Pitty volta ao rock para retomar rotina de shows

Pitty volta ao rock para retomar rotina de shows

Cantora se apresenta na capital no mês de agosto no Opinião

Daniel Soares / Correio do Povo

Pitty faz show na capital no mês de agosto no Opinião

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Pitty deu um tempo no rock e abraçou o experimentalismo folk do Agridoce. Deu certo, mas a veia da roqueira estava precisando voltar a pulsar. E ela retorna com tudo em “SETEVIDAS”, que ela apresenta em Porto Alegre no próximo dia 21 de agosto, no Opinião.

Caderno de Sábado - O novo trabalho foi gestado de que forma? Ainda durante o Agridoce?
Pitty - Não, ele tomou forma mesmo e se tornou consistente depois que a turnê do Agridoce acabou; foi aí que eu tive tempo de organizar as ideias, escrever especificamente pra isso. Claro que tem coisas que ficam no ar e algumas sensações podem ter vindo desde antes, mas vejo esse disco como um capítulo pós-Agridoce mesmo.

CS - O álbum foi gravado ao vivo no estúdio. Essa foi uma opção desde o início do projeto?
P - Sim. No “Chiaroscuro” (disco anterior) já tínhamos gravado assim e no “SETEVIDAS” demos mais um passo adiante nesse método. Dessa vez foi ainda mais ao vivo se é que me entende, com zero de isolamento entre os instrumentos e inclusive os músicos tocando sem fone de ouvido, se ouvindo na sala mesmo, como num ensaio. É um desafio grande gravar dessa forma, a banda precisa estar ensaiada e disposta a tocar até todos acertarem o take, e a mixagem depois precisa ser mais cuidadosa e precisa para lidar com os vazamentos. Mas traz uma vibe muito viva e visceral e era isso que estávamos buscando.

CS - Uma das coisas que sempre observei no teu trabalho, e principalmente como letrista, é que você parece escrever diretamente pra quem te ouve, como alguém contando algo, mesmo sabendo o tom confessional delas. Em “Boca Aberta” tem o “eu quero minha vida de volta”. Como foi teu processo de composição?
P - O processo de composição se deu basicamente durante o ano de 2013 e muitas vezes era meu velho esquema: sozinha com o violão ou piano, papel e caneta. Outras já tinha o instrumental e arranjei com os meninos, e depois fui escrever. Nessa hora, da escrita, eu procuro me conectar com o inconsciente coletivo, com aquilo que é meu e também de todos nós, coisa de gente. Nossas idiossincrasias e pequenas minúcias, desejos, aflições. Tento me colocar como antena, captando coisas, somente à serviço desse inconsciente. Como o cavalo no terreiro ou como um vórtex: apenas instrumento de transmissão de algum sentimento que já está aí. É um paradoxo, porque é de certa forma egoísta e muito autobiográfico, mas só se realiza e faz sentido no coletivo. Acho que resumi meu desejo quando escrevi numa frase do disco anterior: “Eu queria era dizer diferente aquilo que todo mundo sente, mas não consegue explicar”.

CS - Uma das canções que mais gostei foi “Lado de Lá”, com o piano meio Faith No More. Me fala um pouco dela e de “Pequena Morte”.
P - É legal quando alguém tem as mesmas referências e saca as coisas: algumas pessoas ouviram e pensaram em Muse, mas eu também penso muito mais em FNM e em Nina Simone em relação a essa música. “Lado de Lá” é um réquiem, uma homenagem, uma despedida. E acima de tudo isso, uma pergunta. Foi muito difícil escrever essa música e não sei como e se vou conseguir tocá-la ao vivo. Já “Pequena Morte” era uma base que eu e Martin tínhamos feito aqui em casa havia um tempo e eu resolvi botar letra. Queria que ela tivesse uma pegada de blues, de sinuosidade e a batida já remete a uma coisa de bicho, de instinto. Senti que ela precisava de uma letra que endossasse essa sensualidade e me veio a imagem dessa mulher meio “dominatrix”, dona de seus desejos e da sua própria “pequena morte”, que é como os franceses se referem ao orgasmo. Imagino essa cena, a dessa mulher chegando num clube enfumaçado, reconhecendo e cercando sua presa, e recuando, e dando mais um passo e esse jogo acontecendo em qualquer pista de dança que exista por aí.

CS - Não que destoe do álbum, mas “Serpente” parece uma música de celebração, enquanto o tom contestador é mais latente no resto. É isso?
P- É sim. Porque é o fim dessa história, é o último capítulo. É a redenção, a resiliência, a não-rendição. É a recusa a sucumbir à amargura, à raiva e ao cinismo. É a hora de respirar, de botar a cabeça pra fora d’água depois de tomar um monte de caldo e de quase se afogar e ver que o mar acalmou. Saber que uma hora ele vai se agitar de novo, mas celebrar esse momento e se preparar pra isso.

CS - Ainda te restam três vidas como você canta? Dá pra falar sobre isso?
P - É metafórico, então eu poderia te dizer um monte de coisas subjetivas e todas caberiam aqui, rs

CS - O projeto Agridoce de certa forma deu um descanso na tua imagem de “roqueira brasileira”. Está pronta pra tudo de novo, estrada, shows, televisão?
P - Prontíssima. Esse tempo foi ótimo por isso: pra descansar não necessariamente da “imagem”, porque isso é só ilusão; mas para desestressar das pequenas coisas do dia a dia dessa profissão que às vezes são bem chatas, cobranças, concessões, muita gente o tempo todo ao redor. Gostei da experiência e hoje acho que dar um tempo é a melhor coisa. É o que faz a coisa ser sempre verdadeira, renovada. Voltei muito mais paciente, amorosa, cheia de vontade. É isso. Quando sentir que a coisa tá ficando burocrática e com cara de “bater cartão”, é hora de parar. Afinal de contas, foi exatamente para fugir disso que eu quis ter banda de rock.

CS - E é bom estar de volta ao rock?
P - Mais do que isso: é essencial. É vida.


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