Aranha pura

Aranha pura

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A pergunta que se faz aqui é porque recontar a história do surgimento do  Homem-Aranha. Talvez seja, depois dos três episódios estrelados por  Tobey Maguire entre 2002 e 2007, atingir um público mais jovem, com  mudanças que chegam a soar como heresias para os fãs mais antigos do  aracnídeo. Em "O Espetacular Homem-Aranha", do diretor Marc Webb (de 500 Dias Com Ela), está lá a aranha radioativa picando Peter Parker,  deixando o adolescente franzino e vítima de bullying em super-herói.

Porém, ocorreu uma grande mexida na história de como conhecemos o  desenrolar da vida do garoto. Nas histórias em quadrinhos, e foi  respeitado isso na trilogia anterior, a transformação de Peter Parker se dava paulatinamente. Aqui optou-se pela pressa - tão logo é picado,  Peter já sai batendo em bandidos no metrô. A morte do tio Ben também  sofreu alterações, assim como seu relacionamento com Gwen Stacy (vivida  pela gracinha Emma Stone), e o pai da garota, o policial linha-dura  George Stacy (Denis Leary). O vilão da vez é o Lagarto (Rhys Ifans). E  nesta versão, o dr. Curt Connors, que torna-se o gigantesco e violento  réptil, tem uma ligação profissional com o pai de Peter, que não existia no universo das HQ.

Em "O Espetacular Homem-Aranha", a vida familiar de Peter Parker é mais  aprofundada, trazendo os seus pais, Richard (Campbell Scott) e Mary  (Embeth Davidtz). Os dois são obrigados a fugir, deixando o menino para  ser criado pelos tios, interpretados respectivamente por Martin Sheen e  Sally Field.

Modificar as histórias originais não é nenhuma novidade no cinema. E  aqui, apesar de incomodar os puristas, não estraga o filme. Pelo  contrário. "O Espetacular Homem-Aranha" é uma bela obra, com efeitos  especiais cuidadosos e bonitos, atuações seguras - o inglês Andrew  Garfield, de "A Rede Social" desbanca tranquilamente Maguire no papel de Peter Parker, apesar de já com 28 anos interpretar um adolescente. Pois ele tem um corpo franzino, parece tão frágil, que encanta. E sua  química com Emma Stone é perfeita, tanto que o casal emendou o romance  fora das telas.

O elenco coadjuvante também mostra-se competente. E pensar que um dia a  noviça voadora Sally Field viveria tia May, que nos quadrinhos tem o  rosto mais enrugado que uva passa. E note-se atores que já foram  protagonistas de outros filmes em décadas passadas, vivendo  tranquilamente a transição para personagens secundários, como Campbell  Scott, de "Vida de Solteiro", e C. Thomas Howell, de "A Morte Pede  Carona".

Enfim, "O Espetacular Homem-Aranha" pode não primar por respeitar a  mitologia do personagem, mas é cinema puro.


Por Chico Izidro

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