O extraordinário é agora
Por Felipe Camozzato, deputado estadual do Rio Grande do Sul pelo partido NOVO
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Nestes últimos dias, tenho me questionado: quanto esforço merece a família do Roberto? Ele trabalha no atendimento de um hotel no centro de Porto Alegre, e, na sua casa, a água passou de 1,50m de altura — levando eletrodomésticos e móveis, danificando seu piso novo e destruindo álbuns de fotos e documentos com a memória da sua família.
Como se essa tragédia já não bastasse, agora ele vê também seu emprego sob risco. Isso porque, assim como em seu hotel, centenas de outros pelo Rio Grande do Sul já não colocam mais um buffet no café da manhã. Também pudera, com tão poucos hóspedes, não vale a pena. E isso se repete em restaurantes, comércios, agências de viagens e até mesmo nas vendas da carrocinha de algodão doce do parque.
Seja na Serra Gaúcha, seja na Região Metropolitana de Porto Alegre, o fechamento do aeroporto Salgado Filho representa uma catástrofe adicional para a economia gaúcha. Indústrias desabastecidas de peças, negócios que deixam de ser fechados, vistorias canceladas, projetos protelados, empregos em risco. Uma crise dentro de outra crise. Com a perspectiva de reabertura somente para dezembro de 2024, assistiremos de camarote à família do Roberto e de outras tantas ruir. Haja auxílio emergencial!
Porém, está se fazendo todo o esforço necessário para evitar mais essa tragédia? No que diz respeito aos impasses financeiros, será que já não deveria ter sido transferido recurso direto para a concessionária, condicionado à pronta atuação na recuperação? O Congresso, eventualmente, poderia autorizar tal medida extraordinária.
Em entrevista, a presidente da concessionária coloca prazos de 45 dias para diagnósticos da pista, outras tantas semanas para novos projetos, além do tempo de execução de obras. Me pergunto: vale a pena aguardar? O receio em “desperdiçar” alguns milhões a mais refazendo o subleito da pista será que paga pelo prejuízo do tempo parado? Não valeria a pena já iniciar essa obra e assumir esse gasto a mais como prejuízo realizado para “comprarmos tempo”?
Da mesma forma, a Base Aérea de Canoas, que hoje recebe menos de uma dezena de voos comerciais: será que não poderia — em medida temporária e extraordinária — suspender ou deslocar suas atividades militares, liberando rapidamente sua estrutura e capacidade para recebimento de algumas dezenas de voos adicionais em caráter temporário? Ouço que a ANAC precisa autorizar mais voos e que os militares precisam indicar horários possíveis de operação, para só então as companhias aéreas viabilizarem passagens e voos. Estamos mesmo usando toda a capacidade possível dessa alternativa concreta que fica a poucos quilômetros do aeroporto fechado?
É lógico que os questionamentos que trago aqui são de um leigo. Estou sujeito ao erro e ao absurdo. Porém, é inequívoca a minha intenção de deixar claro que — para a população gaúcha e brasileira que se relaciona com o estado— o esforço empenhado atualmente não nos é suficiente. Valorizamos, reconhecemos e agradecemos o que vem sendo feito, mas precisamos do esforço extraordinário. Ou é isso, ou é a crise dentro da crise. Governos, Forças Armadas, Fraport: pensem nisso. O Roberto e sua família merecem.