Mariza: "Sou intérprete que canta o que me representa"

Mariza: "Sou intérprete que canta o que me representa"

Em conversa, cantora portuguesa revelou estar curiosa como Porto Alegre irá recebê-la para seu primeiro show

Luciana Vicente

Mariza faz show em Porto Alegre nesta quarta-feira

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A cantora portuguesa Mariza se apresenta pela primeira vez em Porto Alegre, nesta quarta, 21h, no Teatro do Bourbon Country, encerrando sua turnê no Brasil, após passar pelo Rio, Belo Horizonte e São Paulo. Com carreira internacional consolidada e chamada de embaixadora contemporânea da música portuguesa, ela traz o show de seu álbum “Mariza”, considerado pela revista britânica Songlines um dos dez melhores de 2018 e liderado pela canção “Quem me Dera”, com clipe que contabiliza 17 milhões de visualizações no YouTube.

Também são destaques do disco, a gravação “Semente Viva” (Flávio Gil/Mário Pacheco), com participação do maestro e arranjador brasileiro Jaques Morelenbaum; a regravação da clássica “Trigueirinha” (António Vilar da Costa e Jorge Fernando), e a primeira letra de Mariza em “Oração”. Novas canções e sucessos anteriores integram o repertório do show. 

Aos 45 anos de idade e com quase 20 anos de carreira, sua discografia conta com sete álbuns de estúdio, além de compilações e DVDs. No ano passado, o álbum “Mariza” foi nomeado para o Grammy Latino. Recordistas de vendas em Portugal, ao longo da carreira, Mariza vendeu mais de um milhão de discos. O jornal britânico The Guardian considerou-a “uma diva da música do mundo”.

Admiradora da música brasileira, a ligação de Mariza com o Brasil começou muito cedo com a escolha de seu nome, dado pelo pai em homenagem à cantora carioca Marisa Gata Mansa. Ela chegou a morar na Bahia por seis meses, em 1996. Além disso, já se apresentou ao lado de Gilberto Gil e Ivan Lins. Em entrevista, Mariza disse que ouviu falar que Porto Alegre é uma cidade que valoriza muito a cultura e possui traços europeus, então está muito curiosa para perceber como é a cidade e como irá lhe receber. 

CP: O videoclipe de “Quem me dera” (Matias Damási) já ultrapassou a marca dos 17 milhões de views. Quando prepara um trabalho é possível prever quais canções devem ganhar o público?

Mariza: Não, eu não trabalho dessa maneira, deixo essa parte para quem edita os meus discos. Eu gravo o que gosto, canto o que gosto e, sobretudo, o que me representa. Depois, são os executivos que passam a escolher. Na minha forma de estar, fazer um disco é uma coisa muito egoísta, porque eu penso apenas no que me apetece cantar.

CP: O álbum traz sua estreia como letrista em “Oração”? Como foi a decisão de apresentá-la?

Mariza: Desde que eu que tomei consciência de que gosto de música e de poesia, passei a escrever, mas nunca achei que fosse boa o suficiente para mostrar a alguém. Por um equívoco, essa música foi parar nas mãos de um compositor. Quando eu cheguei ao estúdio me aparece essa música, já pronta, para eu cantar. Levei o maior susto da minha vida! Foi assim que ela entrou no disco.

CP: Seus discos sempre trazem o tradicional e o novo. Como se dá o processo de escolha das canções?

Mariza: Tal como na vida, a música acontece, acho que as escolhas não são feitas. Nesse disco, eu quis reunir amigos, alguns deles compositores que me acompanham há algum tempo. Creio que eles refletem o momento em que me encontro. Não conseguiria cantar nada que eu não sentisse. Nada melhor do que essa mistura para traduzir a fase em que eu estou, quem eu sou agora, o que quero expressar quando canto.

CP: “Semente Viva” contou com a participação de Jaques Morelenbaum. Como foi seu o reencontro nesse novo trabalho com ele?

Mariza: Eu sou uma grande fã do Jaques Morelenbaum. O maestro tem uma sonoridade única, uma verdade e um respeito para com a música. Aprendi muito com o maestro e ele fez um dos discos mais bonitos deste meu percurso que é “Transparente”, gravado no Rio. E como sou tão fã, poder tê-lo num dos temas do disco é para mim um privilégio.

CP: Quais são as canções que sempre precisa incluir nos shows. É o caso de “Chuva” e “Ó Gente da Minha Terra”?

Mariza: Sim, se eu não cantar essas duas, ficam chateados comigo. Acho que nenhum artista que tenha sucessos pode deixar de cantá-los, são temas para cantar até morrer. Isso acontece com inúmeros artistas. O tema “Quem me Dera” também vai ficar para o resto da minha vida. O show em Porto Alegre é o mesmo que estamos a fazer em vários teatros pelo mundo. Costumo dizer que é a banda sonora dos 20 anos de música que completo ano que vem.

CP: Como percebe o fato e de ser reconhecida como um fenômeno mundial e ser a embaixadora da música portuguesa?

Mariza: Eu sou uma intérprete que canta o que me representa. Ser embaixadora da música portuguesa para mim é um privilégio muito grande. Todas as vezes que canto, eu sei que represento Portugal e a língua portuguesa. Vou sempre sentir-me embaixadora, porque no fundo carrego a tradição de um povo, de um país.

CP: Dentre os músicos brasileiros, quais são suas preferências?

Mariza: Sempre tive um grande carinho pelo Brasil e pelos seus artistas em todos os seus quadrantes. Como nasci em África, África de expressão portuguesa, também vem de lá uma grande aproximação com artistas brasileiros. Tenho paixão por Elis Regina, adoro Clara Nunes, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Chico Buarque. 

CP: O amor é sempre um tema recorrente em tuas canções. Acreditas que o amor é um tema inesgotável?

Mariza: Toda a gente procura o amor, o ser humano procura sempre o amor nas suas várias vertentes. E o Fado sabe cantar o amor como ninguém. Atualmente, existem imensos cantores, compositores e músicos jovens, todos eles com a sua verdade e todos trazendo uma Lisboa mais moderna e um Portugal atual.


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