Walter Galvani: De Mosquito Elétrico ao incansável jornalista e escritor

Walter Galvani: De Mosquito Elétrico ao incansável jornalista e escritor

O apelido da juventude em Canoas previa que Walter Galvani seria aquele irrequieto, incansável e generoso profissional da comunicação, da história e das letras

Luiz Gonzaga Lopes

Walter Galvani foi um incansável, com sua busca pela comunicação, pelas letras, pela leitura, pela história, pela cultura

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Walter Galvani foi o típico exemplo de um homem incansável, irrequieto, que sempre tinha algum projeto em mente e que nunca sossegava. Nos seus tempos de colégio no Externato São Luiz em Canoas, com amigos como Antonio Canabarro Tróis Filho e Lineu Medina Martins ele recebeu o apelido de Mosquito Elétrico, pois era franzino, irrequieto, sempre ligado nos 220 volts. Aliás, Galvani sempre elogiava o colégio em suas entrevistas, hoje Colégio La Salle e Unilasalle, no centro de Canoas, principalmente o irmão Henrique Justo e a fundação do grêmio literário que o ajudou a ter gosto pelo texto. Quando fundou o jornal Expressão em agosto de 1954, o seu texto começou a aparecer ainda mais. O jornal foi fundado sob a égide do suicídio de Getúlio Vargas e Galvani e seus colegas de publicação eram favoráveis à Carlos Lacerda, mais pela questão do jornalismo fazendo oposição a um presidente.

Foi em 1955 que Galvani deu o grande salto de sua carreira. Incentivado por Lineu que já trabalhava na revista do Globo, Galvani foi até o Correio do Povo conversar com o chefe da redação Cid Pinheiro Cabral e preencher uma vaga de jornalista esportivo. Após uma semana, Cid chamou Galvani para uma das sacadas, as mesmas que os profissionais do Correio do Povo frequentam nos dias atuais (ou antes da pandemia) para atender a uma ligação mais discreta de uma fonte ou particular. Na sacada, Cid disse a Galvani que não tinha dado certo. Galvani então pensou na vergonha de voltar a Canoas sem o sonho de ser jornalista no CP e pediu mais uma semana. “Foi um peitaço”, disse Galvani. Cid aceitou e Galvani ficou sendo um dos principais jornalistas da empresa. No esporte, começou a fazer nos dois principais clubes, Inter e Grêmio. No mesmo ano, em novembro de 1955, ele viu a montagem de bancas na Praça da Alfândega e chegou na redação dizendo que haveria uma Feira do Livro. Ao que o chefe Cid e também Breno Caldas disseram que o que ele estava fazendo lá que não voltava para a Alfândega e trazia a notícia.  Galvani escreveu o livro A Feira da Gente sobre os 50 anos da Feira do Livro de Porto Alegre.

Já nos anos 1960, Galvani foi para o setor cultural e de promoções do jornal e promoveu concursos de música, os dois primeiros foram ganhos pelo Conjunto Melódico Norberto Baldaulf. Foi crítico de teatro naqueles anos de Correio do Povo e Folha da Tarde e em 1967, ele assumiu seu primeiro posto de chefia, secretário de redação da “Folha da Tarde”. Na sua gestão, desenvolveu trabalho de renovação dos quadros da Empresa Jornalística Caldas Júnior, tendo instituído o sistema de estágio para alunos dos cursos de jornalismo. A jornalista Ema Reginato Belmonte entrou para a redação como estagiária da PUC, junto com outras duas colegas. Ema permaneceu 50 anos na redação do da Caldas Júnior, tendo trabalhado até 2017, na editoria de Ensino do Correio do Povo. Em 1971, Galvani transferiu-se para o Correio do Povo, para atuar como subsecretário de redação, interrompendo sua atuação para servir ao governo do estado do RGS, como assessor de comunicação social em 1975. Em outubro de 1975 assumiu a secretaria de redação da Folha da Manhã, retornando ao “Correio do Povo” em 1980. Foi diretor de redação da Folha da Tarde, de 1981 a 1984. Galvani estava presente num dos momentos mais difíceis da Caldas Júnior, com o fechamento dos jornais em 1984. Na época, o jornalista encaminhou o seu processo de aposentadoria pelo INSS. De lá foi para a Rádio Pampa. Trabalhou na rádio Guaíba desde o seu início em 1967. O seu grande auge, na minha opinião, foi o Guaíba Revista, iniciado em 1998, programa vespertino que entrevistou grandes celebridades da cultura nacional e que foi exibido até o final dos anos 2000. Galvani escreveu também para a revista do Globo, para o Clarín, para o ABC Domingo, para jornais de Guaíba, Canoas, Pelotas, entre outros.

Como escritor, reputo como os seus principais livros “A Noite do Quebra-Quebra”, "Olha a Folha", “Um Século de Poder”, com a história do Correio do Povo nos seus primeiros 100 anos, e “Nau Capitânia”, sobre a navegação de Pedro Álvares para o descobrimento do Brasil. Dos romances, “Anacoluto – do Princípio ao Fim” (Record, 2003) foi o mais significativo, pois tratava de um tema pouco retratado à época, o mal de Alzheimer. O lançamento foi durante a 49ª Feira do Livro de Porto Alegre em 2003, quando Galvani foi escolhido patrono. Nesta data, eu dediquei o meu primeiro autógrafo a ele. Foi no lançamento da coletânea da 9ª edição do livro Histórias do Trabalho. Como patrono, Galvani chegou primeiro e eu deu o meu primeiro autógrafo a ele, agradecendo a sua generosidade para com o amigo. Galvani era taurino de 6 de maio de 1934 e eu, taurino de 5 de maio de 1969. Nos identificávamos por esta incansabilidade, por esta eletricidade, pela busca, pela pesquisa, por esta multiplicidade.  Um grande jornalista, um grande escritor, uma lucidez aos 87 anos que eu só vejo em caras como Sérgio da Costa Franco, Luiz Osvaldo Leite, entre outros. A última vez em que conversamos pessoalmente foi no velório de Ibsen Pinheiro no início de 2020. Como sempre, Galvani queria me apresentar pessoas, me chamando sempre de Luizinho, o meu apelido de infância. Vá com Deus, amigo Galvani, o Mosquito Elétrico de Canoas


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