Albert Mazibuko: "A mensagem do nosso canto é de paz, amor e harmonia"

Albert Mazibuko: "A mensagem do nosso canto é de paz, amor e harmonia"

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Ladysmith Black Mambazo se apresenta domingo em Canoas. Foto: Shane Doyle / Divulgação Ladysmith Black Mambazo se apresenta domingo em Canoas. Foto: Shane Doyle / Divulgação


Formado no início da década de 1960, mais precisamente em 1964, o Ladysmith Black Mambazo é um grupo vocal masculino cujo repertório é integrado por ritmos tradicionais da África do Sul. Uma mistura melodiosa de pertencimento, saudade e esperança permeia as canções destes artistas que ganharam destaque em todo o mundo ao participarem do álbum do cantor e compositor norte-americano Paul Simon, "Graceland", lançado em 1986 e agraciado com três Grammy Awards. Criado por Joseph Shabalala, de 74 anos, que atualmente não viaja mais em turnê, o conjunto segue ensinando as pessoas, ao redor do mundo, sobre a África do Sul e sua cultura. A Ladysmith Black Mambazo é a principal atração do 5º Canoas Jazz Festival, que será realizado neste final de semana no Parque Getúlio Vargas, em Canoas. Os sul-africanos se apresentam no domingo a partir das 19h. Membro do LadySmith desde 1969, o cantor Albert Mazibuko, de 67 anos, fala da mensagem do grupo vocal, de música sul-africana e do Brasil.

Correio do Povo: Esta será a primeira vez que teremos o prazer de assistir Ladysmith Black Mambazo ao vivo. Você poderia nos contar como o grupo foi concebido há 51 anos?

Albert Mazibuko: O grupo foi fundado por Joseph Shabalala no início dos anos 1960. Joseph queria um estilo muito particular de cantar para o seu grupo. Levou muitos anos para ele para encontrar as pessoas que poderiam cantar o estilo que ele queria. Ele não queria só um som peculiar para o seu grupo, mas que o grupo representasse a cultura e a história sul-africana. Não deve ser apenas sobre cantar. Ele deve ser sobre as pessoas. Isso é algo que tem sido uma parte muito importante do Ladysmith Black Mambazo desde o início.

CP: O grupo é responsável por partilhar a cultura sul-africana e zulu e seus respectivos gêneros e ritmos para o mundo. Que mensagem que o LadySmith quer passar com sua música?

Albert Mazibuko: Obrigado pelo elogio. Este sucesso que tivemos é parte de nossa missão. A mensagem do Ladysmith Black Mambazo tem sido de Paz, Amor & Harmonia. Sim, existem coisas terríveis que estão acontecendo e essas coisas nos deixam irritados e infelizes. Sabemos disso pela nossa própria experiência na África do Sul vivendo com o Apartheid. O Apartheid era sobre a destruição de quem nós éramos como um povo. Nós não queremos que isso aconteça no mundo. Não queremos que o nosso povo viva com raiva e infelicidade ou para esquecer quem éramos. Sim, certamente lutar por mudanças, mas manter o controle. Manter o respeito a si e aos outros. Manter-se fiel a quem você é como indivíduo, como povo e cultura.

CP: Como será o repertório do concerto no Canoas Jazz?

Albert Mazibuko: Honestamente, nós achamos que as pessoas que nos assistem em concerto querem ouvir nossas canções tradicionais da África do Sul. Além disso, também querem ver nossa dança zulu. Adoramos viajar da nossa pequena cidade na África do Sul para lugares bonitos, como o Brasil, para compartilhar a nossa música. Esperamos interagir com os artistas locais, brasileiros e sul-americanos. De nós, você vai ouvir a beleza da África do Sul. Achamos que o público vai adorar nossa apresentação.

CP: Joseph Shabalala foi um grande visionário que sonhou em criar este grupo e colocar a África do Sul no mapa da música? Qual é o sonho atual do fundador do LadySmith?

Albert Mazibuko: Joseph parou de viajar com o grupo. Seu sonho, nos últimos anos, foi que o seu grupo continuasse sem ele, para continuar a difusão da música e da cultura sul-africana. Nunca foi seu desejo de acabar com o grupo, quando ele parasse. Seu sonho está sendo realizado à medida que continuamos tão fortes quanto com ele. LadySmith Black Mambazo vai continuar por anos e décadas, graças aos mais de 50 anos que ele foi nosso líder.

CP: Como é a relação musical do grupo e Paul Simon? Você tem ou já previsto projeto futuro com ele? Quais são as parcerias atuais de LadySmith?

Albert Mazibuko: Nós fizemos alguns shows com Paul Simon. Em 2012, tivemos uma turnê curta de reunião do disco “Graceland” na Europa, que foi maravilhosa. No entanto, pensamos que terminamos com este projeto. Nós recentemente trabalhamos com David Guetta em uma música de seu mais novo CD. Estamos sempre sendo chamados para trabalhar com grupos e estilos musicais diferentes. É maravilhoso e muito desafiador para nós. Teremos algumas parcerias interessantes no próximo ano, que ainda não vamos revelar.

CP: Quais são os outros grupos na África do Sul que valem a pena ser ouvidos atualmente?

Albert Mazibuko: Dois grupos com os quais nós temos trabalhado ao longo deste ano são Mi Casa e The Soil. São dois maravilhosos grupos sul-africanos. Achamos que muitas pessoas gostariam de ouvi-los cantar. Além disso, o Freshly Ground é um grupo popular e mais jovem que as pessoas amam no nosso país.

CP: O mundo está chocado com o que está acontecendo na Europa, particularmente em Paris, com dois grandes ataques em 2015. Não seria o momento de as pessoas e a imprensa internacional voltarem sua atenção para o genocídio étnico e religioso que ocorre na África desde a segunda metade do século passado?

Albert Mazibuko: Sim, continuam a haver problemas terríveis em África. Esperamos que as pessoas lembrem-se que estes problemas não desapareceram e que a África ainda precisa de toda a ajuda do mundo. Percebo que há problemas e conflitos em todo o mundo. América do Sul, Ásia e outras regiões. Às vezes parece que o mundo nunca vai alcançar a paz e a felicidade. No entanto, é uma batalha da qual as pessoas nunca podem desistir.

CP: E o que vocês ouvem ou conhecem de música brasileira? Já cantaram ou querem cantar alguma?

Albert Mazibuko: Infelizmente nós não ouvimos muita música brasileira na África do Sul. Nós conhecemos Gilberto Gil e sua música fantástica. Estamos ansiosos para ouvir muita música quando chegarmos ao Brasil. Esta será uma viagem maravilhosa e esperamos fazer grandes concertos.

Por Luiz Gonzaga Lopes

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