Crianças devem ser vacinadas

Crianças devem ser vacinadas

O endocrinologista pediátrico Guilherme Guaragna Filho, fala sobre a importância da imunização das crianças contra a Covid-19

Luciamem Winck

"Há uma ideia fantasiosa no imaginário coletivo de que criança ‘não apresenta doença grave’ ou ‘não pode morrer’, que isso seria coisa de adulto ou idoso. Muitas doenças graves apresentaram redução importante, outras até desapareceram do nosso meio com a vacinação em massa".

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O chefe da Unidade de Internação Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), endocrinologista pediátrico Guilherme Guaragna Filho, fala sobre a importância da imunização das crianças contra a Covid-19. Na sua avaliação, atualmente, os pequenos estão expostos ao novo coronavírus e são o elo mais frágil no combate à pandemia. "Essa pandemia não chegará ao seu tão desejado fim se não olharmos para as crianças, que precisam ser imunizadas, pois as vacinas salvam vidas", frisou Guaragna.

Qual é a importância das vacinas contra a Covid-19 para as crianças?

A vacina é muito importante, pois estamos presenciando uma mudança no padrão da infecção por Covid-19 nas crianças. Tivemos um aumento do número de internações em todas as idades que compreendem a faixa etária pediátrica. Além disso, as crianças têm apresentado quadros mais sintomáticos e alguns, inclusive, com gravidade.

No seu entendimento, que motivos têm levado alguns pais a relutar quanto à imunização?

Acredito que a desinformação ou a busca de informação em fontes não confiáveis, assim como o mito de que as crianças não ficam doentes pelo coronavírus possam estar levando a esse tipo de comportamento.

A pediatria, especialmente nos últimos 50 anos, esteve na vanguarda do uso das imunizações como ferramenta para uma infância saudável e na redução da mortalidade infantil. A vacina contra a Covid-19 é mais uma que surge. Há motivo para temer?

Não, as vacinas foram testadas e avaliadas pelos órgãos regulatórios tanto no Brasil, no caso a Anvisa, como em outros países, como o FDA \[Food and Drug Administration, agência norte-americana do Departamento de Saúde e Serviços Humanos\] nos Estados Unidos.

São inquestionáveis os esforços do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para erradicar doenças como sarampo e poliomielite. Não há registro de poliomielite no Brasil desde o século passado e o sarampo foi reduzido a pequenos surtos isolados e ocasionais, especialmente nos últimos anos. Mas por que o sarampo não tem o mesmo destino da paralisia infantil?

Porque se veiculou informações equivocadas de que poderia haver relação da vacina com casos de autismo. Dado que não foi comprovado.

A desinformação, notadamente depois da veiculação de fake news de possíveis efeitos adversos da vacina, pode ter contribuído para o surgimento do movimento antivacinação, sendo as crianças seu principal alvo?

Com certeza. Há uma ideia fantasiosa no imaginário coletivo de que criança ‘‘não apresenta doença grave’’ ou ‘‘não pode morrer’’, que isso seria coisa de adulto ou idoso. Muitas doenças graves apresentaram redução importante, outras até desapareceram do nosso meio com a vacinação em massa.

Quais riscos que as crianças correm se não forem imunizadas contra a Covid-19?

Ao não ser imunizada, a criança corre o risco de apresentar formas mais sintomáticas e até formas graves da Covid-19. Para dar um dado objetivo, estudo publicado pelo CDC \[Centros de Controle e Prevenção de Doenças\] dos EUA em agosto passado mostrou que adolescentes não vacinados apresentavam dez vezes mais chances de internação hospitalar. Outro estudo do CDC mostrou um risco maior nas crianças/adolescentes menores de 18 anos de desenvolver diabetes naqueles que tiveram infecção por Covid-19. No início da pandemia, os idosos e adultos com comorbidades superlotaram as UTIs e muitos morreram. Chegou a vacina e milhares de pessoas já tomaram a terceira dose.

O que se percebe agora é um rejuvenescimento da pandemia. Em 2021 muitos jovens contraíram a Covid-19 e agora são as crianças que ocupam leitos hospitalares, com quadros graves da doença. A vacina pode garantir, em um futuro, que o novo coronavírus perca a força?

Com certeza. As medidas de higiene (uso de máscara e higienização das mãos) são importantes, mas a vacina pode mudar o rumo da pandemia.

Muitos dos que se negam a imunizar os filhos justificam que o vírus é fraco nas crianças. Mas as estatísticas hospitalares mostram exatamente o contrário. Que riscos as crianças não imunizadas passam a correr com a retomada das aulas presenciais?

O risco está mais pelo aumento da circulação dessas crianças não protegidas por vários locais da cidade, aumentando sua exposição, pois as escolas, via de regra, apresentam protocolos muito bem estabelecidos e eficientes de proteção ao coronavírus, sendo lugares seguros.

Como médico, que orientação o senhor dá aos pais nesse momento em que muitas crianças estão contraindo a Covid-19?

Oriento que vacinem suas filhas e filhos com esquema vacinal completo naquelas crianças que têm idade para receber e mantenham os protocolos de higiene.


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