Cássio Scapin: "O Castelo Rá Tim Bum virou cult, ultrapassou a coisa feita para crianças"

Cássio Scapin: "O Castelo Rá Tim Bum virou cult, ultrapassou a coisa feita para crianças"

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Ator traz "Admirável Nino Novo" ao Theatro São Pedro nesta quinta. Foto: Priscila Prade / Divulgação / CP


Comemorando 36 anos de carreira, o ator Cássio Scapin retoma o personagem Nino, do Castelo Rá Tim Bum, que fascinou crianças e adolescentes nos anos 1990. O espetáculo infantil, mas que certamente terá público adutlo, "Admirável Nino Novo", é a atração no Theatro São Pedro neste dia 12 de outubro, o Dia das Crianças, com sessões às 15h e 18h. Depois de 20 anos sem interpretar Nino, Cássio resolveu voltar à tona com um dos seus mais simpáticos personagens. O ator que personifica neste ano o vilão Beroso, na novela "O Rico e Lázaro", da Record TV, tinha um plano de inicial de montar um Nino para adultos, mas na conversa com o produtor Rodrigo Velloni e o roteirista e diretor Maurício Guilherme, resolveu viver uma aventura inédita. Acompanhado do invisível Espírito da Aventura (na voz de Ney Matogrosso), o aprendiz de feiticeiro deixa o Castelo para cair na estrada e descobrir o sentido e a sensação de uma verdadeira aventura. A montagem mostra um jeito diferente de reencontrar um velho amigo por projeções, truques cênicos, trilha especialmente composta por Dan Maia, para que o Nino original, o eterno menino de 300 anos, da série da TV Cultura que foi ao ar a partir de 1994, com inúmeras reprises até o dia de hoje, sendo considerada um dos melhores produtos audiovisuais da história da televisão brasileira. O valor dos ingressos varia entre R$ 70 e R$ 120 e há desconto de 50% para quem doar um brinquedo na compra de um ingresso inteiro.  As doações fazem parte da campanha de arrecadação de brinquedos do Multipalco.  Na compra de ingresso inteiro e um ingresso meia entrada o cliente tem 50% na compra de outro ingresso inteiro. “Admirável Nino Novo” abre a Mostra Pirlimpimpim de Teatro, do Theatro São Pedro. Também fazem parte da mostra os seguintes espetáculos, de sexta a domingo: "Historietas", "Alice - além da toca do coelho" e "A Arca de Noé".

Ator e diretor de teatro, Cassio Scapin coleciona mais de 60 diferentes personagens em seu currículo, entre teatro, TV e cinema, dos mais variados tipos, como Ary Barroso, Jânio Quadros, Santos Dummont, Miriam Muniz na peça "Eu não dava praquilo", Olavo Bilac, Brás Cubas na peça "Memórias Póstumas", Urbano Madureira no "Sítio do Pica Pau Amarelo", até um traficante chinês além dos vários personagens da peça "Os Mistérios de Irma Vap", entre tantos outros. Já recebeu 4 indicações ao Prêmio Shell, ganhando 1, e 4 indicações ao Prêmio APCA, ganhando 2. Além de ganhar também os prêmios Mambembe de teatro infantil, Arte Qualidade Brasil, Governador do Estado e 4 APETESP. Na Record TV, atuou em produções como "Ribeirão do Tempo", "Os Milagres de Jesus" e "O Rico e Lázaro". Nesta entrevista concedida ao blog Diálogos, do Correio do Povo, Cássio fala do personagem Nino, do sucesso do Castelo Rá Tim Bum, do trabalho na Record TV e de Lei Rouanet e seus detratores.

Correio do Povo: Como está sendo para você trazer de volta este personagem tão carismático como o Nino, do Castelo Rá Tim Bum?
Cássio Scapin:
 Este personagem foi um benefício, uma coisa boa na minha carreira. Desde então, tenho uma relação carinhosa com o público. O Castelo Rá Tim Bum formou pelo menos três ou quatro gerações. Hoje eu até me assusto com as dimensões que o programa tomou. Os personagens estão muito relacionado com os adultos. Ultrapassou a coisa feita para crianças. Virou cult. Eu tinha uma ideia inicial de fazer um Nino para Adultos, de criar em cima da continuidade do personagem. Quando estava fazendo o espetáculo "Histerya", falei no assunto com o produtor Rodrigo Velloni e depois com o diretor Maurício Guilherme. Queria tratar da dinâmica do tempo, da minha relação com o tempo, de como poderia ter sido já adulto. Então, o espetáculo tomou forma como esta aventura que trata do tempo para uma criança que tem 300 anos, que trabalha a relatividade do tempo.


CP: Você consegue dizer a que se deveu o sucesso do Castelo Rá Tim Bum?
Cássio Scapin: Este sucesso se deveu a uma feliz coincidência. Quando fomos fazer, éramos todos atores de teatro, que nos conhecíamos do palco, não tínhamos a intenção de fazer algo para ser famoso ou causar impacto. Existia uma dinâmica criativa, uma espontaneidade da equipe que passou para o programa. Cada um estava exercendo uma liberdade criativa. Todos ainda tentavam entender como trabalhar melhor para a TV, como se criava para a TV. Acho que estes fatores todos contribuíram para que fosse além de qualquer expectativa inicial que se tivesse do programa.

CP: Mais recentemente, você deu uma guinada na sua carreira construindo o vilão Beroso, na novela da Record TV, "O Rico e Lázaro". Conte-nos sobre este processo de criação e esta experiência.
Cássio Scapin: Eu adorei fazer o Beroso. Quando o Edgar Miranda me convidou para atuar em "O Rico e Lázaro", ele me perguntou: "você topa fazer um personagem que precise ficar esquisito, mudar bastante?". Ele tocou naquele desafio de todo o ator. Na diversão, de ter que buscar novas referências, criar algo diferente. Tive que mudar de cara, raspar a cabeça, um olho diferente, trabalhar a maquiagem, usar um figurino excêntrico. Para mim, esta vilania foi construída em tom de ópera. Como é uma novela de época, carreguei nas tintas da ação física, da voz, pesei na mão, sempre com a autorização do Edgar Miranda. Deu muito certo.

CP: Como você tem visto este movimento que quer desqualificar editais e a Lei Rouanet, chamando artista de vagabundo, que se beneficia de incentivos e de governos?
Cássio Scapin: É incrível como tentam desviar o foco dos reais problemas, da corrupção generalizada, de um sistema que está todo podre. Este espetáculo "Admirável Nino Novo" não tem quase nenhum aporte de patrocínio, veio à tona graças à competência do produtor Rodrigo Velloni. Eu acho que a gente precisa de mais responsabilidade, que as pessoas se informem mais. Ninguém recebe dinheiro das empresas ou do governo a fundo perdido. O aporte é de renúncia fiscal, do lucro de uma empresa. Temos que dar uma série de contrapartidas, ingressos, ações culturais. Esta censura aos artistas ou condenar leis e editais é um desvio de foco da política para a moral. Precisavam achar um bode expiatório. Sou radicalmente contra o MBL, um movimento que julgo pernicioso. Enquanto eles falam de pedofilia em obras de arte, precisamos falar de educação, das crianças, do real mal que estão fazendo com as crianças. É um período de muita desinformação, que todos dizem o que querem sem saber do que estão falando, que atacam sem argumentos. A função da arte é reavaliar, revalorar, questionar, denunciar, e isto continua acontecendo, apesar destes desinformados.

CP: E a tua relação com o Rio Grande do Sul, com os gaúchos, com o Theatro São Pedro?
Cássio Scapin: É para me emocionar poder fazer uma apresentação no dia 12 de outubro, quando completam 10 anos da morte do Paulo Autran. No início dos anos 2000, fizemos uma temporada belíssima do "Visitando Sr. Green", com o Paulo Autran. Saudades dele. É um teatro que tem uma aura forte. Sobre o Rio Grande do Sul e a gauchada, eu gosto muito de Porto Alegre e dos gaúchos, é um público ímpar. Tenho muitos amigos no RS e estou sempre com a gauchada em São Paulo. Amigos como Ilana Kaplan, Angela Dip, Gilberto Gavronski, entre outros. Sem dúvida, é um povo que é muito da arte, se informa e entende o que está se passando no palco.

por Luiz Gonzaga Lopes

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