"Cão-domínio" abriga 208 "quatro patas"

"Cão-domínio" abriga 208 "quatro patas"

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Quem sai de Capão da Canoa rumo à BR 101 pela estrada que vai a Maquiné tem a atenção voltada para um sítio, no km 4 da ERS 407, nº 4.115, que tem mais de 30 casinhas com cachorros amarrados à beira da rodovia. Trata-se do sítio São Francisco de Assis, também chamado de“cão-domínio” pelo aposentado Paulo Roberto Silvello Giglio, o Paulinho da Filler, dono da propriedade e dos 192 cães, dos dois cavalos e das 14 tartarugas que habitam o lugar. Giglio tem uma história de mais de 25 anos de amor aos animais.
Paulinho conta que começou pegando os animais que ficavam abandonados no litoral depois das temporadas de veraneio. Os cachorros eram deixados à própria sorte. Geralmente porque apresentavam alguma doença, como sarna, cegueira, bicheira ou qualquer outro problema. “Cada animal tem uma história triste. Eu vejo os bichos na rua e me sensibilizo. Mas também não adianta deixá-los aqui na frente que eu não fico com eles. E nem querer adotar um dos cachorros. Não posso me desfazer deles. Eu só aceito que as pessoas adotem um cão sem levar para casa. Elas podem me ajudar dando ração, depositando dinheiro na conta para poder pagar os serviços veterinários”, explica.
Giglio gasta em torno de 100 quilos de ração por dia e tem acordo com o veterinário Rafael Machado Simoni, que atende os cães cobrando abaixo do valor de mercado. “O que o Giglio faz não tem explicação. Ele faz o serviço que deveria ser da prefeitura. Ele vive para isso. Os piores casos que atendi foi ele quem trouxe. São cachorros que sofreram maus tratos, foram atropelados, estavam com patas ou membros gangrenados”, reconhece.
Paulinho precisou abandonar a casa do sítio para deixar mais espaço para os animais. “Tirei as portas e janelas da casa e agora são eles que moram aí. Eu aluguei uma casinha em Capão para viver com a minha esposa, Rose. Lá no fundo do terreno fica um cemitério onde enterro os animais que morrem. Tem um caseiro que faz o enterro para mim. Não consigo enterrar meus cachorros. Alguns não resistem ao processo de cura, outros morrem de velhice mesmo. Já enterrei mais de cem”, observa.
Religioso, Giglio mantém uma bíblia no carro, uma correntinha no pescoço e a imagem de São Francisco no muro do sítio. Muitos comerciantes doam pães, bolos e alimentos para ele. “Ganho cerca de 100 quilos de pães por dia no verão. Isso me alivia na ração. Gasto cerca de R$ 180,00 diariamente em ração e medicamento. Nenhum dos meus cachorros têm pulgas, porque o terreno é muito úmido. No inverno, ganho carne. Toda a ajuda é bem-vinda”, completa. Quem quiser ser padrinho de um cachorro, cavalo ou tartaruga, pode fazer depósitos nos bancos Santander (Agência 1065 - Conta 600012593) ou Banrisul (Agência 0168 - Poupança 39163719.0-8).

Relatos de dedicação e amor

"Ao chegar, o carro estacionou ao lado de um Rotweiller. Desci e o animal aproximou-se. Era uma fêmea de nome Zaira. A fera abanava o toco de rabo como se quisesse brincar. Relutante, dei a mão para que ela cheirasse e ela ofereceu a cabeça para que eu a afagasse. “Essa aí foi abandonada aqui na frente com as quatro patas machucadas e inflamadas. Ela acabou perdendo alguns dedos, mas consegui salvá-la”, explicou Giglio.
Do outro lado do carro, um São Bernardo também se destacava pelo porte físico. André, o fotógrafo, foi em sua direção respeitando o animal e Kiara se deitou oferecendo sua barriga para o carinho. “A Kiara eu peguei na frente da casa do dono. Perguntei para ele se a cadela tinha dono. Ele me respondeu que a colocara na rua para morrer. Peguei o animal (a cadela, não o dono), e coloquei-a no carro. Estava com pneumonia e com inflamação generalizada. É um doce de cachorro”, relatou.
De longe, um dos animais que mais chamava a atenção era uma pequena vira-lata que estava amarrada em uma casinha e que não tinha a pata direita dianteira. “Aquela é a Prisa, a única entre os 192 cães que não deixa ninguém chegar perto”, afirmou. Ao me aproximar, Prisa logo mostrou os dentes e começou a rosnar. Giglio então começou a conversar com ela, deixando a vira-lata mais calma, mas nem por isso me aproximei. “Tivemos que amputar a perna dela porque estava gangrenada devido a maus tratos”, garatiu. Paulinho mantém as fêmeas castradas para evitar que nasçam mais cães.

Texto: Nildo Jr
Fotos e Vídeo: André Ávila


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