A força feminina dentro e fora do curta "Fragmentos ao Vento: 1945"

A força feminina dentro e fora do curta "Fragmentos ao Vento: 1945"

O filme será exibido entre os dias 19 e 22 de setembro no 48º Festival de Cinema de Gramado

Lou Cardoso

Paula Souza protagoniza o curta "Fragmentos ao Vento: 1945"

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A representatividade negra e a força feminina atrás das câmeras poderá ser conferido no curta-metragem "Fragmentos ao Vento: 1945", de Ulisses Da Motta, que será exibido entre os dias 19 a 22 de setembro, no 48º Festival de Cinema de Gramado, que tem início nesta sexta-feira. 

Com cenas filmadas em sete cidades gaúchas, "Fragmentos ao Vento: 1945" conta a história de Senhorinha (Paula Souza), uma mulher negra que vive junto a uma colônia de imigrante alemães oprimidos pela ditadura do Estado Novo. Segundo a atriz, a protagonista é uma mulher à frente do seu tempo, sábia e sensível. "Penso que a sua personalidade se reflete muito no crescente da mulher ao longo dessas décadas", afirmou. 

De acordo com Paula, apesar da edição deste ano ser realizada de forma remota, o curta poderá ter um alcance muito maior. "Ao mesmo que é triste de não ter uma festa, eu fiquei feliz porque o Brasil todo poderá assistir o nosso trabalho. O ‘Fragmentos’ merece ser visto por um público ainda maior. A expectativa é enorme. Como protagonista, fico feliz e apreensiva", confessou. 

Foto: Janaína Costa / Divulgação / CP

É através dos olhos da Senhorinha que a história do curta-metragem é contada. Para Paula, a responsabilidade de ser uma mulher negra, protagonizando uma história que se passa no interior do Rio Grande do Sul dos anos 40, é enorme, mas que adorou o desafio de interpretá-la. "É uma personagem muito lúcida, é muito respeitada nessa colônia. Esse trabalho poderia ser feito por qualquer mulher de qualquer etnia, mas ali, no roteiro, é feito por uma mulher negra. Eu sempre batalhei muito pela versatilidade no meu trabalho, onde possa me reinventar como atriz. A maioria das atrizes negras que conheço passam por papéis estereotipadas", disse. 

Paula contou que precisou aprender várias de suas falas em hunsrükisch, dialeto do alemão falado no interior do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Para a atriz, os diálogos em outra língua "valorizaram as intenções e nuances das cenas". 

Novos movimentos no cinema 

A atriz espera que futuramente novas produções de novos cineastas posssam mudar estes círculos viciosos. "Temos um movimento muito grande da classe artística. As pessoas brancas estão querendo diversificar os seus elencos, seus textos e os seus temas. Estão falando mais sobre mulheres, sobre negros, sobre a comunidade LGBTQ+, sobre violência em geral, que são assuntos que realmente merecem ser abordados. Cinema não pode ser só entretenimento, tem que ter conhecimento. Eu vejo um futuro melhor, mas pela nossa causa artística", projetou.

Paula Souza é natural de Santa Maria e começou a atuar na sua cidade natal há 20 anos. Seu principais trabalhos são o curta-metragem "Léo" e as séries "Necrópolis", "O Complexo" e "Via Pública". 

De curta para longa-metragem 

Segundo Ulisses, o curta é a primeira parte de um longa-metragem que contará a história de uma família no decorrer dos últimos 100 anos. A expectativa é que o projeto completo esteja pronto no prazo de três a quatro anos. “A ideia é que possamos viabilizar um longa-metragem que conte a história de uma família começando nos dias de hoje e indo para o passado até chegar na década de 1920”, comentou ele, destacando que o curta que estreia em Gramado deve percorrer o circuito de festivais até 2021, começando pelo Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles, que ocorre em outubro. 

Foto: Letícia Pacheco

"Fragmentos ao Vento: 1945" percorre locais turísticos com importante contexto histórico, como no caso de São Leopoldo, onde as imagens foram filmadas no Museu do Trem e na antiga sede da Prefeitura. “O estado de preservação desses locais foi imprescindível para o filme. Lembro de quando fizemos as visitas nas locações, da sensação de sermos transportados para outra época só de estarmos ali”, destacou a diretora de arte, Gianna Soccol. 

A produção também se destaca devido a força feminina presente no enredo e por trás das câmeras. Mais da metade da equipe é formada por mulheres, que ocupam cargos importantes da direção de fotografia e roteiro até trilha sonora e som. “Igualdade de gênero nas equipes é uma pauta levantada pelas profissionais do audiovisual. Há técnicas e artistas em todas as áreas da cadeia cinematográfica. Nossa equipe de câmera e elétrica é quase toda feminina, por exemplo”, concluiu o diretor. 

Confira o trailer


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