Luísa Sobral: “O importante é que as pessoas tenham a música em suas vidas”

Luísa Sobral: “O importante é que as pessoas tenham a música em suas vidas”

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“Não sou fã de realities, pois são feitos para o público e não estão preocupados tanto com a qualidade e continuidade da carreira”. Foto: Isabel Pinto / Divulgação / CP


Por acreditar que “as pessoas não querem mais só assistir aos shows, mas buscam outras experiências”, nas palavras do próprio Carlos Branco, a Branco Produções e a Opus Promoções estão promovendo durante o ano três edições de festivais que harmonizam música e bebidas. Em junho, foi realizado o Tango y Vino e em outubro está previsto o Blues´N´Whiskey. Já nesta sexta, às 21h, no Teatro do Bourbon Country em Porto Alegre, ocorre o Jazz e Vinho Festival, que passará na quinta por São Paulo, no Teatro Bradesco. Os músicos confirmados para esta edição são o guitarrista britânico Femi Temowo, os saxofonistas canadenses da Shuffle Demons  e a cantora e compositora jazzista portuguesa Luísa Sobral.

Luísa vem pela primeira vez se apresentar no país. Uma das compositoras e cantoras mais importantes da nova geração de músicos portugueses tem 29 anos e já gravou quatro discos desde 2011, o mais recente é “Luísa” (2016), mas iniciou sua carreira em 2003, ficando em 3º lugar no Ídolos português e em 2009 concluiu sua Licenciatura em Música pela Berklee College of Music, nos Estados Unidos. Cantando predominantemente em português, inglês e francês, Luísa viu seu primeiro disco, “The Cherry on My Cake (2011) atingir a terceira posição nas paradas portuguesas na primeira semana de lançamento, em março, algo não tão comum para uma jazzista. Após atuar no programa Jools Holland, em 2012, a carreira deu um salto e as turnês pelos Estados Unidos e os continentes Europa, África e Ásia foram uma constante. Em “Luísa” foi gravado em Los Angeles, no mítico United Recording Studios, por onde já passaram nomes históricos como Frank Sinatra, Ray Charles, Ella Fitzgerald, Radiohead e U2. O sangue musical se estendeu ao irmão Salvador Sobral, que venceu o Festival Eurovisão de Canção 2017, com “Amar pelos Dois”, composta pela irmã jazzista. Entre as principais canções dos seus discos, estão "Not There Yet" e "Xico" (2011); “Mom Says” (2013), "My Man" e "Alone" (2016). Nesta entrevista ao Correio do Povo, Luísa Sobral fala sobre sua carreira, o jazz, a paixão pela música brasileira, influências (de Billie Holiday a Ella Fitzgerald), o lado enganoso dos concursos e realities musicais e sobre festivais que harmonizam música e bebidas.

Correio do Povo: Para quem ainda não te conhece ao vivo, como tu poderias definir Luísa Sobral?
Luísa Sobral: Eu sou uma mistura destas cantoras de jazz que vocês conhecem, com influências que vão desde Billie Holiday a Ella Fitzgerald, mas que acaba por fazer uma mistura com o folk americano e outros gêneros, com influências de Bob Dylan e Joni Mitchell. Nos shows em São Paulo e Porto Alegre, eu farei um apanhado dos meus quatro discos, priorizando as músicas cantadas em português.

CP: Sobre a harmonização entre jazz e vinho, que é o mote deste festival que irás ser uma das atrações, que opinião tens a respeito deste tipo de iniciativa?
Luísa Sobral: Desde que seja um casamento feliz, que não seja a música e o sadomasoquismo, por exemplo (risos), toda a iniciativa de harmonização é positiva. O vinho e certas bebidas estão ligados ao jazz. Existem muitos exemplos como o Blue Note e outras casas do gênero. É uma espécie de marketing aplicado à música. Não importa a maneira como as pessoas acessam a música ou se motivam a comparecerem aos shows. O importante é que as pessoas tenham a música em suas vidas.

CP: Você teve a primeira oportunidade na música com o reality Ídolos, em 2003. O que você acha deste tipo de programa?
Luísa Sobral: Eu tinha 16 anos quando participei do Ídolos. Definitivamente, a minha carreira não começou ali. Em Portugal, é raro alguém fazer sucesso após figurar ou vencer este tipo de programa. Não sou fã deste tipo de programa, pois eles são feitos para o público e não estão preocupados tanto com a qualidade e a continuidade da carreira. Fui convidada para ser jurada deste tipo de atração e sempre neguei. Quando fui para os Estados Unidos estudar música e lancei meu primeiro disco, que teve boa recepção de público e crítica, e fui convidada para os programas realmente preocupados com a música, como Jools Holland, aí é que a carreira começou a se firmar.

CP: No entanto, você voltou a ganhar destaque na Europa em 2017 com a autoria da música “Amar pelos Dois”, que venceu o Eurovisão de Canção, interpretada pelo seu irmão mais novo, Salvador Sobral.
Luísa Sobral: Nunca pensei em escrever uma música para um festival como este. A música não é para ser competitiva. Quando houve a seleção em Portugal para eleger a música que iria ao Festival Eurovisão, um jornalista e crítico musical, o Nuno Galopim, convidou amigos compositores e eu achei interessante. Assim, acabei compondo “Amar pelos Dois”, interpretada pelo meu irmão, e ganhamos, o que acabou divulgando Portugal no resto da Europa por algum tempo.

CP: O que te toca na música brasileira?
Luísa Sobral: Nós portugueses conhecemos muito mais a música brasileira do que vice-versa. A maior parte conhece os fadistas, como Carminho e Antonio Zambujo, mas grupos como The Gift e Xutos & Pontapés nem tanto. Por outro lado, somos apaixonados por música brasileira. Eu pessoalmente gosto muito de Marisa Monte, Chico Buarque, Caetano Veloso, Marcelo Camelo. Minha mãe era fã e tinha todos os discos da Maria Bethânia. Recentemente, fiz parceria com o violonista Tô Brandileone, no disco solo dele sem o 5 a Seco. Estou louca para ouvir o novo disco dos Tribalistas. No próximo ano, uma música minha será tema de novela brasileira. Estou bastante empolgada em tocar no Brasil pela primeira vez.

por Luiz Gonzaga Lopes

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