Para não esquecer jamais

Para não esquecer jamais

Por Adriana Arend, jornalista

Correio do Povo

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E se homens desconhecidos entrassem na tua casa e levassem sem dar qualquer satisfação a ti, teu marido, tua filha adolescente, sem dizer para onde, para quê, nem por quê, nem até quando? E não, esses desconhecidos não seriam ladrões, mas agentes do Estado, sem autorização judicial, e que supostamente deveriam proteger sua família e agir legalmente. Absurdo, não é mesmo?.

Infelizmente, fatos como esse aconteceram no Brasil recentemente, sendo constatados pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Atingindo milhares de pessoas e famílias. Maltratadas, torturadas, mortas. Muitas ainda hoje sem sequer saber o que de fato aconteceu com seus entes queridos, sem poder velar seus mortos. Isso é retratado no filme “Ainda estou aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, que conta como a ditadura, implantada no regime militar, destroçou uma família depois que o pai foi levado de dentro de casa e nunca mais retornou. A mãe ficou dias detida, assim como a filha. E outros quatro filhos, crianças e adolescentes, à deriva, sem qualquer notícia.

Realidade que não podemos deixar cair no esquecimento. Porém leio, estarrecida, que há um boicote “ideológico” ao filme nas redes sociais. Somente, quero acreditar, por desconhecimento das atrocidades cometidas no período, pois não há argumentos que justifiquem barbáries perpetradas pelo Estado.

O Brasil precisa urgentemente de Memoriais (recomendação 28 da CNV) que eternizem esse período sombrio, bem como de educação nas escolas sobre as nefastas consequências de um regime ditatorial.

No início deste ano, estive em Buenos Aires, em data que marcava a ditadura naquele país. As escolas traziam desenhos de estudantes que reproduziam lenços de cabeça, simbolizando os usados pelas sofridas mães da Plaza de Mayo, que tiveram seus filhos arrebatados e nunca devolvidos pela ditadura argentina. Prédios trazem placas identificando locais onde moraram e estudaram vítimas do regime. Para não esquecer, para não se repetir, sob o lema “Argentina, nunca más”.

Que aqui também seja assim. Ditadura, nunca mais! Estamos aqui, ainda e sempre, vigilantes pela democracia brasileira.


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