Carlos Branco: "As pessoas não querem só assistir a shows, buscam outras experiências"

Carlos Branco: "As pessoas não querem só assistir a shows, buscam outras experiências"

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"Hoje em dia tem muita interação nos shows, as pessoas tiram fotos, postam, bebem e comem", diz Branco |  Foto: Fábio Schein / Divulgação / CP


Inspirado na experiência do Festival Vinho e Jazz, em junho de 2016, a Opus Promoções e a Branco Produções lançam três novos festivais neste ano. Neste sábado, a harmonização será entre tango e vinho, a partir das 21h, no Teatro do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80). Os ingressos estão à venda pelo site, pelo Call Center 4003-1212 ou na bilheteria do Teatro Bourbon Country.  O Tango y Vino terá como atrações Marcelo Rey, cantor do espetáculo Esquina Carlos Gardel e a cantora Soledad Flores, integrante dos Quintetos Alto Tango e Carla Algeri. O evento contará com o espetáculo Real Tango, que se apresenta pela primeira vez no Brasil. No foyer do teatro, haverá uma seleção de vinhos argentinos Malbec e Chardonnay, de Mendoza, à venda. Ainda em 2017, serão realizados o Vinho e Jazz, em agosto, e o Whiskey & Blues, em outubro, que também passarão por São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, sempre com três atrações musicais em cada edição.


Para falar sobre este festival, o Diálogos conversou com um dos principais produtores musicais do RS e do Brasil, Carlos Branco, diretor da Branco Produções, produtora com 23 anos de existência. Branco fala sobre a ideia de harmonização de música e bebida destes festivais, sobre a mudança de perfil do público de shows, sobre os grandes shows que já trouxe e os que não conseguiu trazer, entre outros temas:

 

Diálogos: Como foi a concepção da ideia do Tango y Vino e dos demais festivais de harmonização de gêneros e bebidas?

Carlos Branco: Na verdade, a Branco Produções e a Opus Promoções, eu e o Carlos Konrath, conversamos sobre esta ideia de desenvolver, incentivar um gênero musical e pudéssemos ter um serviço de bebidas que pudesse harmonizar com o evento. Criamos três festivais para este ano: Tango y Vino, o Vinho e Jazz (em agosto) e o Whiskey & Blues, em outubro. O Vinho e Jazz já fizemos uma edição em 2016 com o nome Wine and Jazz Festival. Acreditamos que as pessoas não querem mais só assistir a shows, mas buscando outras experiências, participar mais. Hoje em dia tem muita interação, as pessoas tiram fotos postam, bebem, comem.

 

Diálogos: Como foi definido este casting de atrações para o Tango y Vino?

Branco: Vão ser sempre três espetáculos de 45 minutos, com 15 minutos de intervalo. A porta do teatro abre às 20h. As pessoas começam a tomar vinho e a comer os aperitivos. Às 21h inicia o espetáculo. Após 45 minutos, as pessoas vão para o saguão, tomam vinho, voltam para o teatro ou ficam ali, não querem voltar para o segundo show e só assistem ao terceiro. O Marcelo Rey é um cantor jovem de Buenos Aires, filho de um cantor de tango. Ele tem um trabalho de voz e violão muito próximo ao de Carlos Gardel, aos tangos de início de século. Ele é um dos maiores especialistas na obra de Gardel e já veio ao Brasil com o Esquina Carlos Gardel. Ele entra solo e depois é acompanhado pelos músicos da Orquestra Típica. A Soledad Flores é uma cantora relativamente jovem, que integra vários quintetos de Buenos Aires. Depois, finaliza com o espetáculo mais típico do Real Tango. São oito bailarinos mais os quatro músicos da Típica, com a participação dos dois cantores no final. Um pouco de Piazzolla e tangos tradicionais.

 

Diálogos:- Quantos anos de produtora? E como analisas estas mudanças no perfil de comportamento de público para shows, com esta maior interatividade, as tecnologias, a permissão de comida e bebida, etc?

Branco: São 23 anos de Branco Produções. Este perfil foi mudando nos últimos anos. Claro que uma boa parte do público ainda prefere o espetáculo mais formal, assistindo sem fotografar, sem comer ou beber. Claro que há outros formatos a adotar, pois existe um novo público que foi nascendo no Brasil e que tem a preferência mais voltada para o espetáculo, a diversão. tem toda uma juventude que é adepta deste tipo de show, do que propriamente na cultura mais formal. Temos trabalhado nos espetáculos tradicionais e também estes com maior interatividade. O tango em Porto Alegre sempre teve um público muito forte. No Tango y Vino vai haver mesas em uma parte do teatro, as pessoas vão puder vivendiar experiências parecidas com as das casas de tango de Buenos Aires. É uma vivência diferente. É uma experiência que queremos consolidar em Porto Alegre, São Paulo e Rio.

 

Diálogos:  Nestes 23 anos de produtora, podes nos dizer de alguns espetáculos que eram sonhos teus e conseguiste trazer?  

Branco:  Um espetáculo que para nós foi muito marcante foi o do Nelson Freire e da Marta Argerich (2004). Um concerto de música erudita com dois pianos no Teatro do Sesi. Inclusive aquele pianos não existem mais. Foram perdidos com aquele desastre do dique que estourou na Zona Norte. O Sesi estava superlotado. Foi um concerto marcante, pois o público de música erudita de Porto Alegre não é tão grande e estávamos diante dos dois maiores nomes da história do piano, entre os 100 maiores pianistas do século, com a direção musical do Miguel Proença, que à epoca era diretor artístico do Teatro do Sesi. A gente conseguiu produzir este espetáculo. O show do João Gilberto no Teatro do Sesi. A segunda vinda do B. B. King a Porto Alegre no Gigantinho, a primeira vinda do Buddy Guy. Eram músicos que eu ouvia desde os nove anos de idade e daqui a pouco eu estava produzindo espetáculos deles. O espetáculo dos Mutantes com a Zélia Duncan e estas edições do Nívea Viva, com 60, 70 mil pessoas, na rua,  também são produções nossas. São diversos shows que marcaram. Outro espetáculo marcante foi o da Laurie Anderson, que trouxemos para SP e para o Porto Alegre em Cena. Também trouxemos grandes nomes do jazz para Canoas, como Dave Holland, Ravi Coltrane e Delfeayo Marsalis, Betty Carter, Ten Years After, uma banda que fez sucesso em Woodstock e ainda estava com o Alvin Lee. São muitos shows para lembrar. Tem épocas que fazemos uma média de 20 shows ao ano.

 

Diálogos: E aqueles shows que a bola bateu na trave?

Branco: Por exemplo, Nelson Gonçalves era um cara que eu gostaria muito de ter trazido um show; Elizeth Cardoso, Tom Jobim em nível nacional. Nós não trabalhamos em megaespetáculos. Somos uma produtora para shows mais em teatro e alguns formatos maiores, mas não em estádios. Em nível internacional, eu gostaria ter produzido um show do Leonard Cohen, Joni Mitchell. Fiz contato com a empresária da Joni Mitchell, mas ela não estava mais fazendo shows ou turnê.

 

Diálogos: Para fechar, queria que tu falasse dos caminhos atuais para a produção e as tuas parcerias?

Branco: A Branco Produções faz a curadoria e a produção do Santander Cultural, do Instituto Ling e do Museu do Estado de Pernambuco, em Recife. No Ling, com patrocínios das empresas ligadas ao Instituto, como a Évora, que é a holding que coordena. No Santander Cultural e no Museu do Estado de Pernambuco com o patrocínio do Santander Cultural. É fundamental estes patrocínios. Sabemos que a Lei Rouanet tem várias distorções, mas nestes espaços ela realmente atinge o objetivo para o qual ela foi criada. São vários espetáculos de altíssimo nível a preços muito populares. Ao mesmo tempo, temos a Oficina de Choro lá no Santander Cultural que já revelou novos nomes do choro e do samba. Temos muita coisa que dependem de bilheteria. Estes aportes são fundamentais, pois possibilitam que se assista a espetáculos por 10 reais, como era antigamente, 12 reais hoje em dia. No Santander Cultural, foi o primeiro show do Jorge Drexler em Porto Alegre, produzido por nós. Ele nem havia ganhado o Oscar ainda.  Trouxemos Arto Lindsay, Liliana Herrero, Ian Ackerman do Focus, todos no Santander Cultural.


* Por Luiz Gongaza Lopes


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