Desafio de equilibrar

Desafio de equilibrar

Helena Hermany está no comando de Santa Cruz do Sul, tendo como desafio equilibrar a atenção social e o desenvolvimento econômico

Mauren Xavier

Helena Hermany está no comando de Santa Cruz do Sul, tendo como desafio equilibrar a atenção social e o desenvolvimento econômico.

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Ser uma mulher na política não é atividade fácil, ainda mais quando se trata de estar à frente do comando de uma cidade que está entre os maiores PIBs do Rio Grande do Sul. Após atuações como vereadora e vice-prefeita, desde 2021, Helena Hermany, 74 anos, está no comando de Santa Cruz do Sul, tendo como desafio equilibrar a atenção social, uma marca da sua atuação na política, e o desenvolvimento econômico. A fórmula até pode parecer simples, mas na prática os desafios são grandes. Uma das dificuldades, aponta a prefeita, é a ausência de projetos para garantir a aplicação dos recursos. A seguir, trechos da entrevista concedida ao Correio do Povo.

Se formos pensar nessas duas décadas, desde que a senhora se elegeu vereadora até agora, que está como prefeita, tem sido um período em que a participação feminina aumentou muito na política. Além disso, muitas vezes se atribui às mulheres apenas a questão social, como se fosse um limitador da capacidade. O que a senhora considera que foi o maior desafio por ser uma mulher na política?

Olha, acredito que o maior desafio é exatamente esse. Quando me candidatei para ser prefeita (em 2020) tive que romper esse paradigma de que a mulher só se envolve com o social. Para os empresários, ou para um determinado grupo de pessoas, pode surgir a dúvida de se realmente esta mulher conseguiria também tocar o município na área de desenvolvimento, do empreendimento, todo o contexto que envolve uma prefeitura. Então, eu acredito que esse foi o maior desafio. Sempre digo que temos aqui em Santa Cruz um problema bom que é dar conta de fazer com que nós tenhamos a mobilidade necessária para garantir que as pessoas venham para Santa Cruz. Por quê? Porque nos preocupamos em fazer uma legislação que atraia empresas para cá, que atraia investimentos e também não esquecendo de olhar para as empresas que estão aqui, porque isso já aconteceu de empresas irem embora porque não tinham apoio. Então acho que isso também é um grande desafio. 

Como pensar nessas questões ainda sob o impacto da pandemia? 

Durante a pandemia não perdemos nenhuma empresa e não tivemos um comércio que fechou e não perdemos empregos porque nós tivemos o cuidado de colocar bastante recursos à disposição, principalmente das pequenas empresas, aos músicos, ao setor do turismo, gastronomia. Então, a gente sempre se preocupou exatamente com as nossas pessoas e, claro, em trazer empreendimentos para cá. 

Esse foi parte do seu discurso de posse, unir o social e o econômico. 

Exatamente. É muito difícil você pensar no bem-estar social, se não pensar na questão econômica. E a questão econômica está também ligada ao social porque se a gente tem a oportunidade de emprego, a gente faz com que as pessoas consigam se emancipar, consigam tocar sua vida. Então, a preocupação econômica é uma atividade do bem-estar social.

Queria aproveitar exatamente essa questão de investimento. Porque muitas situações recaem na prefeitura, mesmo aquelas que são decididas, por exemplo, em Brasília, que é uma reclamação comum de que as coisas são decididas lá, sem a análise do devido impacto local. 

Às vezes a falta de proximidade faz com que as coisas fiquem totalmente desconectadas. Lembro uma lei que a patrocinava os municípios a desenvolverem atividades para qualificar pessoas. Então eles tinham posto naquela lei, que era do Pronatec, que só podiam ser pessoas do Bolsa Família, e vinham jovens que não tinham condições de ir para faculdade, mas que queriam ter uma qualificação. E aí não podia participar. Fui para Brasília e conversei com o coordenador do programa. Eu pude explicar a situação e eles mudaram o programa. Agora, todos os jovens carentes podem participar e aí o programa começou a deslanchar. Às vezes a pessoa que está em Brasília e monta uma lei não sabe como é a aplicabilidade dela no município e o impacto financeiro.

Ocorreu agora há pouco um movimento, liderado pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), que buscava exatamente alertar para essa situação.

Sim, inclusive agora tem uma lei que diz que não se pode dar atribuições ao município sem definir da onde vai sair o recurso. Porque é muito fácil montar programas e depois não conseguir dar conta. Município que tem desenvolvimento e uma boa arrecadação consegue dar conta dos programas sociais, mas têm muitos municípios com dificuldades muito grandes. Temos aqui empresas, por exemplo, a Sacyr, que vai trazer 2 mil empregos. Tenho problema muito bom que é ter que fazer investimentos em estrutura em mobilidade. Por isso nos candidatamos para captar recurso da Caixa Econômica Federal. Vamos assinar um documento porque já conseguimos R$ 100 milhões e os outros R$ 100 milhões sairão provavelmente até metade de agosto. 

Qual o destino desse investimento? 

Precisamos fazer obras em infraestrutura. Vamos fazer um grande anel viário para descongestionar o Centro da cidade em função do distrito industrial. Então quem trabalha no distrito industrial não vai precisar usar as ruas mais centrais, desafogando um pouco trânsito. Isso porque a nossa capacidade de mobilidade urbana está chegando a um patamar muito elevado. Aqui na cidade, de cada dez pessoas, oito têm automóvel. É uma média muito maior do que a do Estado. É possível pensar que é um bom sinal porque mostra que as pessoas têm condições. 

Quais são os desafios que a senhora entende que existem para concretizar esses investimentos?

No momento, Santa Cruz tem uma boa situação financeira, por isso estamos conseguindo captar recursos. Mas a nossa maior preocupação é a capacidade de conseguir fazer os projetos. Porque temos uma boa arrecadação e conseguimos captar esse recurso, mas os projetos são complexos, são muito minuciosos, são muito complicados. Então um grande desafio que temos atualmente é exatamente de profissionais que consigam fazer projetos e que consigam em um tempo mais curto entregá-los. Inclusive, a associação das empresas de Santa Cruz arrecadou recursos com os empresários que ficam nas proximidades da BR-471 para contratar o projeto da duplicação da rodovia. Depois disso ainda tem o problema da licitação. São os problemas mais burocráticos que enfrentamos.


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