Mormo deixa autoridades sanitárias em alerta

Mormo deixa autoridades sanitárias em alerta

Diretor do Simver/RS afirma que o RS está diante do "fim do silêncio epidemiológico"

Luciamem Winck

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O fim do “silêncio epidemiológico”

João Pereira Júnior

Diretor do Simvet/RS

O mormo é uma doença que acomete os equídeos (cavalos, asininos e muares) por meio da bactéria Burkholderia mallei, tem potencial zoonótico (pode ser transmitido a seres humanos), não há cura nem prevenção por vacinas. É uma das enfermidades infectocontagiosas mais antigas do mundo, presente em diversos países (Ásia, no Oriente Médio e na América do Sul). No Brasil a doença foi descrita pela primeira vez em 1811. Havia vários relatos da ocorrência da enfermidade em equídeos e humanos até a década de 60. Dos anos 60 até os anos 90, após o árduo trabalho sanitário houve um período de “silêncio epidemiológico”, a doença parecia ter sido erradicada no Brasil.

Após esse período de silêncio epidemiológico, a doença foi diagnosticada novamente no ano de 1999 nos estados de Alagoas e Pernambuco. Desde então, vem se alastrando por todo o território nacional. No Rio Grande do Sul foi diagnosticado pela primeira em junho de 2015, no município de Rolante. Até 2017, o Estado estava totalizando 47 focos. De julho de 2017 até setembro de 2019 não tinha ocorrido mais nenhum foco, fato esse que fez com que a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural pleiteasse junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento a zona livre de mormo. Essa semana tivemos a notícia de dois novos focos (em São Lourenço do Sul e Santo Antônio da Patrulha), fato esse que inviabiliza momentaneamente o inquérito para considerar o RS zona livre da enfermidade.

O Sindicato dos Médicos Veterinários do RS (Simvet/RS) vinha alertando sobre ser muito precoce essa solicitação de zona livre, igualmente destacávamos a necessidade de um trabalho mais intenso na fiscalização de rodovias, de eventos equestres, dos profissionais que trabalham na coleta de material e na admissão em eventos equestres, e como é importante os proprietários de equinos e os médicos veterinários denunciarem as práticas irregulares no processo (evento equestre com fiscalização débil, profissionais não coletando sangue de maneira correta, eventos clandestinos ou que permite entrada de animais sem passar pela fiscalização). Tivemos uma fase de muita desconfiança por parte dos proprietários. Muitos desconfiavam que a doença realmente existia, se a mesma poderia realmente contaminar humanos e se os testes eram seguros.

Esses questionamentos já foram exaustivamente debatidos e comprovados. Não podemos mais perder tempo com essas questões. Sanidade é um assunto extremamente sério, não há espaço para “achismos”. Outra discussão envolve o custo do exame. Realizamos uma pesquisa no Estado com diversos médicos veterinários e o valor médio cobrado é de R$ 130,00 (variando por conta da logística do envio do exame). Gostaria de lembrar que a validade do mesmo é de 180 dias, ou seja, custo médio mensal de R$ 21,50. Com certeza, ninguém gosta de custos extras, mas será que R$ 21,50 mensais impacta tanto assim na manutenção mensal do equino?

Precisamos ampliar a discussão para formas de fiscalização, papel de cada entidade no processo, erros e acertos até o momento. Precisamos unir forças para não somente conseguirmos a zona livre de mormo, mas para que tenhamos um Estado capaz de não permitir a entrada de qualquer doença contagiosa que possa atingir nossa manada. Para tanto, a contribuição dos proprietários é fundamental. Não podemos perder esta batalha. Precisamos agir rapidamente para evitar que, além do mormo, outras enfermidades cruzem as porteiras das propriedades rurais, trazendo prejuízos e ceifando a vida de nossos animais. As análises laboratoriais são fundamentais para ficarmos imunes a essas pragas.

 


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