Slow fashion: a moda mais lenta e consciente

Slow fashion: a moda mais lenta e consciente

Conceito tem ganhado gosto no público jovem, cada vez mais ciente dos produtos que consome

Lou Cardoso

Brechó de Desapegos virou referência em Porto Alegre

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A moda vem se transformando desde o início da humanidade e pode ser vista como uma forma de expressão, identificação e pertencimento a uma comunidade. Em tempos de grande preocupação ambiental e do consumo exacerbado, também tem sido repensada por novas gerações diante do seu impacto sobre a natureza.

Por isso, o Slow Fashion, que incentiva a produção lenta das roupas e se preocupa com os materiais, recursos, mão de obra, modelagens, desde a precedência até o público final, tem se fortalecido cada vez mais promovendo a consciência socioambiental e econômica.

O conceito começou a aparecer no cenário a partir de 2004, em contrapartida ao sistema do Fast Fashion, onde a produção de vestuário e artigos é feita de forma rápida, instantânea, em grandes quantidades e com alta margem de lucro. Tal modelo pressupõe lançamentos frequentes, ditando as tendências de consumo. Porém, desta forma produz peças com características frágeis e supérfluas, que logo serão descartadas para o lixo, causando problemas ambientais.

De acordo com a professora do curso de Design de Moda do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), Valesca Sperb Lubnon, devido à qualidade, muitas dessas peças são impossíveis de serem reutilizadas. A linha de produção também gera poluição, com a emissão de dióxido de carbono e até fluidos de tingimento e acabamento, incluindo corantes, metais pesados e fosfatos. 

Brechó tem ganhado o gosto do público. Foto: Fábio Alt / Divulgação / CP 

Já o Slow Fashion valoriza os recursos locais e contribui para a confiança entre produtores e consumidores, com a prática de preços reais que incorporam custos sociais, além de estimular criação socialmente responsável e manter sua produção entre pequena e média escala.

A cultura dos brechós e de roupas de segunda mão, a escolha por produtores locais e peças mais duráveis, além do questionamento das marcas ditas sustentáveis, são reflexos do sistema Slow Fashion.

Entre os grandes adeptos dessa “moda lenta” está a Geração Z, composta por nascidos a partir de 1996 até o início de 2010. De acordo com a pesquisadora Georgia Castro, eles representam um perfil de consumidor diferenciado do convencional. Por isso, priorizam marcas com responsabilidade social.

O desapego em Porto Alegre

Em Porto Alegre, o Brechó de Desapegos é um dos eventos mais conhecidos entre as amantes da moda retrô e consciente. Prestes a completar oito anos, a feira foi criada pela agitadora cultural Natalia Guasso: “Foi tão bacana que já começamos a realizar mensalmente e aí senti que era um evento necessário e não só isso importante. Tinha achado minha contribuição para o mundo!”, diz.

Apesar de o público do Brechó de Desapegos ser eclético, Natalia conta que a presença de jovens tem aumentado. “Ando percebendo um aumento dos jovens com consciência, mostrando que a coisa realmente está dando frutos. Isso é esforço de um trabalho mundial de conscientização de vários grupos”.

Apenas as empresas que conseguirem se adequar às novas tendências de comportamento de consumo conseguirão atravessar esse período de transição. Para a professora Valesca Sperb Lubnon, assim como houve na primeira Revolução Industrial, quando a produção deixou de ser artesanal e passou para uma produção em escala, agora estamos vivenciando o início de uma nova era, na qual voltamos nossa atenção à qualidade do produto, à valorização do profissional e do conhecimento.


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