'Torto Arado' conquista o prêmio Oceanos

'Torto Arado' conquista o prêmio Oceanos

Livro do escritor baiano Itamar Vieira Junior foi anunciado na tarde desta sexta-feira em cerimônia virtual no canal do YouTube do Oceanos e no site do Itaú Cultural

O autor de "Torto Arado", o livro vencedor do Oceanos 2020, Itamar Vieira Junior

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Em cerimônia transmitida ao vivo, pelo canal no YouTube do prêmio e no site do Itaú Cultural, na tarde desta sexta-feira, o Oceanos anunciou os três vencedores da edição de 2020. Participaram do encontro os quatro curadores – Adelaide Monteiro, de Cabo Verde; Isabel Lucas, de Portugal; Manuel da Costa Pinto e Selma Caetano, do Brasil – e, por vídeo, os escritores premiados.

O romance "Torto Arado", de Itamar Vieira Junior, publicado pela editora LeYa, em Portugal, e pela Todavia, no Brasil, foi o vencedor do Oceanos. A professora, crítica literária e jurada portuguesa Joana Matos Frias destacou: “Torto arado é um romance raro e arrebatador por ser ao mesmo tempo absolutamente local e absolutamente universal – ancoradas num espaço geográfico e sócio-cultural muito específico, na Chapada Diamantina do estado da Bahia, as personagens parecem mover-se sempre num lugar-não-lugar, habitando assim uma geografia original cujos prodígios aprendemos a admirar com o melhor de James Joyce e de William Faulkner, de Graciliano Ramos, de Guimarães Rosa ou de Gabriel García Márquez, e certamente com o Raduan Nassar que Itamar Vieira Junior escolheu para a abertura da sua narração. Fruto de uma escrita tão límpida que parece ocultar a sua enorme complexidade, 'Torto Arado' cumpre acima de tudo um propósito que a muito poucos é dado cumprir: é um livro para ser lido por todos os leitores”. Em vídeo enviado ao Oceanos, Itamar declarou: “Torto Arado é uma história de amor à terra que me foi narrada muitas vezes, por conta de meu trabalho como servidor (público), com camponeses, trabalhadores rurais, quilombolas, indígenas, assentados, acampados, ribeirinhos e comunidades tradicionais como um todo, ao longo de 15 anos. Cada comunidade elabora esse sentimento em relação à terra de forma diferente, mas que atravessa suas vidas de uma maneira comum. (...) Este livro é um retrato – o meu retrato – do Brasil deste tempo em que vivo, um Brasil que tem uma profunda conexão, ainda, com o seu passado mal resolvido.” O livro vencedor recebe R$ 120 mil; o segundo colocado, R$ 80 mil, e o terceiro, R$ 50 mil. 

 

O segundo lugar foi para o romance "A Visão das Plantas", da portuguesa nascida em Angola Djaimilia Pereira de Almeida, editado em Portugal pela Relógio D’Água. A escritora também venceu a edição 2019 do prêmio com o romance Luanda, Lisboa, Paraíso. De acordo com a professora e crítica literária de origem santomense Inocência Mata, também jurada do Oceanos, "A Visão das Plantas" é uma reflexão sobre a pós-humanidade, em que diferentes entendimentos de ‘meio ambiente’ são revelados e explorados. Mais do que perseguir o fim da vida de um homem cujo passado é muito obscuro, a narrativa questiona o lugar do humano na natureza, através de disponibilidades mentais como esperança, compreensão e sentido de pertença. (…) Uma história em que representações da não-humanidade (as plantas, as flores, os frutos, os animais, os fenômenos atmosféricos…) surgem como possibilidade redentora da condição humana”. O livro parte de um parágrafo do livro "Os Pescadores", de Raul Brandão. Em vídeo enviado ao Oceanos, Djaimilia afirmou: “eu andei durante muitos anos à volta dessas linhas – que, desde o princípio, me assombraram –, em que o autor recorda uma figura que conheceu na sua infância, um homem chamado Celestino, que, tendo tido um passado feroz, selvagem e misterioso, regressou a Portugal, onde terminou seus dias cultivando um jardim com uma particular delicadeza”.

 

O terceiro lugar ficou com "Carta à Rainha Louca", da brasileira Maria Valéria Rezende, contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2015-2016 e publicado no Brasil pela editora Alfaguara. “No romance”, pontuou o jurado, professor e crítico literário João Cezar de Castro Rocha, “estamos em Olinda, num ano emblemático de ambos os lados do Atlântico: 1789. Encerrada no Convento do Recolhimento, Isabel das Santas Virgens escreve à Rainha Maria I. A longa carta, destinada a não merecer resposta, revela a ‘ausência onipresente’ que ainda hoje domina a história brasileira: nas Minas Gerais, o quinto e a derrama; em Canudos, os impostos e o exército; nas comunidades das periferias das cidades, a desigualdade e a polícia”. Nas palavras de Maria Valéria, também em vídeo enviado ao Oceanos, “este é um livro que veio se construindo desde os anos 1970, quando, na falta de outras coisas para ler, eu me abastecia, no sertão da Paraíba, na biblioteca de um padre muito erudito, de coleções de sermões do Padre Antônio Vieira e outros pregadores famosos dos séculos 17 e 18. (…) Naquilo que parecia obsoleto a quem vivia nas cidades, eu percebia uma linguagem – vocabulário e mesmo estrutura das frases – que escutava do povo com o qual eu convivia.”

 

O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores. Ao todo, foram 6.064 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores. Fizeram parte do Júri Final, que leu e avaliou as 10 obras finalistas para eleger os três vencedores desta edição, seis profissionais: os professores portugueses Joana Matos Frias e Carlos Mendes de Sousa, a professora de origem santomense Inocência Mata, a poeta brasileira Angélica Freitas e os professores brasileiros João Cezar de Castro Rocha e Viviana Bosi. 


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