada por um povo terrível. “Um texto atemporal tratando de um tema reincidente: a corrupção do ser humano. Através de uma leitura contemporânea trará uma nova reflexão, tão necessária neste momento”, afirma Vera Holtz, que tem acompanhado e orientado todo o processo da montagem. 

“O que há de se fazer com esta terra? Pensam que só os tapuias comem uns aos outros? São piores os homens que os corvos. Que maldade é esta? Quem as comete?”. Estes são alguns dos trechos do trabalho. Os roubos de nossos tesouros, os subornos e as negociatas estão ali, assim como os altos salários, as demissões, as empreiteiras, o desarmamento, as agências reguladoras e festas suntuosas, em uma crítica ao nosso momento recente. “Políticos, governantes, empresários: quanto arrancar?”, vem na sequência. Para Caco, “deixará de ser história do futuro e será história do presente, dado o cumprimento das profecias”.

O conhecimento das camadas primordiais que constituem o povo brasileiro estão nesta profunda, bela e quase desconhecida narrativa, fundamental para que se possa entender nossa história. Quando o Brasil vive sua maior crise ética, entrega a reflexão ao público ansioso por buscar na arte, um fator gregário. As apresentações contarão com bate-papo e ainda com pessoas que lidam com o futuro. 


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