Censo será todo informatizado

Censo será todo informatizado

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aposta nas inovações da tecnologia para realizar de forma mais eficiente o Censo Demográfico em 2022

André Malinoski

O diretor adjunto da Diretoria de Informática do IBGE, Arnaldo Lyrio Barreto, compartilha com os leitores do Correio do Povo como a informatização de todo processo pode contribuir para o levantamento dos dados da população brasileira.

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O que os brasileiros podem esperar em termos de tecnologia para o Censo Demográfico em 2022?

A tecnologia que a gente vai utilizar já foi usada em 2010, no Censo Demográfico. Conseguimos prêmio internacional pela realização do primeiro censo digital do mundo e o Brasil foi premiado até na Unesco por conta dessa façanha. Vários países desenvolvidos, como os Estados Unidos, vieram até o Brasil para entender como o IBGE conseguiu fazer uma operação tão grande, com tão pouco recurso e com um grau de tecnologia enorme. Para este Censo de agora, vamos utilizar equipamentos bastante similares, como os smartphones adquiridos no mercado, mas que são totalmente preparados para o IBGE. Há uma série de softwares específicos que blindam o smartphone, que a gente chama de DMC (Dispositivo Móvel de Coleta), para que o funcionário do IBGE só tenha aquilo a fazer com o aparelho, ou seja, só faz a coleta, não escuta música, não vê Internet. É como se fosse somente uma ferramenta de trabalho. Não haverá problema de espaço em disco ou de memória, porque controlamos a tecnologia. Serão dois ganhos de tecnologia para 2022: a qualidade muito superior e a conectividade on-line. Todos os 185 mil equipamentos terão chip de telefonia 3G e 4G. Isso garante que, em cada casa, domicílio e condomínio que o agente passar, vai recolher as coordenadas geográficas, fazer a pesquisa e transmitir para o data center do IBGE no Rio de Janeiro ou São Paulo, que coordenarão a recepção dos dados. Com isso, conseguimos saber cada passo de cada recenseador e acompanhar toda a rede de coleta naquele momento. O Censo tem que varrer todo o território nacional. Temos como controlar on-line se esse caminho está sendo feito. A gente garante que todos os domicílios do Brasil serão visitados porque a cada momento estamos vendo se as pessoas estão percorrendo os caminhos determinados. Além disso, teremos um aumento de qualidade muito grande. Porque se coletamos e já transmitimos, vemos se a qualidade está boa. Conseguimos fazer com que o agente de coleta seja supervisionado para que a qualidade do que for coletado seja a melhor possível. Antigamente, as pessoas faziam no papel, coletava-se a rua inteira e se mandava para o Rio de Janeiro, para ser digitado. Dois anos depois, alguém dizia “olha, todos os quesitos de raça e cor nesta rua não foram incluídos”, já era. Agora, teremos muita qualidade e conectividade muito boa. Conseguimos falar com a pessoa, saber onde está e o que está fazendo.

Como será feita a transmissão em tempo real dos dados para a nuvem no momento da entrevista com o morador?

Na realidade, no momento da entrevista, o recenseador vai transmitir os dados direto para o IBGE. Os dados da nuvem são os não sensíveis. O que é um dado sensível? É um dado individualizado. Então, quando vamos em alguma casa, temos que garantir que esse dado que nos passam jamais será disseminado. O IBGE e o Brasil são signatários de vários acordos internacionais que dizem que não podemos dar dado individualizado, só podemos fornecer o dado agrupado. Podemos dar dado do bairro, do município, mas não podemos falar da sua casa. Então essa transmissão não será para a nuvem, será para os bancos de dados do IBGE. O que vai para a nuvem são dados não sensíveis, que podemos disseminar. Por exemplo, o mapa de cada região, de cada setor censitário, de cada rua, esses mapas podem ser disseminados. E podem estar na nuvem porque, se houver algum vazamento, não ferimos nenhuma pessoa física ou jurídica. Ainda mais agora, na época da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que precisamos ter preocupação maior. Isso já é uma preocupação visceral do IBGE desde sempre. O IBGE nunca deixou vazar nenhum dado individualizado de pessoa física e jurídica. Precisamos garantir isso. Dado sensível vem para dentro do IBGE e daqui não sai mais.

Essa tecnologia será capaz de funcionar em locais remotos e de difícil acesso?

Temos equipamentos 3G e 4G e uma série de outros recursos tecnológicos para fazer transmissões. Por exemplo, o IBGE conta com agências em vários municípios do país e, onde não há, na época do Censo temos postos de coleta, que é como se fosse um escritório, uma sala comercial do IBGE, onde tem banda larga, computador, impressora, estrutura mínima de tecnologia de informação. Então vamos supor que o cara foi numa reserva indígena e não conseguiu transmitir porque não havia sinal. Não tem problema, ele vai armazenando mo smartphone dele, fazendo backup criptografado e, quando chegar a um local com Wi-Fi seguro, como o posto de trabalho, vai transmitir os dados para a estrutura do IBGE. Usamos conexão via satélite, banda larga e todos recursos possíveis para fazer uma transmissão segura. Não transmitimos de qualquer lugar, precisamos transmitir com os quesitos de criptografia internacionais de segurança da informação.

Quantas pessoas estarão envolvidas com o processo tecnológico do instituto no próximo ano?

Dentro da Diretoria de Informática temos em torno de 200 pessoas. Pode parecer muito, mas não é. Porque o IBGE não cuida só de Censo, faz uma série de outras pesquisas estatísticas e geocientíficas. São muitas as pesquisas do IBGE e 200 pessoas para cuidar de todo o desenvolvimento e do aparato tecnológico. Você imagina ter de controlar 200 mil equipamentos na mão de 200 mil pessoas? Você tem que dar treinamento e um treino tão bom que elas não tenham dúvidas no preenchimento dos questionários, porque elas estarão entrevistando. Ou seja, o censo é uma operação de guerra.

Serão 200 mil equipamentos envolvidos no censo?

Nós compramos em torno de 185 mil equipamentos para os agentes de coleta no Brasil inteiro. Você imagina o Departamento de Recursos Humanos fazer a entrada e depois o desligamento de 185 mil pessoas de um mês para o outro? Tem que estar tudo muito testado e organizado. Mas o IBGE tem tradição nisso. O Brasil tem Censo desde 1872. Mas precisamos de gente, dinheiro e tecnologia. Ninguém faz uma operação desse tamanho sem um aporte financeiro para fazer frente ao desafio.

O IBGE realiza testes para o Censo de 2022. Qual a avaliação do senhor até agora sobre o uso dos dispositivos móveis de coleta?

Tem sido um sucesso porque já avaliamos e recebemos vários questionários transmitidos. Posso garantir hoje que o IBGE tem certeza que tem total possibilidade de realização do Censo. O IBGE está preparado para isso, e bem preparado. O Censo vai ocorrer em 1° de junho de 2022 e demora em torno de quatro meses para ser feito. Depois colocamos mais um mês e pouco de rescaldo e verificação de qualidade. Nossa expectativa é darmos os números para a sociedade ainda em 2022. Dados preliminares, sim, mas é o nosso objetivo.

O Censo estava previsto para ocorrer em 2020, porém a pandemia de Covid-19 atrapalhou. Em 2021, o governo federal promoveu cortes nos recursos destinados à área da pesquisa. Como isso afetou o investimento do IBGE em tecnologia?

Na realidade, nos quesitos de tecnologia, fizemos as licitações em 2019, quando não havia a pandemia e não tinha corte. A maior parte dos recursos foi comprada em dezembro de 2019 e janeiro de 2020. Então, o corte de orçamento que aconteceu, o que é muito significativo para o IBGE, era principalmente quanto ao pagamento dos recenseadores, que é uma conta muito alta. Porque são 180 mil trabalhadores que entram no IBGE ganhando por produção. Não é que eles vão ganhar bem, mas o volume de dinheiro acaba sendo muito grande. Isso tem um impacto direto na operação. Por conta disso não realizamos o Censo em 2020, por causa da pandemia, e em 2021, em função dos cortes. Mas o orçamento nos foi garantido para 2022. Estamos realizando uma série de testes em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul estamos fazendo no bairro Estalagem, em Viamão, e esses testes são fundamentais para avaliarmos se está tudo bem como desejamos, como, por exemplo, uniformes, crachás, equipamentos, bases de dados, questionários. Para fazer uma boa prova você realiza alguns exercícios antes. Portanto, isso é muito relevante para o IBGE. Fazemos testes em cada município da Federação para que o Censo ocorra muito bem em 2022.

Quanto foi investido pelo IBGE em tecnologia para a realização do Censo em 2022?

Não tenho como precisar agora exatamente quanto de tecnologia de informação, mas todos os processos do IBGE foram feitos por licitação pública. Qualquer brasileiro ou estrangeiro pode entrar no site do Portal da Transparência e ver cada processo feito. Não fazemos nada que não seja por licitação. Todos os processos são públicos e contam com ampla concorrência. A quantidade de equipamentos que compramos, mesmo que sejam baratos, acaba se tornando um volume de dinheiro grande. Esses equipamentos depois de utilizados no Censo serão repassados para o Ministério da Saúde, para aproveitamento no controle de endemias, nos programas sociais de saúde e em todas as outras ações que a pasta possui. Não existe desperdício de dinheiro público. Utilizamos os equipamentos por seis meses e depois ficarão dentro do governo federal sendo usados em apoio aos programas sociais.


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