“Pacarrete”

“Pacarrete”

Comédia dramática aborda muitas questões sobre uma bailarina que ama música

Adriana Androvandi

Marcélia Cartaxo é a protagonista de “Pacarrete”, que trata do amor à dança e a música clássica

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Entre os lançamentos de streaming neste janeiro de 2020, estreia o filme brasileiro ‘Pacarrete’, primeiro longa-metragem do diretor Allan Deberton. Esta comédia dramática aborda muitas questões a partir da protagonista, uma senhora que ama música clássica e é uma bailarina incomum que vive na pequena cidade de Russas, no interior do Ceará. Este título foi o grande vencedor do 47º Festival de Cinema de Gramado (2019), de onde saiu consagrado, com oito Kikitos. Entre eles, o troféu de Melhor Atriz para Marcélia Cartaxo, que vive a personagem principal. Ao longo do ano que passou, o longa-metragem se tornou ainda multipremiado em diversos outros festivais, tanto no Brasil como no exterior. Entre eles, Melhor Filme no Los Angeles Brazilian Film Festival.

O filme aborda muitas questões com delicadeza e bom humor, mas isso não significa que a abordagem não seja profunda. Em cena, terceira idade, solidão e cultura são temáticas que emergem enquanto vamos criando uma empatia por Pacarrete e os que a cercam, como a sua irmã, vivida por Zezita de Matos, e a empregada da casa, interpretada por Soia Lira. As três convivem na mesma casa.

O desajuste de Pacarrete com o meio em que vive é o ponto mais nevrálgico da trama. Conforme o diretor contou em coletiva no Festival de Gramado, a personagem é inspirada em uma mulher real que teve formação clássica, sonhava em ser bailarina, viveu em uma cidade grande, mas teve de voltar para a cidade natal. Pacarrete tem suas extravagâncias, mas em uma cidade cosmopolita ela provavelmente encontraria sua turma: amantes de balé e da música clássica. Mas na pequena cidade em que vive, ninguém se interessa por isso. O caso fica claro quando ela procura a prefeitura se oferecendo para fazer uma apresentação de dança na festa de 200 anos do município, mas, após muito vaivém, lhe dizem que o povo quer outra coisa.

Durante as festividades, a casa da protagonista é invadida pelo som da música alta popular que toca com amplificadores, agredindo seus ouvidos. Os frequentadores urinam em frente à sua casa, fazem barulho e deixam lixo pelo chão. Pacarrete se sente sitiada e incompreendida. Um dos poucos amigos que ela tem é o compreensivo dono de um bar, vivido pelo ator João Miguel, que exibe uma interpretação repleta de doçura. Com uma equipe cheia de talentos, destacamos o figurino criado por Chris Garrido: elegante, alegre e colorido.

Considerada a louca da cidade por viver fora dos padrões, nos questionamos se a cidade não era pequena demais para Pacarrete. Frente a um empobrecimento nas letras e acordes da música e dança brasileira para as massas, os amantes de uma estética mais erudita podem se sentir “desajustados” em ambientes em que o nível educacional pouco supera o básico.

No microcosmo de Pacarrete, suas atitudes significam resistir às ondas das “modinhas” e fixar-se naquilo que se acredita ser a arte que mais enleva. É melhor ser fiel a si mesmo do que perder a sua identidade em prol de socialização vazia.

“Pacarrete” está disponível no Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play.

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