Túlio Piva: legado a ser conhecido e preservado

No dia 11 de fevereiro serão completados 28 anos da morte de Túlio Piva, músico que marcou a música do Rio Grande do Sul e do país. Consagrado pelo dedilhar único do violão e por influência de ritmos que foram do tango ao samba, suas canções foram interpretadas por nomes como Elis Regina, Elza Soares, Jair Rodrigues, Germano Mathias, Demônios da Garoa, Noite Ilustrada e Luiz Vieira. A família do artista, especialmente seu neto, Rodrigo Piva, trabalha pelo resgate de sua memória e preservação do acervo para que as novas gerações conheçam a produção de Túlio Piva. A sua ideia é criar um museu virtual. 

Nascido em Santiago (RS), em 4 de dezembro 1915 (morto em 11 de fevereiro de 1993), Túlio Piva ganhou destaque pelo pioneirismo ao compor sambas com um “sotaque gaúcho”, com a poética mistura de suas influências fronteiriças, tango e o samba do Rio de Janeiro. Um gaúcho descendente de italianos, que em suas canções falava sobre a vida no morro, pandeiro e batucada. Entre as principais obras de Túlio destacam-se os sambas "Gente da Noite", conhecido como o hino da boemia de Porto Alegre e nome de uma casa noturna, que funcionou na Avenida João Pessoa, nos anos 80. Outra música muito conhecida é "Pandeiro de Prata", grande vitoriosa do II Festival Sul-Brasileiro da Canção Popular (1968), além de "Tem Que Ter Mulata", a qual recebeu dezenas de gravações e interpretações, inclusive na Rússia, Estados Unidos e Venezuela. Túlio Piva, ao lado de seu conterrâneo Lupicínio Rodrigues, é um dos maiores nomes da música popular gaúcha. 

O acervo deixado por Túlio Piva está sob a guarda de Rodrigo Piva, neto mais velho do músico. O material reúne fitas de vídeo (shows, entrevistas, programas de TV), fitas de rolo com registros históricos, fotografias, poesias e escritos inéditos, partituras e dezenas de fitas cassete com mais de 400 canções gravadas pelo autor em voz e violão - a maioria delas inédita. É o registro de 50 anos de atividade artística. A partir de pesquisa do acervo foi originado o CD "Túlio Piva – Composições Inéditas" (disponível no Spotify), lançado em 1996, que resgata uma pequena parte das mais de 200 composições inéditas deixadas pelo sambista. 

A trajetória de Túlio também está no filme “Pandeiro de Prata”, dirigido por Marco Martins e Loli Menezes (Vinil Filmes), com raras imagens de arquivo e de áudio, entremeadas por depoimentos de amigos, familiares e personalidades de destaque no cenário artístico. O filme foi realizado com recursos arrecadados em uma campanha de financiamento coletivo, especialmente para homenageá-lo pelo centenário de seu nascimento. O neto Rodrigo Piva assina a produção musical. Em outubro de 2017, o documentário foi selecionado e exibido na mostra competitiva do Festival Internacional de Cinema de Arquivo - RECine, realizado no Rio de Janeiro/RJ, na Cinemateca do Museu de Arte Moderna. 

Um dos projetos de Rodrigo Piva, para dar continuidade ao trabalho de preservação, recuperação e divulgação da obra de seu avô, é a criação de um museu virtual, para a disponibilização do riquíssimo acervo deixado pelo compositor gaúcho. “A totalidade do acervo de Túlio Piva se encontra, há quase 20 anos sem receber os devidos cuidados técnicos, necessários ao seu tratamento e conservação. Além disso, pela sua importância histórica, esse precioso material merece e deve ser ao alcance do público em geral”, diz. Segundo Rodrigo, já na última etapa da vida, Túlio começou a gravar em fitas cassete e a indexar as suas composições, que são mais de 300, entre as quais mais de 200 inéditas. Ele relata que o trabalho de resgate da obra do avô é um compromisso pessoal que assumiu. “Não há dúvida que ali está uma parte da memória musical brasileira, que deve ser colocada, obrigatoriamente, ao alcance das futuras gerações”, conclui.