Pesquisa e divulgação da ciência

Pesquisa e divulgação da ciência

Jessica Hübler

Daniela Ferreira, professora e chefe do Departamento de Ciências Clínicas na Liverpool School of Tropical Medicine, no Reino Unido

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Daniela Ferreira é professora e chefe do Departamento de Ciências Clínicas na Liverpool School of Tropical Medicine, no Reino Unido, um dos centros que verificam a eficácia da vacina desenvolvida por Oxford. Em 2010, ela ingressou no instituto e hoje lidera diversos estudos clínicos para o desenvolvimento de vacinas contra pneumonia e, recentemente, contra o novo coronavírus.

Como é ser a primeira mulher a chefiar o departamento de Ciências Clínicas da Escola de Medicina Tropical de Liverpool (LSTM)?

Ser a primeira mulher a chefiar o departamento é uma honra e também uma grande responsabilidade. Sinto que é meu dever promover uma cultura aberta, de igualdade e de diversidade em tudo o que fazemos, desde a pesquisa até a educação. É minha missão ser mentora para outras mulheres e estender a mão para que elas tenham oportunidades e também cheguem a cargos de chefia.

A senhora coordena um grupo de 100 pesquisadores, em sua maioria, mulheres. Como se sente sendo brasileira e mulher à frente da vacina de Oxford no Liverpool School of Tropical Medicine? Como está sendo participar desse estudo?

Sendo uma mulher brasileira e liderando uma equipe em que 97% dos integrantes são mulheres, fico muito feliz e muito orgulhosa obviamente e é algo que eu tenho certeza, a gente sempre comenta, todas nós vamos olhar para trás na nossa carreira, na nossa vida, quando estivermos mais velhas, vamos lembrar que contribuimos para fazer uma vacina que vai mudar o rumo da humanidade e isso realmente me deixa muito feliz. Liderar um dos centros de pesquisa nesse estudo foi uma das coisas mais desafiadoras da minha carreira, mas também mais satisfatória. Foi muito intenso e prazeroso ver muita gente se ajudando, tanto a fazer parte dos estudos e médicos e enfermeiras trabalhando conosco muitas vezes até de graça para ajudar, assim como tivemos muitos participantes que vieram para tomar uma vacina ainda em fase de testes.

Quais os principais desafios do trabalho de verificação da eficácia da vacina contra a Covid-19?

Os desafios foram muitos, mas, principalmente três: manter meu time feliz, seguro e saudável durante a pandemia para que pudéssemos continuar trabalhando; tentar dar todo o suporte e a flexibilidade necessária a cada um da equipe, pois a maioria dos membros do time tem famílias e crianças e tivemos momentos difíceis quando creches e escolas fecharam durante os períodos de lockdown; e, por fim, o terceiro foi o quanto de trabalho tivemos em um intervalo tão curto de tempo. Fizemos uma quantidade de trabalho que, normalmente, demoraria 10 anos em 10 meses.

Antes do Liverpool School of Tropical Medicine, quais foram as suas outras experiências?

Eu passei 10 anos no Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan de São Paulo trabalhando com o desenvolvimento de vacinas respiratórias. Foi nessa época que fiz meu Doutorado pela Universidade de São Paulo (USP) e também fiz minha graduação pelo Instituto de Ciências Biológicas, pela USP. Quando vim para a Inglaterra, em 2010, foi quando comecei as pesquisas mais clínicas com doenças respiratórias e recentemente, no último ano, obviamente toda a nossa expertise foi associada agora e utilizada para as vacinas da Covid-19.

Como tem sido a experiência na Equipe Halo? Como funciona a ação?

A minha experiência na Equipe Halo tem sido gratificante e tenho recebido um feedback positivo nas redes sociais. É uma maneira de fazer com que nós, cientistas, estejamos próximos do público. O projeto, que é uma ideia da ONU, convidou pesquisadores de todo o mundo para publicar vídeos sobre o coronavírus no TikTok. Tem profissional dos Estados Unidos, Reino Unido, África do Sul, Índia, Espanha e, no Brasil, contamos com um time de sete cientistas muito bem capacitados. Com frequência, gravo vídeos e publico na plataforma. Geralmente, quando posto algum conteúdo, recebo mensagens no chat dos internautas querendo tirar dúvidas. E isso é ótimo para mim porque aquela dúvida pode render outro vídeo. Essa troca com o público está sendo enriquecedora.

Qual a importância de participar do projeto Equipe Halo?

Me senti muito honrada quando o time da Halo me convidou, achei uma iniciativa muito sensacional e importante justamente na época que estamos vivendo, em que todo mundo fala sobre vacinas, todo mundo presta atenção em ciência, mas infelizmente muitos fatos não são corretos e muitas informações que estão sendo disseminadas são falsas. Então precisamos, como cientistas e divulgadores de ciência, nos unirmos para poder passar para as pessoas o que efetivamente é fato e dar credibilidade para os cientistas que estão trabalhando, seja no desenvolvimento das vacinas ou de outras tantas pesquisas relacionadas ao novo coronavírus.

A senhor já tinha contato com o TikTok? Acredita que seja uma ferramenta eficaz para uma comunicação clara e acessível ao público?

Já tinha visto vídeos do TikTok, mas nunca tinha feito parte da plataforma e acho que realmente é uma maneira muito fácil e rápida de você poder disseminar informação e transmitir isso de forma clara para as pessoas.

Quais as principais dúvidas dos internautas sobre o seu trabalho?

Recentemente, recebi dúvidas sobre a mutação do novo coronavírus e acabei publicando dois vídeos respondendo se as vacinas serão efetivas contra o vírus mutado. A eficácia sobre as vacinas da Covid-19 é uma grande questão. Como elas estão sendo desenvolvidas de maneira rápida, em comparação com outras que temos, o público questiona se realmente elas combaterão o vírus.


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