Fernanda Weigert: "O bom-humor faz toda a diferença na luta contra o câncer"

Fernanda Weigert: "O bom-humor faz toda a diferença na luta contra o câncer"

André Malinoski

Fernanda Weigert, relações públicas e formanda em Psicologia, venceu o câncer de mama

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A relações públicas e formanda em Psicologia Fernanda Weigert, de 42 anos, esteve cara a cara com a morte depois de receber diagnóstico de câncer de mama em março de 2014. Os tumores descobertos nas axilas, durante um banho, estavam avançados e presentes nas duas mamas. Houve sessões de quimioterapia e a cirurgia. Em seguida, mais tratamento com químio e também radioterapia.

Em abril do ano seguinte, foi declarada curada. Além de enfrentar a enfermidade, a porto-alegrense precisou planejar a vida com a possibilidade de sua própria ausência. Para lidar com a doença, e sabendo que a impermanência estendia as mãos para ela, um importante aliado foi o bom humor. Para o Correio do Povo, ela, que é mãe de Tainá. compartilha sua história e deixa uma mensagem de esperança para as mulheres que passam pela mesma situação.

Como foi a sensação de descobrir a doença mesmo sem ter histórico familiar e sendo tão jovem?

Receber diagnóstico de câncer é igual para todo mundo. Independentemente da idade ou de outra coisa é o chão se abrir e tu achares que vai morrer. A primeira sensação é essa. Então, só com o tempo mesmo tu consegues assimilar as coisas. Cada um tem o seu tempo também. Não tive muito porque tudo aconteceu rápido. Descobri em um dia e, dois dias depois, iniciei a quimioterapia. Foi um turbilhão que nem consegui parar para pensar, na verdade. Só fui indo.

Como é estar de uma hora para outra de frente para a finitude?

Naquela ocasião foi bem difícil. Porque, como tu falaste, a gente não pensa sobre isso durante a vida toda. Pensamos que não vamos morrer nunca. Então, quando estamos de frente com a morte, começamos a nos questionar e repensar coisas que fizemos. E ressignificar também, porque tu vais ter um outro olhar sobre a vida e acerca da finitude. Com certeza o câncer me fez trabalhar tudo isso e ser uma pessoa que tem um olhar diferente para a morte.

Quais as atitudes que acredita terem sido mais relevantes para superar a doença?

O câncer não é opcional, mas o bom humor sim. Isso faz toda a diferença, tu teres uma inteligência emocional, buscar apoio nas pessoas que ama e tentar levar da forma mais leve possível. A gente falando parece que é fácil e tranquilo, mas não é. Precisamos respirar e seguir.

Se a senhora tivesse que definir em uma palavra aquele tempo e a luta para se manter viva qual seria?

Aprendizado. O câncer mudou minha vida de uma maneira positiva. Eu digo que o câncer não é um vilão como todo mundo pensa e enxerga. Ele te dá oportunidade de mudar de vida.

Além da medicina e dos avanços no tratamento ao câncer de mama, a fé foi importante nesse processo?

A fé e a espiritualidade são pilares do ser humano. Quando tu tens um diagnóstico desses, é preciso se agarrar no que acredita, seja qual for a religião. Mas é muito importante, sim.

Qual a principal lição que a senhora tira da experiência passada?

É viver o aqui e o agora. A gente está sempre vivendo numa ansiedade, pensando no amanhã, nunca estamos presentes no hoje. Então isso é muito importante e venho conseguindo fazer. Viver um dia de cada vez.

Como foi abordar um tema tão delicado como a morte com familiares e planejar o futuro com a possibilidade de não estar presente?

Essa parte me toca... (Fernanda se emociona). Já faz tanto tempo, mas esse momento foi muito difícil. Minha filha tinha sete anos. Recebi praticamente uma semana de vida, pois estava fazendo o tratamento e, de uma hora para outra, esse tratamento parou de funcionar. Tomamos um susto e precisamos trocar tudo, mudar protocolo e realmente a chance de morte era muito grande. Então tive de organizar tudo isso. Conversar com a minha filha, chamar o pai dela (Fernanda é separada) e ver com os meus amigos o que eu gostaria ou não. Não pensei muito que não estaria mais aqui. Pensei em fazer aquilo da melhor maneira que pudesse naquele momento.

Após tudo isso, o que mudou na sua vida? Qual o sonho que decidiu realizar depois dessa experiência?

Minha vida toda mudou. Troquei de profissão, fui fazer uma nova faculdade e realizei coisas que nunca imaginei que faria. Viajei para 15 países. Foram tantas coisas maravilhosas que aconteceram depois disso que não consigo enumerar. Com certeza a minha mudança interna e essas coisas que a gente vai empurrando com a barriga. Porque quando tu vês que não tem mais tempo, tens que ir lá e fazer.

Como fica a relação com o tempo? Ela não muda depois de uma experiência assim?

Eu brigava muito com o tempo. Então antes eu não fazia praticamente nada da vida, apenas trabalhava e ia para casa. Faço tanta coisa hoje, meus dias são muito cheios. Estou sempre produzindo e fazendo alguma coisa. Sempre achando tempo. Agora o tempo não me falta. Parece que meu dia tem 48 horas. Faço ele ser produtivo.

Qual a principal mensagem que deixa para as mulheres que enfrentam o câncer de mama neste momento?

Meninas, vocês não têm que passar por isso sozinhas. Normalmente as pessoas não querem conversar sobre isso e desejam se isolar. Sentem vergonha do corpo e de tudo. O câncer é muito estigmatizado, então, quando se fala nele, já é automaticamente como falar de morte. Busquem apoio familiar, psicológico e na equipe médica. E há muitos grupos que acolhem essas meninas, como o nosso, o Projeto Viver de Amor, e tantos outros. O principal é buscar apoio para não passar por isso sozinha.


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