Cafu: "Os jovens devem ter oportunidades além do Futebol"

Cafu: "Os jovens devem ter oportunidades além do Futebol"

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Ricardo Godoy / Reprodução / CP Ricardo Godoy / Reprodução / CP


No futebol, Marcos Evangelista de Morais, o Cafu, conquistou importantes títulos, entre eles dois campeonatos mundiais, em 1994 e em 2002, que consagraram a Seleção no mais alto patamar do esporte. Afastado dos campos há oito anos, hoje ele enfrenta desafios diferentes das chegadas corpor a corpo e das disputadas. Sua rotina tem sido mais focada na área social, especialmente à frente da Fundação Cafu, que envolve mais de 630 jovens. Entretanto, aos 46 anos, o capitão do penta ainda acompanha os desdobramentos ligados ao futebol. Em entrevista ao Correio, ele comenta sua vida fora dos gramados e o trabalho social que realiza.

Correio do Povo: Após oito anos longe dos campos profissionais, como está sua rotina?
Cafu: Corrida. Achei que iria dar uma acalmada, mas bem pelo contrário. Sou embaixador de algumas empresas e projetos, como é o caso da #PausanaPAF, tenho duas empresas e mantenho uma fundação que atende cerca de 700 crianças e jovens. Assim, mantenho um trabalho bem constante e em várias direções, além dos eventos esporádicos.

CP: Como é o trabalho da sua fundação?
Cafu: A Fundação Cafu tem 14 anos, comecei ainda quando jogava futebol. É uma ação de cunho de responsabilidade social para dar um pouco mais de direção a crianças e jovens do Jardim Irene (bairro de São Paulo onde o Cafu passou a infância). São oferecidos atendimentos socioeducativos, buscando ajudar na formação dos futuros cidadãos.


CP: O sonho de muitos jovens é entrar no mundo do futebol profissional. Como tu vês essa relação da precocidade dos jovens?
Cafu: Nem todo o garoto que está fazendo peneira vai ser jogador de futebol. Nem todos vão ter chance de fazer teste num time grande. E nem todos serão atletas. E o que esses meninos vão fazer senão der certo? Por isso a importância da escola, dos estudos e do trabalho da fundação. O projeto vê o cidadão, além do atleta. Preparamos as crianças para a inclusão nesta sociedade, por meio do esporte, cultura e lazer. Se o menino vai fazer uma peneira com 14, 15 e 16 anos e não passa? Ele perdeu esses três anos de estudo e o que ele vai fazer depois? Não podemos deixar que isso aconteça. Ele pode ficar desiludido e não querer fazer mais nada da vida.


CP: Então, o que é possível recomendar para esses jovens que desejam ser jogadores de futebol?
Cafu: O conselho que daria é procurar alternativas ao futebol, porque nem todos vão se tornar atleta. Aqueles que não serão atletas, nós precisamos que sejam cidadãos e que ajudem na transformação do mundo.


CP:E o conselho para aqueles que estão entrando efetivamente no mercado?
Cafu: Quem entrou tem que dar sequência. Se dedicar muito para ter uma carreira longa. Existe jogador de futebol e atleta de futebol. Existe o profissional e o atleta de alto nível. Você precisa escolher. Por exemplo, se for um atleta de alto nível, vai ter que abrir mão de muitas coisas e se dedicar 100%. É preciso ainda ter pé no chão. Hoje em dia o atleta sobe muito rápido da categoria de base para a principal. E eles (jovens) não estão preparados. Mesmo que digam que estejam. Eu demorei cinco anos para passar pelas equipes de base, recebendo ajuda de custos e, só depois disso, ganhei salário. Subi os degraus da maneira que tinha que ser. Hoje não é mais assim. Eles acabam pulando e não vivem essa experiência e sofrimento. Claro que é uma resposta do mercado profissional, que é amplo e passou por muitas mudanças. Agora, não podemos deixar que essas crianças (jovens de 15 anos) tenham salário estratosférico. Quando tiverem 20 anos vão querer o que da vida? É preciso que eles criem responsabilidade, que ganhem as coisas gradativamente.


CP: Ainda sobre o futebol, como avalias essas mudanças na Seleção, especialmente após a troca do técnico?
Cafu: Cada treinador tem uma maneira de trabalhar. É óbvio que se o Tite trabalhasse como o Dunga não precisaria trocar. A Seleção Brasileira hoje é completamente diferente, até em termos de motivação, daquela que estávamos vendo. Claro que a responsabilidade do treinador é de 30% e os outros 70% são dos jogadores. Se os jogadores não entrarem em campo motivados, pode colocar o técnico que for que não vai dar certo.


CP: E sobre o campeonato brasileiro, que já está no final, mas com uma disputa intensa entre os times na busca do título e para não cair?
Cafu: É um campeonato muito competitivo, fantástico em qualidade. Disputado ponto a ponto embaixo também. É importante que os clubes tenham consciência do que está ocorrendo. Quando há uma diferença de pontos tão grande entre quem está na liderança e quem está correndo o risco de rebaixamento é porque o clube fez um campeonato ruim. Existe chance de clubes grandes caírem pelo nível de futebol que estão jogando. E se cair é porque teve erro, como má administração. Apesar da disputa, é uma pena que estejam ocorrendo erros na arbitragem. Não acredito na maldade do árbitro, que seja para beneficiar um clube. Acho que existe erro e vimos muitos. Erros que seriam fáceis de identificar, mas infelizmente está ocorrendo e atrapalhando.

Por Mauren Xavier

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