Maduro e previsível

Maduro e previsível

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Surpreender e emocionar é uma capacidade para poucos. Vinte anos depois, Clint Eastwood se deixa ser dirigido por alguém. Aposta no previsível e pretende tocar no coração das pessoas e da sociedade contemporânea, tecnológica e da transitoriedade de tudo. Em "Curvas da Vida", primeira experiência na direção de Robert Lorenz (que foi assistente de direção do próprio Clint em filmes como "Menino de Ouro" e "As Pontes de Madison"), Clint vive uma trajetória previsível, mas interessante. Eastwood é Gus, um olheiro de beisebol que está perdendo a visão e ainda tem que se confrontar com as novas possibilidades tecnológicas que invadem a profissão, construindo gráficos e possibilitando armazanemento de dados com uma rapidez até então impensada. O enredo se intensifica com a presença da filha de Gus, interpretada pela linda Amy Adams. Advogada de sucesso, está prestes a tornar-se sócia da empresa em que trabalha, mas se vê chamada a acompanhar o pai neste momento importante e delicado de sua vida, tentando resgatar uma relação difícil.  Apesar do óbvio que acompanha muitos momentos,  somos levados a não torcer pelo personagem equivocado. Estão bem caracterizados os humanos que compõem  o universo do "bem" e do "mal". A surpresa surge com a intensidade do ponto de vista do olheiro Gus, tanformando a estratégia de computador em algo sem alma,  frio e tolo. Até o final feliz. "Curvas da Vida" é o contraponto para um dos mais recentes filmes que trata também do tema beisebol, mas que tomou rumo de roteiro bem diferente: "O Homem Que Mudou o Jogo ",  com Brad Pitt, no qual os olheiros é que nos pareciam retrógrados e obsoletos. Sem dúvida, várias cenas demonstrando a própria  dificuldade de visão de Gus,  nas mãos de Clint Eastwood, seriam melhores. Mas, no final, o beisebol é somente um pano de fundo, para mostrar relações humanas e um mundo em transformação. Pequenas essências constituem o todo:  conflito pai e filha; mulher no mercado de trabalho, amizade, velhice e aposentadoria,  sonhos e oportunidades. O título do filme também pode ser tomado como metáfora com a curva da vida do própio personagem (mais clara ao ver-se o título original do filme. Uma história de vida, para assistir de coração aberto.

Por Marcos Santuario

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