Reconstrução meticulosa

Reconstrução meticulosa

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O veterano diretor Ridley Scott reconstitui em "Todo o dinheiro do mundo" (All the Money in the World) um dos sequestros de maior repercussão no mundo nos anos 1970, envolvendo então a família do homem mais rico do planeta, John Paul Getty (interpretado espetacularmente por Christopher Plummer, que teve de refazer as cenas no lugar de Kevin Spacey, demitido após vir à tona seus escândalos sexuais).
Seu neto, Paul Getty (Charlie Plummer e nenhum parentesco com Christopher) é sequestrado em Roma por uma gangue calabresa, que pede o resgate de 17 milhões de dólares. Mas JPG se nega a pagar, alegando ter vários netos e que se pagasse o resgate, teria de ver outros sequestros e mais gastos. O detalhe é que Paul era filho de Gail (Michelle Williams, esplendorosa), nora de JPG e sem um centavo no bolso - mas claro que os sequestradores não queriam nem saber.
A trama se arrastou por vários meses, e teve ajuda nas investigações de um auxiliar de JPG, Fletcher Chase (Mark Wahlberg). Sem o resgate pago, o garoto acabou sendo vendido pelos sequestradores à máfia calabresa, pior e mais violenta, que tirou a orelha direita de Paul e a mandou como prova de que se o dinheiro não fosse liberado, coisa pior aconteceria com o jovem, então com 16 anos - mais não dá para contar, para não quebrar o clima de suspense.
Mas Ridley Scott faz um trabalho meticuloso de construção de um personagem para quem as pessoas importavam pouco. JPG queria mais e sempre mais dinheiro, perdendo muito de sua humanidade - se é que um dia chegou a ter. E Christopher Plummer, do alto de seus 88 anos, consegue transmitir todo o egoísmo e frieza do então homem mais poderoso do planeta.

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