Daniel Melecchi, urologista:"90% dos diagnosticados precocemente com câncer de próstata são curados"

Daniel Melecchi, urologista:"90% dos diagnosticados precocemente com câncer de próstata são curados"

Taís Teixeira

Daniel Melecchi, doutor e chefe do Serviço de Urologia do Hospital Conceição

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O décimo primeiro mês do ano é o momento da campanha mundial Novembro Azul, que foca na importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. Cerca de 90% dos homens diagnosticados precocemente com câncer de próstata podem ser curados. Doutor e chefe do Serviço de Urologia do Hospital Conceição, Daniel Melecchi reforça a importância de fazer exames preventivos para evitar a evolução da doença, que é o segundo tipo de câncer que mais mata homens, ficando atrás do câncer de pele não melanoma. No entanto, Melecchi orienta que os exames, toque retal e antígeno prostático específico (PSA), devem ser feitos anualmente a partir de 50 anos para quem tem histórico familiar da doença e para determinados perfis de pacientes.

Qual a função da próstata?

A próstata é uma glândula situada na parte inferior da bexiga e logo à frente do reto, o que proporciona a sua inspeção durante o exame de toque retal. A função principal está correlacionada com a produção de secreções que fornecerão melhor vitalidade aos espermatozoides, ajudando na composição do sêmen.

O que causa o câncer?

A causa do câncer de próstata ainda é um fator em estudo. Hoje em dia existem fatores de risco correlacionados e que ajudam na prevenção e no diagnóstico precoce. Hereditariedade, ou seja, pessoas com familiares em primeiro grau com histórico de câncer de próstata, têm cerca de duas vezes mais chance de manifestar a doença. Além disso, pacientes afrodescendentes também apresentam mais chances de ter a doença, que ocorre de forma mais grave.

Existe algum perfil genético que seja mais suscetível ao desenvolvimento da doença?

Sim. Hoje já se sabe que determinadas alterações genéticas aumentam a chance de o paciente desenvolver a neoplasia maligna (tumor ou câncer) de próstata. Especificamente os pacientes com as mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 apresentam entre 10% a 20% no diagnóstico de câncer de próstata. Esses exames são importantes na avaliação de familiares, não só para o diagnóstico precoce, mas também para indicação da linha terapêutica em pacientes que apresentam a doença avançada.

Quais comorbidades favorecem o surgimento desse de câncer?

Estudos observacionais sugerem que sedentarismo e a obesidade estejam associados ao aumento da incidência, mas os achados são inconclusivos. O tabagismo talvez seja um dos fatores de risco mais importantes que está associado à gravidade e recorrência da doença.

Em que faixa etária é mais comum? A partir de que idade o exame é necessário?

O avanço da idade está intimamente relacionado ao aparecimento do câncer de próstata. A incidência é mais acentuada a partir dos 60 anos de idade. Pacientes com história de familiares em primeiro grau com câncer de próstata ou alteração genética, devem iniciar os exames anuais a partir dos 45 anos, em especial os afrodescendentes, que têm uma prevalência maior e mais grave, mas a causa disso ainda não se sabe. Os homens que não apresentarem essas características poderão aguardar para iniciar o exame a partir dos 50 anos.

Quais os exames que ajudam no diagnóstico precoce?

Habitualmente os exames iniciais realizados para a detecção precoce do câncer de próstata são o exame de toque retal e a dosagem do antígeno prostático específico no sangue (PSA). O ideal é fazer o PSA antes do toque. Os exames são complementares, ambos devem ser realizados. Cerca de 20% a 23% dos pacientes com câncer de próstata podem ter níveis de PSA normais e o exame de toque retal alterado. Os resultados dessa primeira avaliação direcionam a linha diagnóstica. Recentemente, a utilização de ressonância magnética de próstata previamente à realização da biópsia de próstata demonstrou ser um aliado importante no diagnóstico da doença.

Quais os sintomas que devem ser observados?

Isso é extremamente importante de salientar e reforça a necessidade de exames de rotina para a detecção precoce. Cerca de 90% dos pacientes diagnosticados precocemente com câncer de próstata podem ser curados. Interessantemente, a vasta maioria não apresenta sintomas correlacionados com a doença no momento do diagnóstico. Esperar ter sintomas para consultar com o especialista não é uma atitude correta, pois os sintomas relacionados ao câncer de próstata normalmente indicam uma doença mais avançada e com chances de cura consideravelmente menores.

Esse tipo de câncer é o que mais mata homens?

O câncer de próstata é o segundo mais comum nos homens, ficando atrás somente do câncer de pele não melanoma. São em torno de 65 mil novos casos por ano. Dados do Instituto Nacional do Câncer de 2019 demonstram que os tumores de pulmão e o de próstata elevam a mortalidade no país, com, aproximadamente, 16 mil mortes por ano para cada tipo de tumor.

Como está a incidência dos casos no Rio Grande do Sul e no Brasil? Existe uma mudança de padrão da doença nos últimos anos?

A partir da utilização do exame de PSA no fim da década de 1980, o número de diagnósticos de câncer de próstata cresceu expressivamente, assim como a detecção precoce tanto no Brasil quanto no RS, que vinha nos últimos anos em estabilização. A taxa estimada para diagnóstico no RS foi de 46,2 casos para 100 mil homens em 2020. O que nos preocupa realmente é o fato de dados recentes estarem demonstrando que no período da pandemia ocorreu redução forte (cerca de 20%) no número de consultas, solicitação de exames de PSA e biópsias. Talvez, infelizmente, tenhamos pacientes com diagnóstico de doença mais avançada nos próximos anos.

Como a campanha do Novembro Azul ajuda na conscientização?

Campanhas de conscientização da população são essenciais e fortes aliadas no atendimento e planejamento da saúde da população. A informação é fator primordial na evolução das práticas de atendimento médico. No Hospital Conceição, desenvolvemos no mês de novembro mutirões, em que foram realizados exames, biópsias e cirurgias em dois finais de semana e estamos elaborando protocolos para acelerar o processo diagnóstico desses pacientes. Em breve, teremos novidades nessa área.


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