Curiosidade

Curiosidade

Foi fácil aprender porque era muito curioso. Ficava o tempo todo lendo os rótulos dos produtos nas prateleiras do nosso bolicho

Paulo Mendes

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Lembro: foi dona Mirica, minha mãe, a velha bolicheira, que me ensinou a ler, nas páginas encardidas das edições velhas do Correio do Povo, quando eu tinha uns 5 ou 6 anos. Ela foi paciência pura, mostrava as letras num caderno e explicava como se formavam as palavras, as diferentes formas de se escrever as letras, como o “a”, o maiúsculo e o minúsculo, as letras de forma e a “emendada”. Primeiro foi meu nome, todo desenhado, letra por letra. Contudo, quando vi, estava lendo e até escrevendo algumas palavras. Quando dona Dilcéa, a professora, começou a me ensinar a ler de forma oficial, eu praticamente já sabia tudo, só aperfeiçoei. Foi fácil aprender porque era muito curioso. Ficava o tempo todo lendo os rótulos dos produtos nas prateleiras do nosso bolicho. Por isso sempre digo que a curiosidade é o que move o mundo e faz as pessoas aprenderem, obterem mais informações e conhecimentos. Ah, e perguntar, perguntar até chatear... 

O nosso orgulho enquanto povo e nação também passa por isso, a curiosidade em compreender nosso passado, o que fizeram os ancestrais, suas lutas, suas conquistas e perdas. O povo desta terra construiu uma história rica, com muitos episódios, uns gloriosos, outros nem tanto. Isso é normal em todas as civilizações. Assim, precisamos compreender e repassar para as próximas gerações o que realmente somos, explicar bem direitinho de que barro fomos moldados, sem ufanismos exacerbados ou bairrismos ultrapassados. Apenas apontar as qualidades neste passado guerreiro, a luta para a preservação das fronteiras que foram defendidas por anos, décadas, séculos, mas, ao mesmo tempo, que muitos fatos deploráveis foram cometidos. Eu sempre digo por onde eu ando, e gosto de repetir, não somos melhores nem piores do que nenhum outro povo, apenas somos diferentes. É isso que devemos ensinar aos meninos e meninas do nosso Rio Grande. Que eles tenham muito orgulho, porém tenham a curiosidade de buscar a verdade na história. 

Foi a curiosidade pelo mundo que me fez ser jornalista. De tanto ouvir notícias, na época o pai escutava o Correspondente Renner da Rádio Guaíba, peguei gosto pelas informações locais, estaduais, do país e do mundo. Depois, comecei a prestar atenção nos noticiários da TV, ainda em aparelhos antigos, preto e branco. Nunca esqueço de todos os rádios a pilha que tivemos. Eles ficavam em cima da mesa da cozinha, praticamente no mesmo lugar. Depois, quando chegou a eletricidade, uma TV foi comprada.

Ah, queridos amigos e queridas amigas que me acompanham aqui neste espaço desde 2009, vocês sabem que sou muito curioso. Sempre fui assim, esta curiosidade me fez andar por boa parte do mundo, muitas vezes a trabalho, outras a passeio, mas o que nunca muda é a curiosidade que tinha e que, mesmo passados anos e anos, continuo tendo. É esta curiosidade que a gente traz na garupa que nos impulsiona para a vida, acordar todos os dias e ir em busca de algo novo para ler, para conhecer e presenciar. No dia que a gente perder esta vontade, aí nós entregamos os pontos. Tudo perderá a graça. E a vida, como todos sabemos, está aí para nos mostrar que vale muito a pena. Que deve ser vivida com todas as nossas forças, com fé, esperança e muita curiosidade. 


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