Mais do que romance

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apassageiros2Levar o espectador ao espaço sideral, depois de tantas ótimas produções do gênero, é sempre um tremendo desafio. Fazer isso depois da ousada e criativa recente produção do canadense Dennis Villeneuve, "A Chegada", é ainda mais complicado. Com esta estranheza, mas sem pressa, é que precisa ser digerido o novo trabalho do diretor norueguês Morten Tyldum (aquele que já foi indicado ao Oscar pelo instigante "O Jogo da Imitação", de 2014). O filme do momento de Tyldum se chama "Passageiros", e tem o ator Chris Pratt (já visto em "Guardiões da Galáxia" e "Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros" e a linda atriz Jennifer Lawrence (aquela da saga "Jogos Vorazes").

Apesar de a trama ser desenvolvida no espaço sideral, grande parte dentro de uma nave espacial, o filme foca mais nas questões humanas e morais do que na aventura da viagem em si. Por isso não espere um grande filme de ficção como aqueles que você amou, com efeitos especiais e peripécias nas galáxias. Para embarcar na viagem do diretor é necessário livrar-se das amarras da ficção científica pura e das séries da TV atuais. É sentar-se na poltrona e relaxar, vendo um Pratt viver Jim, um homem que, por falha tecnológica da embarcação em que está, se vê preso em um presente sem futuro, cuja solidão só é quebrada por vozes pré gravadas e por um robô atendente de bar, que encarna a figura conhecida e típica por trás do balcão, e é vivido pelo ator galês Michael Sheen. Também não espere grandes tensões. E pode ser perigoso tentar interpretar intenções de diretores e realizadores. Vale mais analisar, "em estado de cinema", com tela escura e concentração total, a empatia possível com a trama e com as personagens. Ainda que falte um mergulho mais fundo nas questões existenciais.

Jim, o tal homem no espaço solitário do filme de Tyldum é um engenheiro que, como outros 4.999 passageiros da nave em questão, partiu na viagem para permanecer muitos anos hibernando, despertar em outra época e outro planeta, com o corpinho com o qual saiu da Terra. Seria tranquilo se não fosse o tal problema tecnológico, que o acorda 90 anos antes da tal chegada esperada ao planeta colônia. Quando se dá conta do que o aguarda, na solidão dos próximos anos, bate todo o tipo de neura no rapaz. Passa pelas fases conhecidas da negação, do relutar, da tentativa de transformação, até chegar à aceitação. Mas no meio deste caminho ele se depara com uma possibilidade que traz questões morais muito fortes para ser levada a cabo.

E é neste momento da trama que surge a personagem Aurora, vivida por Jennifer Lawrence, linda escritora adormecida na nave e também esperando para despertar na nova colônia. Com ela, Jim vai viver momentos intensos, depois que ela passa pelas fases iniciais do desespero da situação. Da letargia à relação intensa, os dois povoam o espaço com a magia de um relacionamento amoroso, que preenche o vazio ao redor. Isso até o momento em que a verdade, oculta no relacionamento, vem à tona. E, simultaneamente, a nave também começa a apresentar seus problemas.

No meio de tudo isso, encontros, desencontros, morte, vida, sexo, carinho, posicionamentos sociais, morais e humanos. O resultado é um filme para ser visto, sem a pretensão de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" e, menos ainda, de "O Iluminado", de Stanley Kubrick. Longe disso, o  "Passageiros" de Tyldum segue uma linha mais suave, plausível até, e com grande possibilidade de empatia dos cinéfilos. Mas sempre é bom lembrar que o Universo é muito mais profundo.

 

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